IPC: projeção da Fipe foi de 1,01% em junho (Reinaldo Canato/VEJA)
Estadão Conteúdo
Publicado em 3 de julho de 2018 às 17h49.
São Paulo - Os preços administrados devem impedir que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) tenha maior alívio em julho, conforme o gerente técnico de pesquisa Moacir Yabiku.
Segundo ele, a exemplo do que já sinalizaram alguns itens no fechamento de junho, este mês deve ser beneficiado pela normalização do choque desfavorável causado principalmente na oferta de alimentos e combustíveis devido à greve dos caminhoneiros.
A projeção da Fipe para o IPC deste mês é de 0,42% (depois de 1,01% em junho) dos quais 0,30 ponto porcentual serão efeito de altas previstas para água, que deve ir de 0,22% para 2,25%, e energia, que deve aumentar de 1,99% para 7,41%, no período.
Isso porque a Sabesp teve reajuste autorizado de 3,507% válido a partir de 10 de junho, enquanto a Eletropaulo terá aumento de 15,84% a partir do dia 4 de julho, conforme anunciado nesta terça-feira.
Inclusive, a Fipe alterou a previsão deste mês de 0,36% para 0,42% depois do anúncio da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Segundo os cálculos da instituição, o impacto do reajuste sobre o índice será de 0,43 ponto, divididos entre julho e agosto.
Além disso, no sétimo mês, a conta de luz deve ficar pressionada em função da adoção em junho da bandeira vermelha 2. Todos esses aumentos administrados só são captados pela Fipe quando a fatura chega na residência do consumidor, por isso o efeito não é imediato.
Assim, Habitação deve subir de 0,14% no fechamento do sexto mês para 1,03% no fim deste mês, conforme estimativa da Fipe, que, se confirmada, será a maior taxa para o grupo em julho desde 2015 (1,33%).
Por outro lado, Alimentação e Transportes que renovaram recordes históricos em junho devem mostrar boa desaceleração neste mês, devolvendo parte da alta provocada pela greve dos caminhoneiros, assim como no IPC (1,01%), que atingiu o maior resultado desde janeiro de 2016 (1,37%) e para o mês desde 1997 (1,47%). Em março, o indicador subira 0,41%.
Alimentação teve a maior taxa desde maio de 2008 (3,17%) ao avançar de 0,62% no quinto mês para 3,14% em junho. Para o sexto mês, só foi menor que a variação apurada em 1994 (53,69%). Já Transportes subiu de 0,59% para 1,01%, o maior patamar para junho desde 2004 (2,09%). O Índice de Difusão aumentou de 55,51% para 61,34%.
Mas os dois grupos já apresentaram alívio ante a terceira quadrissemana do mês passado, quando registraram aumento de 3,26% e 1,58%, respectivamente. Em julho, devem seguir desacelerando, Alimentação, para 0,33% e Transportes, para 0,02%, nesta ordem.
No caso dos alimentos, a desaceleração foi liderada pela queda em produtos in natura (3,81% para -1,28%). A batata, por exemplo, que chegou a subir 36,82% na segunda quadrissemana, terminou o mês em 5,25% (de 31,84%) e deve cair nas próximas divulgações conforme indica a ponta (pesquisas mais recentes), que está negativa em 32%.
Segundo Yabiku, esses produtos foram os primeiros a sentir os efeitos do choque de oferta provocado pelo bloqueio das estradas, seguido dos semielaborados, como as carnes, e os industrializados, que só agora começam a captar esse impacto.
Dentro dos semielaborados (7,99% para 9,93%), o frango (16,45% para 20,30%), uma das cadeias mais afetadas pela greve, já indica normalização à frente, conforme a ponta mais baixa, de 20,19%. "Já há sinais de que vai haver uma normalização. Essa é a boa notícia", diz Yabiku.
Já o leite longa vida passou de 15,18% para 19,28%, mas ainda deve continuar acelerando, já que as pesquisas mais recentes apontam alta de 20,38%, já que além do efeito da greve há também uma produção menor este ano.
Em Transportes, a gasolina desacelerou de 7,57% para 4,32% da terceira para quarta quadrissemana de junho, enquanto o arrefecimento em etanol foi de 6,02% para 5,25%. As pontas indicam quedas de 3,54% e 0,80%, respectivamente.
Por isso, a relação entre os preços de preços entre etanol e gasolina subiu de 63,74% para 64,02%. Entre maio e junho, houve redução de 64,49% para 64,21%.
Mesmo com os efeitos da greve dos caminhoneiros e considerando impactos pontuais da desvalorização cambial, a Fipe decidiu manter a projeção para 2018 em 3,15%. "Antes, esperávamos rever para baixo essa projeção, mas agora os níveis serão um pouco mais altos no segundo semestre. Então é prudente manter 3,15%."