Economia

Indústria de carne recorre ao trigo com escassez de milho

A prática, que não era vista com tal intensidade há muito tempo no Brasil, evidencia como os elevados preços do milho afetam outros mercados


	Carnes: os processadores de carne estão tendo que alimentar suínos e aves com grãos de alta qualidade
 (Arquivo/Agência Brasil)

Carnes: os processadores de carne estão tendo que alimentar suínos e aves com grãos de alta qualidade (Arquivo/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 9 de junho de 2016 às 15h51.

São Paulo - Os produtores de carne de aves e suínos do Brasil estão apelando ao trigo como substituto de emergência para alimentar suas criações, uma medida rara da indústria, que enfrenta dificuldades em meio à escassez de milho, elevando os preços do cereal a níveis recordes, afirmaram especialistas.

A prática, que não era vista com tal intensidade há muito tempo no Brasil, um dos maiores produtores de proteína animal do mundo, evidencia como os elevados preços do milho no mercado doméstico e uma inesperada crise de oferta do cereal começam a afetar outros mercados de commodities e forçam a indústria a procurar alternativas.

Em mais um capítulo na crise do milho, que já dura meses, os processadores de carne estão tendo que alimentar suínos e aves com grãos de alta qualidade, normalmente usados em farinha para pães e biscoitos.

A oferta de trigo de menor qualidade, que por vezes é misturado à ração, já está esgotada.

Operadores de três cooperativas em Estados produtores de grãos do Sul reportaram nas últimas semanas vendas de trigo para moagem a indústrias de ração.

"Não é que o trigo é mais barato. É que simplesmente não há nenhum milho não vendido por aí", disse um operador de uma cooperativa no Paraná.

Operadores no Estado cotaram preços do trigo soft em entre 800 e 850 reais a tonelada, o que equivale a entre 48 e 51 reais pela saca de 60 kg.

O milho tem sido cotado entre 50 e 60 reais a saca no Sul até recentemente, embora não seja fácil encontrar oferta do cereal.

O consultor Luiz Carlos Pacheco, da Trigo & Farinhas, disse que a indústria de carnes comprou 220 mil toneladas de trigo desde maio, quando ficou claro o tamanho da falta de oferta de milho no mercado.

"As vendas de trigo para ração ocorreram em volumes e preços bem acima do normal para essa época do ano", afirmou Pacheco. Segundo ele, 120 mil toneladas vendidas à indústria vieram do Rio Grande do Sul, segundo Estado do país em produção de trigo.

Outras 100 mil toneladas vieram do Paraná, maior produtor de trigo do Brasil.

Outro operador disse que a JBS , maior exportadora de carne do mundo e segundo maior produtor de carne de aves, recentemente comprou 6 mil toneladas de trigo para ração. A companhia não respondeu a um pedido de comentário.

Os volumes são pequenos na comparação com as 11 milhões de toneladas de trigo consumidas no Brasil a cada ano e as entre 5 e 6 milhões de toneladas colhidas. Mas a continuidade dessas compras podem elevar os preços do trigo.

O Brasil é um dos maiores importadores de trigo do mundo, com o grosso da oferta vindo dos vizinhos Argentina e Paraguai. Trigo de alta qualidade da América do Norte também é regularmente comprado pelo país.

Em meio à crise de milho, alguns produtores de carnes, incluindo a maior exportadora de carnes de aves do mundo, BRF, foram forçadas a fechar unidades e abater matrizes devido aos elevados custos da ração.

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