Posto de combustível: apesar de queda em janeiro, preço dos combustíveis ainda acumula alta de 44% em 12 meses (Alexandre Battibugli/Exame)
Carolina Riveira
Publicado em 9 de fevereiro de 2022 às 09h03.
Última atualização em 9 de fevereiro de 2022 às 12h09.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal métrica da inflação brasileira, subiu 0,54% em janeiro, conforme divulgado nesta quarta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado ficou em linha com o consenso do mercado colhido pela Bloomberg, que apostava em alta mensal de 0,55%. Houve desaceleração em relação a dezembro, quando a variação mensal havia sido de 0,73%.
Ainda assim, a inflação de janeiro fechou como a maior desde 2016, ano em que o IPCA subiu 1,27% no mês, aponta o IBGE.
No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA também segue em dois dígitos, acumulando 10,38%. Em 2021, a alta em 12 meses foi de 10,06%, um dos piores resultados de inflação anual desde a criação do Plano Real.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para famílias mais pobres e que ganham até 5 salários mínimos, ficou acima do IPCA, em 0,67% em janeiro, também na maior variação para o mês desde 2016. O acumulado em 12 meses é de 10,60% no INPC.
Após altas puxadas sobretudo pelo preço dos combustíveis e da energia elétrica, a inflação passou a ter gradual desaceleração desde outubro do ano passado. Uma redução ampla no patamar do índice é esperada para este ano (da casa dos 10% para perto de 5% ou 6%).
Mas economistas já admitem que o processo pode ser mais lento do que o previsto, sem uma grande redução no primeiro semestre.
Uma das principais pressões para o ano segue vindo dos combustíveis, com o barril de petróleo do tipo Brent na casa dos US$ 90 no exterior e podendo chegar a US$ 100. O Congresso discute a chamada PEC dos Combustíveis, que incluiria uma desoneração de combustíveis e energia elétrica.
Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE tiveram alta em janeiro. Entre os destaques, a maior alta veio do grupo Artigos de Residência, com aumento no preço de eletrodomésticos e móveis. A alimentação também ficou mais cara.
Na outra ponta, o gás de botijão teve queda após 19 meses de alta, e combustíveis e energia elétrica também caíram no IPCA em janeiro.
Líder nas variações do mês, o grupo Artigos de Residência (alta de 1,82%) teve amplo aumento de preço em eletrodomésticos e equipamentos (2,86%), mobiliário (2,41%) e TV, som e informática (1,38%), em meio ao fim das promoções de fim de ano, uma tendência que já havia sido mostrada na prévia da inflação de janeiro.
Segundo que mais subiu e o que mais teve impacto no índice em janeiro, o grupo Alimentação e Bebidas passou de alta de 0,84% em dezembro para 1,11% no mês.
Completando a lista, o grupo Vestuário (1,07%) teve a terceira maior alta, com todos os itens subindo, liderados por roupas masculinas (1,64%) e calçados e acessórios (0,97%).
A queda no preço dos combustíveis e energia elétrica após sequências de alta no segundo semestre de 2021 foi boa notícia para o consumidor em janeiro, mas os preços acumulados seguem elevados.
Assim, o grupo Habitação subiu pouco (0,16%) no mês, puxado pela queda de 0,73% no preço do gás de botijão e de 1,07% na energia elétrica.
E o grupo Transportes foi o único com queda em janeiro (-0,11%) devido ao menor preço das das passagens aéreas (-18,35%) e dos combustíveis (-1,23%).
As projeções de inflação para o ano tem sido revisadas (para cima) a cada semana. A mediana dos analistas ouvidos pelo boletim Focus projeta IPCA anual em 5,44% no fim de 2022, segundo a edição divulgada nesta segunda-feira, 7. No fim do ano passado, a aposta era de 5,03%.
Assim, o IPCA deve fechar 2022 novamente acima do teto da meta do Banco Central, que é de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto (ou seja, entre 2% e 5%).
O Banco Central tem promovido sucessivos aumentos na taxa de juros como uma das tentativas de conter a inflação. No último dia 2 de fevereiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros, a Selic, em 1,5 ponto percentual, chegando a 10,75%.
A mediana das projeções dos analistas ouvidos no boletim Focus é de que aconteçam novas altas nos próximos meses, e que o ano termine com Selic em 11,75%. Uma série de bancos e casas de análise já começa a projetar Selic ainda maior, acima de 12%. O Brasil deve terminar o ano com o maior juro "real" do mundo, segundo mostrou a EXAME.
A alta de juros, por outro lado, deve ter impacto forte na atividade econômica, e a estimativa é que o Brasil termine o ano com o produto interno bruto (PIB) crescendo 0,3%.
Com parte das pressões inflacionárias vindo não somente da demanda (frente atacada pela alta de juros), mas da oferta, o Brasil corre o risco de seguir tendo inflação alta mesmo em meio a juros elevados, estagnação da economia e desemprego alto.