Inflação já atinge economias em algumas partes do mundo
No Brasil, alta dos preços atingiu 5,2% em fevereiro, quase o dobro do nível seis meses antes, e já leva autoridades monetárias a mudar de rumo
Fabiane Stefano
Publicado em 13 de março de 2021 às 07h00.
A grande questão nos mercados financeiros é se a recuperação pós-pandemia vai trazer uma onda de inflação. Em alguns segmentos da economia mundial, a alta dos preços já chegou. Em commodities como soja ou cobre, setores como transporte marítimo e países como o Brasil, os preços têm subido rapidamente - por motivos diretamente ligados aos problemas causados pela Covid-19, à resposta de políticas ou ao aumento da demanda trazida pela esperança de recuperação. Nada disso é suficiente para resolver o grande debate sobre a inflação de uma forma ou de outra.
Defensores da austeridade fiscal dizem que os bolsões de inflação hoje se transformarão em aumentos generalizados de preços amanh ã, com os estímulos fornecendo combustível. Os céticos veem os aumentos de preços impulsionados em grande parte por fatores temporários ou gargalos - e apontam que alarmes semelhantes soaram após o crash de 2008, mas a inflação nunca apareceu.
Metais
Os esforços dos governos para tirar as economias da crise causada pela pandemia envolveram gastos em projetos de infraestrutura e apoio financeiro para famílias que gastaram parte do dinheiro em equipamentos eletrônicos. Ambos têm contribuindo para a crescente demanda por metais, que empurra os preços cada vez mais para cima.
O cobre sobe há quase um ano, um rali que se acelerou em fevereiro, antes de perder força neste mês. Minério de ferro e níquel também atingiram recordes, e o preço do aço mais do que dobrou nos últimos seis meses.
O aumento dos metais é a “vingança da velha economia” - com o impulso do estímulo da pandemia para a compra de bens de consumo duráveis - e também mostra a demanda por iniciativas verdes da nova economia, com cerca de US$ 16 trilhões em investimentos planejados para a próxima década, disse Jeff Currie, chefe global de pesquisa de commodities do Goldman Sachs, em entrevista à Bloomberg Television.
Semicondutores
Semicondutoressão um componente-chave de muitos itens em demanda durante o ano de lockdowns e trabalho em casa, de laptops e televisores a webcams. Os preços de algumas variedades, como chips de memória, subiram este ano.
O aumento da demanda resultou em uma crise de oferta que foi exacerbada pela geopolítica. Os players dominantes na indústria de US$ 400 bilhões são Taiwan e Coreia do Sul. Suas exportações são cada vez mais capturadas pelofogo cruzado EUA-China, e as sanções aos produtores chineses aumentam os preços globais.
Alimentos
A recuperação pós-pandemia é um dos fatores que puxam o aumento dos preços dos alimentos no mundo todo. Nos EUA, os preços dascoxas de frangosobem à medida que grandes pedidos de restaurantes são retomados. A recuperação doméstica da China impulsiona maior demanda por soja, cujos preços aumentaram mais de 60% no último ano.
Os custos dos alimentos são especialmente importantes para autoridades monetárias nos mercados emergentes, onde representam uma parcela desproporcionalmente maior dos gastos e mais famílias correm o risco de passar fome. Nas Filipinas, onde os custos dos alimentos empurraram a inflação paraperto de5%, o governo impôs limites de preços.
Energia
Além da demanda mais forte em uma recuperação que provavelmente levará a mais viagens, o petróleo também foi atingido por um aperto na oferta após a decisão da Opep+ de limitar a produção. Com isso, o petróleo encostou emUS$ 70 o barrilpela primeira vez em quase dois anos.
Os custos mais altos dos combustíveis afetam motoristas em todos os lugares e atingem quase todos os setores da economia. No Brasil e no México, por exemplo, o custo do gás de cozinha usado por famílias mais pobres - as mais ricas têm maior probabilidade de usar a rede de gás natural - aumentou este ano.
Brasil
A inflação atingiu 5,2% em fevereiro, quase o dobro do nível seis meses antes e já leva autoridades monetárias a mudar de rumo.
O país gastou mais no alívio da pandemia do que quase todas as outras economias emergentes - rivalizando com os EUA ao atingir um déficit fiscal de quase 14% do PIB no ano passado. Todos esses gastos enfraqueceram o real e alimentaram temores de inflação. Há apenas algumas semanas, o Banco Central falava em manter a Selic em 2% por mais tempo. Agora, a expectativa é de aumento da taxa básica na próxima semana.