Economia

Inflação em junho pode bater 6,5% em 12 meses

Projeção de crescimento do PIB em 2013 do Banco Central (BC), de 3,3% até terceiro trimestre, está exagerada, apesar da melhora esperada para este ano


	Dinheiro: Santos espera uma recuperação gradual da economia brasileira, que deve ter fechado 2012 com crescimento perto de 1%, sendo 0,9% no quarto trimestre
 (Marcos Santos/usp imagens)

Dinheiro: Santos espera uma recuperação gradual da economia brasileira, que deve ter fechado 2012 com crescimento perto de 1%, sendo 0,9% no quarto trimestre (Marcos Santos/usp imagens)

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Da Redação

Publicado em 14 de janeiro de 2013 às 15h38.

São Paulo - A projeção de crescimento do PIB em 2013 do Banco Central (BC), de 3,3% até o terceiro trimestre, está exagerada, apesar da melhora esperada para este ano nos cenários interno e externo, avalia Fernando Genta dos Santos, economista-chefe da MCM Consultores. A consultoria trabalha com um crescimento de 3,3% para o ano todo.

Santos espera uma recuperação gradual da economia brasileira, que deve ter fechado 2012 com crescimento perto de 1%, sendo 0,9% no quarto trimestre. Com isso, para atingir o número de 3,3% no terceiro trimestre de 2013, como espera o BC em seu relatório de inflação, a economia teria de crescer, a cada trimestre, 1,25% sobre o trimestre anterior, o que ele considera um cenário muito otimista.

O economista vê o consumo continuando a puxar o crescimento deste ano, mas não vê nenhum fator novo que possa melhorar acentuadamente o investimento dos empresários, um dos pontos fracos do país no ano passado. “O que vamos ter é a Petrobras com mais dinheiro para investir depois do reajuste dos combustíveis e alguns novos leilões de concessões”, afirma. Mais para o segundo semestre, haverá também o início do ciclo político para a eleição presidencial de 2014, que normalmente acelera os gastos públicos. A contrapartida, porém, será a pressão de alta da inflação no fim do ano, diz.

Falando em inflação, Santos observa que, apesar de ela ter ficado dentro da meta em 2012, em 5,84%, e das projeções para 2013 continuarem abaixo do teto de 6,5%, o IPCA completará provavelmente mais um ano acima do centro, de 4,5%. E o relatório de inflação do próprio BC indica que ela continuará acima também em 2014. “Isso mostra um conforto com a inflação acima de 5% ao ano”, diz.

Santos alerta que as projeções de inflação para este ano podem estar subestimadas, pois não consideram o choque do aumento da gasolina, que pode surpreender. A MCM trabalha com um IPCA subindo 5,8% este ano. “Isso por causa da redução do preço da energia elétrica, se não, ficaria mais perto de 6%”, diz.

O economista estima um reajuste da gasolina de 8% na bomba para o consumidor no começo deste ano. Com isso, o IPCA acumulado em 12 meses pode bater o teto da meta do BC, de 6,5%, em junho, começando a recuar depois. Junho deve ser, porém, o pico da inflação. Depois, o IPCA deve começar a subir menos, pelo efeito da base de comparação mais alta no ano passado, por conta do choque dos preços das commodities no segundo semestre. “E aí a inflação em 12 meses arrefece”, diz.


No dólar, o economista espera menor pressão e confusão este ano. Santos observa que, no fim de 2012, o BC deixou o dólar subir até R$ 2,10 e depois soltou um estudo que subestimava o efeito da alta do câmbio nos preços. Mas depois, com a alta da inflação, houve uma mudança de atitude, e até diretores do BC admitiram que a desvalorização do real puxaria o IPCA.

Ganhou força também a tese dos economistas Edmar Bacha e Regis Bonelli, da FGV, de que o dólar alto encarece o investimento produtivo, o que seria um tiro no pé para o governo, que tanto tentou estimular os empresários a investir, lembra Santos. “Eles chamaram a atenção para o fato que, do consumo de máquinas e equipamentos do Brasil, 40% são importados, por isso o câmbio tem impacto direto no investimento.”

Foi isso, acredita ele, que fez o governo deixar de lado a agenda de puxar o dólar para R$ 2,30 ou R$ 2,40. Agora, o cenário mais provável é de um dólar flutuando entre R$ 2,00 e R$ 2,05, podendo subir um pouco, para R$ 2,15 mais para o fim do ano. “Considerando uma inflação aqui perto de 6% ao ano e de 2% nos Estados Unidos, o governo precisaria compensar no câmbio pelo menos nessa diferença, de 4%, para manter a paridade”, diz.

Nos juros, o economista da MCM acha que não está na agenda do BC uma redução da taxa atual, de 7,25%, que deve se manter até o fim do ano. “Aumento de taxas, só em 2014”, espera, afirmando que quando o desconforto com a inflação começar, talvez no fim deste ano, o governo optará primeiro por apertar a política fiscal ou reduzir o ímpeto dos bancos públicos para emprestar, ou tomar alguma outra das chamadas medidas macroprudenciais.

Já para a bolsa de valores, o cenário é mais favorável pelo ambiente macroeconômico melhor no Brasil e no exterior, especialmente no segundo semestre, afirma Santos. Ele observa, porém que no momento pelo qual o país passa, não será tão simples investir em ações apostando no Índice Bovespa, por exemplo. “Será preciso olhar os setores, quais irão melhor”, diz.

No exterior, o cenário é de melhora em relação a 2012, com a China em recuperação. “Não será um crescimento de dois dígitos como antes, mas nada abaixo de 7%”, acredita. Isso deve manter os preços das commodities em alta, beneficiando os emergentes.

Já na Europa, o cenário é ruim, com a continuidade do quadro recessivo. Mas o ambiente será menos conturbado, com a situação da Grécia estável até setembro, quando haverá eleições na Alemanha. “O quadro externo é menos preocupante, e isso se reflete no discurso do Banco Central”, afirma Santos, lembrando que a última ata do Copom omitiu o parágrafo que falava dos fatores de transmissão da crise externa para o Brasil, como ocorria desde agosto de 2011. “O foco será mais nos eventos domésticos”, acredita.

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