Cédulas: a Starbucks está servindo café grátis para pessoas que esperam várias horas nas filas em frente a caixas automáticos e bancos (Anindito Mukherjee/Bloomberg)
Luísa Granato
Publicado em 17 de novembro de 2016 às 18h05.
Mumbai - Aviões de defesa indianos foram deixados de prontidão para transferir dinheiro da casa da moeda. Bancos bateram na porta de instituições religiosas para ter acesso a notas de menor valor nominal.
A criatividade indiana está sendo estimulada depois que o primeiro-ministro Narendra Modi proibiu cédulas de dinheiro com o objetivo de reprimir o uso de dinheiro não contabilizado.
A economia da Índia, baseada no dinheiro vivo, vive uma turbulência desde que Modi anunciou, na semana passada, que as notas de 500 e de 1.000 rúpias deixariam de valer e teriam que ser depositadas nos bancos até o fim do ano, deixando cerca de um sétimo das cédulas em circulação.
Os economistas dizem que a decisão será benéfica a longo prazo, porque tem o objetivo de eliminar a sonegação fiscal e a corrupção.
O dinheiro não contabilizado responde por quase um quarto da economia. A curto prazo, contudo, a maior repressão à lavagem de dinheiro da história da Índia está gerando efeitos colaterais incomuns.
A seguir, algumas consequências imprevistas.
Jatos de defesa indianos estão de prontidão para transportar dinheiro das casas da moeda espalhadas pela Índia para outros lugares remotos dentro do país.
“Dependendo da urgência, da segurança e da ausência de disponibilidade de aeronaves comerciais, os pedidos de apoio à Força Aérea Indiana fazem parte dos procedimentos normais”, disse uma porta-voz do Banco da Reserva da Índia (RBI, na sigla em inglês).
Houve um aumento da demanda por relógios de luxo após o anúncio repentino de Modi porque os indianos ricos correram para realizar compras caras com dinheiro paralelo.
Uma loja de relógios de luxo na região noroeste de Mumbai vendeu 45 relógios Rolex em um único dia, segundo um representante da fabricante, que estava presente quando as vendas foram realizadas.
A demanda é equivalente ao que a loja normalmente venderia em um mês e o estabelecimento teve que rejeitar clientes, disse a pessoa, que pediu anonimato por não estar autorizada a falar com a imprensa.
O que piora o problema da injeção de dinheiro novo no sistema é a necessidade de reconfigurar os 220.000 caixas automáticos do país para que possam entregar as novas notas de 500 e de 2.000 rúpias, que não cabem nas bandejas de dinheiro das máquinas atuais, segundo Navroze Dastur, diretor-gerente para a Índia e a Ásia Meridional da NCR, empresa que fornece cerca de dois terços das máquinas do país. Dastur afirmou que será necessário até um mês para ajustar todos os caixas.
Em Délhi, Mumbai e Bangalore, a Starbucks está servindo café grátis para pessoas que esperam várias horas nas filas em frente a caixas automáticos e bancos, segundo um porta-voz da companhia.