Economia

Mais uma rodada de revisões: bancos veem queda de até 3,5% no PIB de 2020

Instituições correm para atualizar cálculos em meio à deterioração econômica causada pela crise do coronavírus

Economia brasileira (Brian Snyder/Reuters)

Economia brasileira (Brian Snyder/Reuters)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 3 de abril de 2020 às 17h03.

Última atualização em 3 de abril de 2020 às 18h41.

O aumento no número de casos de Covid-19 no Brasil em meio à pandemia do novo coronavírus levou a uma nova onda de cortes nas previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020.

Com o fechamento do comércio não essencial e de outras atividades em quase todo o país, os bancos privados revisaram suas projeções. O Bank of America (Bofa), por exemplo, anunciou ontem que passou a ver contração de 3,5% no PIB de 2020.

O banco destaca que, entre os países da América Latina, o Brasil é um dos mais sensíveis ao preço das commodities (em queda há meses, acompanhando a retração forte na demanda global) e ao mercado chinês, maior parceiro comercial brasileiro. Essa previsão também incorpora o forte impacto no consumo e no investimento, em função da paralisação parcial das atividades no país.

O Bofa cita ainda que a falta de uma resposta política eficaz para controlar a propagação do vírus nos mercados desenvolvidos e em alguns mercados emergentes levou a instituição a reduzir sua previsão para o crescimento do PIB global em 2020 de 0,3% para uma queda de 2,7%.

"Essa deve ser uma recessão consideravelmente pior do que a de 2008/09. Tanto os formuladores de políticas quanto o público em muitas economias não aprenderam a lição da China: a política mais eficaz é um bloqueio rápido e rigoroso", diz o Bofa em relatório.

Nesta sexta-feira, 3, o banco UBS também divulgou uma revisão da expectativa para a economia brasileira em 2020, que foi de um crescimento de 0,5% para um recuo de 2%. "Um primeiro semestre ruim e uma recuperação possivelmente tímida nos levam à essa revisão", disse em relatório.

O UBS espera que o Brasil entre em recessão técnica já no segundo trimestre, por conta das restrições no varejo, após apresentar duas quedas seguidas no PIB trimestral, uma de 3,6% e outra de 20%.

Dados da atividade no início de março já apontam para esse resultado, diz o banco, que cita o tombo recorde dos serviços no período. A atividade no setor sofreu a maior queda desde o início da pesquisa, 13 anos atrás. O movimento é atribuído quase que exclusivamente ao fechamento de empresas e à redução da demanda do consumidor devido às medidas adotadas para contenção do coronavírus..

O UBS também cita as vendas de automóveis do mês que, até agora, já caíram 32% em relação a fevereiro.

"Por enquanto, ainda esperamos que o segundo semestre apresente números melhores, com alta de 17% no PIB no terceiro trimestre e de 5% nos últimos três meses do ano", diz o banco.

Mas o Brasil só deve voltar a alcançar o nível de atividade do quarto trimestre de 2019 em 2021, para quando o UBS espera um PIB 3% maior, ante alta de 4,9% prevista anteriormente.

"Este cenário pressupõe que as formas mais graves de distanciamento social comecem a terminar em maio. A a extensão além de maio provavelmente levará a um crescimento abaixo do previsto", diz em relatório.

Na semana passada, o secretário da Fazenda e Planejamento do estado de São Paulo, Henrique Meirelles falou à Exame que seus cálculos já apontam para a contração de 3% do Brasil no ano, mas com perspectiva de retomada no segundo semestre.

A pesquisa Focus do Banco Central, embora ainda não tenha chegado nesse patamar, também tem apontado para uma tendência de deterioração nas expectativas do mercado.

Na última segunda-feira, a previsão de queda do PIB ficou em 0,48% no ano, contra alta de 1,48% prevista na semana anterior. Para 2021, permanece a projeção de expansão de 2,5%.

No dia 20 de março, o governo brasileiro também anunciou um corte grande de expectativa para o PIB de 2020, que foi  de 2,1% para apenas 0,02%.

Santander e Itaú, que revisaram suas previsões vez pela última vezna semana retrasada, para alta de 1% e queda de 0,7%, respectivamente, disseram que essas revisões continuariam acontecendo ao longo das semanas em função das incertezas externas e domésticas, tanto políticas como econômicas. Santander prevê divulgar sua revisão na segunda-feira.

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