Economia

"Lobby" econômico pressiona por máximo acesso ao mercado europeu

Associações veem como prioridade que o sistema migratório após o Brexit seja aberto com os cidadãos do bloco

Brexit: May anunciou em janeiro que sua intenção é tirar o Reino Unido completamente da UE, inclusive do mercado único (Neil Hall/Reuters)

Brexit: May anunciou em janeiro que sua intenção é tirar o Reino Unido completamente da UE, inclusive do mercado único (Neil Hall/Reuters)

E

EFE

Publicado em 16 de março de 2017 às 14h45.

Londres - A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, iniciará a negociação com Bruxelas com grande pressão por parte de todos os setores econômicos para que consiga o máximo acesso sem tarifas ao mercado europeu e também à contratação de trabalhadores dos países da União Europeia (UE).

Tanto a poderosa patronal de empresários Confederação da Indústria Britânica (CBI) como a associação nacional das Câmaras de Comércio (BCC) veem como prioridade o reconhecimento do status dos europeus no Reino Unido e que o sistema migratório após o "Brexit" seja aberto com os cidadãos do bloco.

"Para nós, é o principal. Há muitos setores da economia britânica que dependem dos trabalhadores europeus, entre eles a agricultura, a hotelaria e a tecnologia", disse à Agência Efe a porta-voz de Assuntos Internacionais da BCC, Anastassia Beliakoba.

"Muitas empresas comentam que, sem acesso a essa força de trabalho de alta e baixa qualificação, simplesmente quebrariam", explica.

May anunciou em janeiro que sua intenção é tirar o Reino Unido completamente da UE, inclusive do mercado único e da união aduaneira, em resposta ao referendo de 23 de junho de 2016, no qual 52% dos britânicos pediram que o país saísse do bloco.

A CBI, que reúne 190 mil empresas, e a BCC, que representa 75 mil, querem que o governo consiga o melhor acordo de livre-comércio possível com a UE, "com nenhuma ou poucas tarifas", aponta Beliakoba.

Ambas as organizações ressaltam que é primordial definir o mais rápido possível quais serão as futuras exigências alfandegárias, para que as empresas possam se preparar, e insistem que o governo britânico deve negociar um acordo "para toda a economia", e não favorecer nenhum setor.

A longo prazo, acrescentam, as companhias querem "clareza" sobre os padrões de fabricação de seus produtos, para que possam continuar vendendo no mercado europeu.

O setor financeiro, concentrado no distrito de City of London, deseja um acordo que dê preferência para seus serviços, que constituem 12% do Produto Interno Bruto (PIB) britânico.

"Queremos enviar ao governo e aos 27 (Estados da UE) a mensagem que devem ver City of London como um ativo para toda a Europa, pois se trata um centro financeiro global à altura de Nova York e Cingapura, sem rivais no continente", disse à Agência Efe Jeremy Browne, enviado especial perante a UE da City of London Corporation, a prefeitura do distrito.

"É de interesse comum chegar a um acordo que permita que City of London continue servindo a economia europeia", explica Browne, que disse que qualquer atitude "vingativa" por parte de Bruxelas seria "prejudicial para ambas as partes".

Embora espere o melhor dos acordos, o setor financeiro já aceitou a ideia de perder os direitos de passaporte, que permitem às multinacionais financeiras operar em toda a UE sem ter que pedir licenças específicas.

Browne não acredita, no entanto, que a perda desses direitos vá provocar um êxodo das companhias com sede em Londres a outros países do continente.

"A maioria tem intenção de manter seu núcleo aqui e levar a outras cidades europeias só as operações registradas no mercado único", explicou Browne, para admitir que isto suporá a transferência de alguns empregos.

Os principais bancos se mantêm ambíguos sobre suas intenções, apesar de HSBC, o maior da Europa, e o suíço UBS indicarem que poderiam mudar algumas seções para Paris ou Frankfurt, enquanto os americanos como Goldman Sachs poderiam fazer o mesmo ou retornar a Nova York.

O maior temor para o setor empresarial e financeiro é que o Reino Unido conclua os dois anos de negociações sem acordo, o que implicaria passar a depender das normas burocráticas da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Segundo o presidente da CBI, Paul Dreschler, isto abriria "uma caixa de Pandora" de consequências econômicas e implicaria ter de pagar tarifas "em 90% das exportações à UE".

"Não haveria tempo para se adaptar às novas condições", aponta Beliakoba, enquanto Browne alerta sobre o caos que seria se "no primeiro dia após o 'Brexit' as empresas e governos europeus não soubessem se poderiam financiar sua dívida por falta de acesso a City of London".

A presidente da confederação sindical TUC, Frances O'Grady, também adverte sobre impacto no custo da vida caso o acesso ao mercado europeu seja fechado e pede ao Reino Unido paridade com a UE em "direitos dos trabalhadores, segurança para o consumidor e proteção do meio ambiente".

Acompanhe tudo sobre:BrexitComércio exteriorReino UnidoUnião Europeia

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor