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Lam-Frendo, do G20: infraestrutura é a aposta do mundo no pós-crise

Em entrevista à EXAME, Marie Lam-Frendo, do hub de infraestrutura do G20, aponta que os investimentos no setor serão cruciais para o pós-pandemia. Mas não podem mais ser feitos como no passado

Maria Lam-Frendo, do hub de infraestrutura do G20: países em desenvolvimento podem aproveitar abundância de capital ESG (GIHUB/Divulgação)
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Carolina Riveira

Publicado em 18 de julho de 2021 às 08h00.

O lema no Global Infrastructure Hub, entidade do G20 dedicada a monitorar projetos e auxiliar governos em frentes de infraestrutura, é construir uma agenda que seja "sustentável, resiliente e inclusiva".

Mais do que um horizonte distante, essas precisam ser as palavras mágicas para os governos no século 21. É o que aponta Marie Lam-Frendo, CEO da organização, que falou à EXAME logo após a reunião dos ministros das Finanças do G20 neste mês.

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Dos EUA à Europa ou à América Latina, países voltam a apostar na infraestrutura como remédio para o pós-pandemia. Mas o mundo mudou desde o New Deal dos anos 1930, e simplesmente construir pontes e gerar empregos de baixa qualificação pode não ser mais suficiente: encontrar um modelo econômico mais sustentável e reduzir desigualdades serão pontos chave na "nova infraestrutura" global.

"Os países estão abraçando uma recuperação transformacional", diz Lam-Frendo.

Veja abaixo os principais trechos da entrevista, concedida por e-mail — e leia a reportagem completa "Correndo para tirar o atraso" , sobre infraestrutura no pós-covid, publicada na edição deste mês da EXAME.

Maria Lam-Frendo, do hub de infraestrutura do G20: países em desenvolvimento podem aproveitar abundância de capital ESG (GIHUB/Divulgação)

Historicamente, a infraestrutura já foi encarada como um caminho de saída para diferentes crises — podemos lembrar da crise de 1929 ou mesmo do Plano Marshall na Europa pós-guerra. Os governos estão buscando a mesma estratégia agora?

A infraestrutura é central para a recuperação de crises uma vez que, em primeiro lugar, impulsiona a produtividade no curto prazo e, depois, também traz um ganho econômico de médio e longo prazo. Nesta crise, não poderia ser diferente: a infraestrutura é parte do plano de recuperação ao redor do globo e nós estamos trabalhando no âmbito do G20 para rastrear esses planos — por exemplo, o pacote bipartidário de 1,2 trilhão de dólares que foi aprovado pelo governo dos EUA.

Por outro lado, na última crise global, em 2008, a infraestrutura no pós-crise parece ter sido menos discutida do que dessa vez, ao menos em boa parte dos países. Qual é a diferença agora?

Pela primeira vez em um século, os governos estão tendo que responder a uma crise global de saúde que tem consequências econômicas diretas. Os governos estão conscientes de que o que estamos vivendo não é o mesmo que na crise financeira global de 2008 ou em outras crises passadas, então a resposta também não é a mesma.

A diferença fundamental dessa crise é que os países desenvolvidos estão abraçando uma recuperação transformacional.

Os governos veem a infraestrutura como elemento central da recuperação pós-covid no que diz respeito ao crescimento, mas também para alcançar objetivos que os países já haviam estabelecido através dos vários fóruns multilaterais nos últimos anos, como o Acordo de Paris.

A discussão até agora parece estar centrada nas economias avançadas — especialmente os EUA no governo Biden. Como a senhora enxerga países de renda média e baixa lidando com os investimentos em infraestrutura?

Vejo duas oportunidades para países de renda média e baixa. Primeiro, o benefício imediato para suas populações devido à forte relação entre infraestrutura e produtividade, além dos benefícios de longo-prazo para a economia.

E em segundo lugar, países em desenvolvimento podem pular direto para um desenvolvimento de infraestrutura inclusivo, resiliente e sustentável se aproveitarem a demanda do mercado, que tem um crescente leque de capital disponível com foco em ESG [sigla para meio-ambiente, social e governança].

Usina solar no interior de São Paulo: infraestrutura precisa ter como foco transição para modelos mais sustentáveis (Jonne Roriz/Bloomberg/Getty Images)

Países que não investirem agora podem ficar para trás?

Como discutido na reunião dos ministros das finanças do G20 neste mês, a recuperação está sendo mais lenta nos países em desenvolvimento, então há um argumento real para impulsionar planos transformacionais de infraestrutura nesses países, e assim evitar aprofundar uma recuperação desigual.

Mas os países também não podem esperar para que instituições multilaterais ou financeiras os ajudem a resolver esses problemas. É importante para estes países possuir uma visão de infraestrutura e entregar resultados com base nela. Um exemplo de país fazendo isso é o próprio Brasil, que criou uma estratégia ambiciosa para atrair mais investimento privado em infraestrutura. Entre algumas medidas estão a abertura de um hub de infraestrutura e algumas abordagens inovadoras para mitigar os riscos de câmbio nos contratos de concessão.

Alguns países emergentes já vêm de um processo de desindustrialização, e mal atingiram a infraestrutura atual de economias avançadas, muito menos as modernizações nas quais países como China e EUA estão despejando dinheiro. Como fazer isso em meio à crise e com dívida pública galopante?

No que diz respeito a atrair investimentos de infraestrutura, os países em desenvolvimento precisam ter a governança adequada para garantir que a visão para o país e para seus cidadãos se traduza em um planejamento de infraestrutura correto. Devem ainda pensar em formas de reduzir o risco em seus projetos, trabalhando para, por exemplo, melhorar sua nota de crédito, a facilidade para fazer negócios e com instrumentos focalizados de mitigação dos riscos.

Temos no G20, por exemplo, a ferramenta InfraCompass, desenhada para ajudar os países a entender onde estão performando bem e onde podem melhorar, e governos e especialistas devem fazer esse tipo de análise.

É também importante que os governos mostrem que podem possuir, desenvolver e implementar projetos de forma bem sucedida, já que a infraestrutura continuará amplamente sob controle governamental e não pode só depender de investimentos privados. Isso dará um sinal forte e positivo ao setor privado de que os governos estão dispostos e são capazes de criar as capacidades corretas em suas instituições de modo a permitir que esses projetos sejam desenvolvidos e implementados. Alguns mecanismos possíveis para centralizar esses processos é a criação de agências de infraestrutura dedicadas, que possam atuar junto a todos os departamentos importantes, e também bancos de infraestrutura.

Falta de saneamento básico: infraestrutura moderna deve ser pensada para reduzir desigualdades (Germano Lüders/Exame)

E quais deveriam ser as prioridades na hora de planejar os investimentos pós-covid?

Sustentabilidade, resiliência e inclusão estão se tornando demandas do mercado, então desenvolver ativamente projetos nessas frentes têm um efeito positivo duplo — os países são capazes de ajudar em sua visão de longo prazo, ao mesmo tempo em que atendem às demandas do mercado.

Sustentabilidade é algo que nós compartilhamos globalmente e é importante agir de forma coletiva. Mas no que diz respeito a uma infraestrutura que seja inclusiva e resiliente, isso é algo que cada país deve a seus cidadãos, uma vez que há um benefício direto para a comunidade.

Frentes como conectividade e redução de desigualdades são exemplos?

Ao planejar infraestrutura para o pós-covid, os países devem ter uma visão no qual a infraestrutura possa agir como facilitadora. É importante trabalhar de cima para baixo para garantir que a infraestrutura seja bem planejada e financiada. E, além disso, a infraestrutura só vai entregar seu valor se for mantida de fora dos ciclos políticos. Um exemplo disso é o plano de desenvolvimento da Árabia Saudita, o Saudia Arabia's Vision 2030.

Esta reportagem faz parte do especial "Correndo para Tirar o Atraso", publicada na edição deste mês da EXAME. Leia aqui a reportagem completa.

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