Carne: escalada dos custos das proteínas animais levou a inflação no país a fechar 2019 em 4,31% (Germano Lüders/Exame)
Agência O Globo
Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 12h48.
Última atualização em 28 de janeiro de 2020 às 12h50.
São Paulo — O presidente do Banco Central, o economista Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira estar confiante do fim do ciclo de alta no preço da carne.
A escalada dos custos das proteínas animais, motivada por um aumento das exportações de carne brasileira à China em virtude da epidemia de gripe suína que afetou rebanhos no país asiático, levou o IPCA, o indicador oficial de inflação no país, fechar 2019 em 4,31%, acima da meta do BC de 4%.
"Falamos do choque das proteínas no final do ano. De certa forma (a escalada nos preços dessa matéria-prima) havia sido antecipado pelo Banco Central e veio mais rápido e intenso, mas achamos que (o ciclo de alta no preço das proteínas) vai se dissipar rapidamente. Teremos menos efeito disso em 2020", disse Campos Neto em evento a investidores promovido pelo banco Credit Suisse em São Paulo.
A palestra de Campos Neto foi marcada pelo otimismo com os fundamentos para a economia brasileira neste ano.
Segundo o presidente do BC, pela primeira vez "em muito tempo" a expectativa de crescimento para o PIB brasileiro está maior que a de vizinhos da América Latina, o que demonstra a confiança de investidores na agenda de reformas em curso tanto no governo federal como no Congresso.
"A velocidade do crescimento (do PIB) está aumentando", disse. No discurso, Campos Neto reforçou a intenção do BC em tomar medidas para ampliar o mercado de crédito no Brasil, como estímulos ao refinanciamento imobiliário e a recente introdução da modalidade de financiamento da casa própria via IPCA a um juro mais baixo que o tradicional, corrigido pelo indicador TR.
Mais cedo, o ex-presidente do BC e atual presidente do conselho do Credit Suisse Ilan Goldfajn disse que o cenário para a economia brasileira em 2020 é positivo por causa dos efeitos da queda na taxa básica de juros, a Selic.
Segundo Goldfajn, a queda nos juros no Brasil se deve à firmeza da política monetária e deve ser vista como benéfica pelos investidores.
É o inverso do que ocorre em boa parte do mundo desenvolvido, em que a queda dos juros — em muitos países já em níveis negativos — está associado com a percepção de investidores de que os Bancos Centrais têm dificuldade em estimular a economia desses países.
"A queda na taxa de juros no Brasil é muito benéfica porque vem de patamar alto e país está endividado. Aqui ela é uma dádiva porque permite economizar e investir", disse Goldfajn, para quem a manutenção do ciclo de queda depende da persistência da agenda de reformas como administrativa e tributária.