Internet banking e apps reduzem efeito de greve nos bancos
Uso de tecnologias bancárias tirou forças da greve dos trabalhadores, que já se estende por 18 dias sem sinal de acordo
Da Redação
Publicado em 24 de setembro de 2016 às 11h45.
A greve dos bancários caminha para ser uma das mais extensas da história do sistema financeiro. Os bancos estão mais duros na negociação, prevendo que os lucros tendem a encolher pela primeira vez em décadas, reflexo da crise que elevou os calotes e exigiu aumentos nas provisões para devedores duvidosos.
O impacto da paralisação nos resultados, porém, é cada vez menor, por causa da digitalização das transações, via computadores e do celulares.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) destacou, em nota ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que o uso de canais alternativos às agências bancárias para fazer operações, especialmente os meios eletrônicos, têm sido eficazes para minimizar os efeitos da greve.
Juntos, os chamados internet banking, pelo computador, e mobile banking, via celulares e tablets, respondem por mais da metade das transações bancárias (54%).
"O internet banking foi o canal responsável pelo maior número de transações em 2015, com 33% do total, o equivalente a 17,7 bilhões de operações bancárias. As contas com internet banking saltaram de 56 milhões, em 2014, para 62 milhões no ano passado", diz a Febraban.
O executivo de um grande banco, que não quer ser identifico, confirma que a tecnologia alivia cada vez mais o impacto da greve.
"Essa greve gerou menos impacto por conta da utilização de canais digitais, que está muito forte. Depósito em cheque basicamente acabou. Todo mundo hoje tem um smartphone e a utilização dos canais digitais tem crescido geometricamente em todos os bancos."
No ano passado, as transações bancárias pelo mobile banking cresceram 138% ante 2014, totalizando 11,2 bilhões de operações, segundo a Febraban.
Conseguiu, com isso, ser o segundo canal mais usado, atrás apenas do internet banking. Em algumas instituições, conforme fontes, o mobile já galgou a liderança nos meios utilizados para transações bancárias.
Após cinco rodadas de negociações e sem consenso entre bancários e banqueiros, a paralisação completou 18 dias ontem. Na próxima segunda-feira, passará a ter a mesma duração da mobilização no ano passado, de 21 dias.
Pode se tonar a mais longa dos últimos anos, superando a de 2013, quando os trabalhadores do sistema cruzaram os braços por 24 dias, segundo contabilizou o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT).
O sindicato estima a participação de 60 mil trabalhadores. No total, 16 centros administrativos e 780 agências foram fechadas ontem. Apesar do eventual recorde, os bancos, conforme fontes, tendem a não oferecer um reajuste maior do que o concedido em 2015.
No ano passado, a categoria reivindicou 16%, mas o reajuste ficou em 10%, com correção de 14% no vale-refeição e alimentação.
Neste ano, a diferença está ainda maior. Os bancos oferecem 7% (o que leva a 2,39% de perda salarial) e um abono de R$ 3,3 mil. Os bancários pedem o dobro, aumento de 14,78% (ganho real de 5%, considerando a inflação).
A contraproposta, porém, foi rejeitada e nas duas últimas reuniões realizadas, nos dias 13 e 15 de setembro, não houve mudanças.
"Claramente, os bancos estão mais duros este ano e a diferença entre os pedidos é alta. O sindicato vai ter de ceder, mas a categoria vai testar ao máximo", avalia um analista que acompanha o setor bancário.
Do lado dos bancos, não há a expectativa de que o acordo salarial eleve os custos. Na avaliação de um executivo, ainda que o aumento fique acima do orçado pelas instituições, será possível compensar com corte de custos, o que inclui até corte de funcionários.
Os bancos têm sido rigorosas no controle de gastos. O Bradesco revisou para baixo a sua projeção de despesas operacionais - de 4,5% a 8,5% passou para o intervalo de 4% a 8%.
O Itaú Unibanco também refez seus cálculos. As despesas não decorrentes de juros da instituição devem crescer de 2,0% a 5,0% em 2016.