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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h33.
Brasília, 26 de março (Portal EXAME) O embaixador do Iraque no Brasil, Jarallah Alobaidy, afirmou na terça-feira (25/3) que seu país já conta mais de 300 mortos por causa da segunda Guerra do Golfo. A grande maioria é de civis , disse Alobaidy ao Portal EXAME. Ainda de acordo com o diplomata, os bombardeios fizeram mais de 500 feridos, também civis, na maioria. Ele afirma também que, entre as forças americanas e britânicas, haveria muito mais mortos e feridos que o divulgado, além de vários aviões e helicópteros abatidos, 15 tanques e 12 outros veículos destruídos.
As informações contradizem as apresentadas por Estados Unidos e Reino Unido. Segundo as forças em guerra com o Iraque, nenhum avião teria sido abatido, e o número total de tanques e outros veículos destruídos não passaria de 10. O número admitido de soldados americanos e britânicos mortos em toda a operação é de cerca de 40 grande parte, em acidentes, e não em combate.
Alobaidy recebeu o Portal EXAME em seu gabinete, sob uma foto do presidente Saddam Hussein. Como todo funcionário de confiança de seu governo, sustenta que o Iraque é uma democracia e que os Estados Unidos se surpreenderão com a resistência que encontrarão pela frente. Alobaidy afirma que a invasão é injustificável porque, na última década, o Iraque teria cumprido as determinações da ONU a fronteira com o Kwuait foi reconhecida, os curdos têm seu próprio parlamento, prisioneiros políticos teriam sido liberados e o país teria se livrado de armas de destruição em massa.
Alobaidy diz tudo isso sem desligar a TV, sintonizada no canal árabe Al Jazeera o diplomata está preocupado porque sua família é grande, espalhada pelo país, e tem filhos e netos em Badgá. Ele chegou ao Brasil há oito meses, depois de servir na Arábia Saudita. Antes, passou pela Hungria e pela Suíça. Além do cargo de embaixador, acumula o posto de conselheiro de negócios.
A guerra, diz Alobaidy, certamente empurrará o Iraque mais para baixo na escala do desenvolvimento social e econômico. Até 1990, o país tentava seguir planos econômicos e estratégicos de cinco anos de duração. Depois da destruição e do embargo que se seguiram à Guerra do Golfo, em 1991, qualquer planejamento de longo prazo tornou-se impossível. O Iraque é impedido pelo embargo de importar qualquer coisa que contribua com seu desenvolvimento , afirma Alobaidy. A nova guerra vai prejudicar o comércio entre nossos países .
Em termos de comércio, a guerra vem no pior momento possível, quando os negócios entre os dois países começavam a deslanchar novamente, depois de uma década perdida. O Brasil importou 328,6 milhões de dólares em petróleo do Iraque no ano passado e exportou 70,6 milhões, principalmente em açúcar e maquinário agrícola. Esse volume de negócios foi muito superior ao de 2001, mas ainda não voltou ao nível de antes da guerra. As vendas brasileiras ao Iraque somavam 110,5 milhões em 1990. Depois de cair a quase zero em 1991, com a guerra, elas foram minguando ao longo dos anos 90. Com o câmbio flutuante, continuaram caindo, de 14,3 milhões de dólares em 1999 para apenas 6 milhões em 2001. No ano passado, começou o que parecia ser uma forte recuperação ameaçada, agora, por causa da nova guerra.
A Embaixada comemorou a posição do governo brasileiro, abertamente contrário à guerra. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou-se a respeito em dois discursos nesta semana, um na Volkswagen, em São Bernardo (SP), o outro em recepção à rainha Beatrix, dos Países Baixos, no Palácio do Itamaraty.
Os Estados Unidos pediram a expulsão de diplomatas iraquianos a 56 países por meio de carta, afirma Alobaidy. A carta enviada a quase 60 países é uma tentativa de humilhação, de interferência na política de cada país , disse o diplomata. É bom lembrar que os embaixadores apresentam suas credenciais ao presidente de cada país .
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, confirmou na quinta-feira passada (20/3) que seu país estava fazendo os pedidos às nações amigas, por considerar que o atual regime iraquiano está perto do fim e que este seria o momento de romper relações diplomáticas com ele. O governo brasileiro afirma não ter recebido nenhum pedido oficial. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, limitou-se a informar, por meio de sua assessoria, que um pedido dessa natureza não merecia comentários.
A Jordânia expulsou os diplomatas iraquianos no domingo. Reino Unido e Austrália, que participam da guerra, já haviam feito isso. Segundo a diplomacia iraquiana, houve um racha entre os países que apóiam o ataque e a deposição de Saddam Hussein. A Itália atendeu ao pedido americano, enquanto Espanha e Portugal o refutaram. Os países que se opõem à guerra, como França, Rússia e Alemanha, criticaram o pedido.
O embaixador iraquiano lamenta, no entanto, que não haja um esforço maior para encerrar o conflito. Não há nenhum país fazendo um esforço especial para que a guerra termine , diz ele. Uma reunião de cúpula da comunidade árabe, realizada no Cairo na segunda-feira, decidiu apenas que ONU deveria intervir para encerrar o ataque.