Itaú: "O que atrapalha não é a gastança, mas sim a frustração de receitas", diz o economista-chefe (Vanderlei Almeida/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de agosto de 2017 às 17h56.
São Paulo - O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, considera inevitável a revisão para cima da meta que limita em R$ 139 bilhões o rombo nas contas públicas deste ano.
Ao fazer apresentação em congresso promovido na zona sul da capital paulista pela Fenabrave, entidade que representa as concessionárias de veículos, Mesquita disse que a pressão por reversão de parte do contingenciamento feito no Orçamento é grande.
Também citou riscos de frustração das receitas extraordinárias previstas pelo governo, principalmente dentro no programa de repactuação das dívidas tributárias, chamado de Refis.
"Acho que será inevitável aumentar a meta. O que atrapalha não é a gastança, mas sim a frustração de receitas", comentou o economista, que foi diretor de política econômica do Banco Central.
Nas contas do departamento econômico do Itaú Unibanco, se a economia brasileira crescer 2% no ano que vem, como prevê o mercado, o governo terá que buscar R$ 50 bilhões, seja em corte de gastos, seja em receita extra, para alcançar a meta fiscal estabelecida para 2018: um déficit das despesas primárias de R$ 129 bilhões.
A previsão do banco é mais otimista do que a média do mercado, com crescimento projetado em 2,7% para o ano que vem, o que reduziria o esforço fiscal para R$ 20 bilhões.
Mesquita avalia que o governo dificilmente conseguirá aprovar novos aumentos de impostos, após subir as alíquotas de PIS/Cofins nos combustíveis.
Ele considerou, durante o evento da Fenabrave, que os aumentos de impostos ventilados na imprensa podem ser uma forma de pressão vinda do Executivo para que as reformas passem no Congresso.
O economista fez uma apresentação na qual repetiu a previsão de crescimento de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, com desempenho mais consistente em 2018, no embalo da recuperação dos investimentos.
Segundo ele, as estatísticas não confirmam que os investimentos caem em anos de eleição.
"Isso depende muito do ano. Não dá para dizer que as empresas não investem por causa da eleição. Isso não está no dado."
O economista-chefe do Itaú destacou que o mercado de trabalho está reagindo mais rápido do que o previsto, o que, em conjunto com a queda tanto dos juros quanto do endividamento das famílias, abre uma melhor perspectiva à retomada do consumo, em especial de automóveis.
"O desemprego está parando de subir e essa é uma surpresa positiva. Achávamos que pararia de subir só no ano que vem e isso já está começando a acontecer", observou Mesquita.
Ele considerou ainda que, num cenário de juros mais baixos e queda da inadimplência, os bancos terão que conceder mais crédito para manterem suas taxas de retorno.