Claudio Frischtak, da consultoria Inter.B, sobre o BNDES: "Você pode até dizer que o banco refez a avaliação porque a economia mudou e ele viu riscos que não tinha visto. Mas a imagem do banco saiu chamuscada" (Vanderlei Almeida/AFP)
Da Redação
Publicado em 16 de fevereiro de 2016 às 10h23.
São Paulo - Para Claudio Frischtak, da consultoria Inter.B, não há garantias de que as concessões vão decolar no país com a volta dos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Questionado sobre como vê o BNDES novamente ampliando a participação nas concessões, ele respondeu que o financiamento é uma condição necessária.
"Sem dinheiro, não vai. Mas não é condição suficiente. O Brasil tem um conjunto grande de obstáculos nessa área já bem conhecidos: instabilidade regulatória, agências reguladoras fracas; os projetos têm deficiências", afirmou Frischtak.
"Houve, no ano passado, uma tentativa efetiva de melhorar a qualidade da política macroeconômica e também do ambiente regulatório, com a premissa de que o papel do BNDES poderia ser menor. Se o governo voltar atrás e priorizar a questão do crédito, será um erro", avaliou.
De acordo com Frischtak, será um erro porque fica a ideia de que vai compensar os riscos macroeconômico, regulatório, de planejamento - todos conhecidos, segundo ele, - por subsídio ao investimento, via TJLP e FI-FGTS.
Segundo ele, a volta do BNDES como ajuda ao programa de concessões pode até funcionar, mas numa escala menor do que antes.
"Hoje, há um prêmio de risco adicional, que não havia antes: o risco BNDES. Não estou nem julgando se o banco fez correto ou não, mas a verdade é que empresas que entraram nos leilões tomaram empréstimo-ponte com o banco e depois ficaram renegociando", comentou.
"Houve uma percepção de que, digamos assim, o BNDES voltou atrás. Você pode até dizer que o banco refez a avaliação porque a economia mudou e ele viu riscos que não tinha visto antes. Mas a imagem do banco saiu chamuscada", opinou.
E continuou: "Também estamos vivendo tempos extraordinários. A política econômica sobrevive? O governo sobrevive? Tem muita incerteza no ar, tanto no Brasil quanto global. E mais: se o Tesouro tiver de fazer uma nova transferência para o BNDES garantir as concessões, o mercado vem abaixo. A percepção de risco do País explode. Espero que isso não aconteça."