Economia

Haddad anuncia aumento de R$ 0,47 na gasolina e de R$ 0,02 no etanol a partir de março

Para compensar a perda arrecadatória com a manutenção da desoneração nos últimos dois meses, governo cobrará um imposto sobre a exportação de óleo cru até 30 de junho de 2023

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Alessandra Azevedo
Alessandra Azevedo

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 28 de fevereiro de 2023 às 19h09.

Última atualização em 28 de fevereiro de 2023 às 19h21.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta terça-feira, 28, a volta da cobrança do PIS e da Cofins sobre gasolina e etanol a partir de quarta-feira, 1º de março. Com a reoneração, o preço do litro da gasolina aumentará R$ 0,47 e o do etanol, R$ 0,02.

Como a Petrobras anunciou um corte de R$ 0,13 no litro da gasolina também a partir de quarta-feira, o aumento, na prática, será de R$ 0,34, afirmou Haddad, em coletiva de imprensa. A desoneração do diesel continuará valendo até o fim de 2023.

Para compensar a perda arrecadatória com a manutenção da desoneração da gasolina e do etanol em janeiro e fevereiro, o governo cobrará um imposto sobre a exportação de óleo cru até 30 de junho de 2023. 

"Lembrando que não está se discutindo política de preços da Petrobras. O que fizemos foi aguardar a decisão da empresa sobre o preço de março para tomar nossa decisão em relação à reoneração. O que faz todo sentido, até para orientar a sociedade em relação a isso", disse Haddad.

Taxa de juros

Haddad disse esperar que, com o anúncio, o Banco Central reduza a taxa de juros, mantida em 13,75% nas últimas reuniões do Copom. A reoneração, segundo o ministro, é uma "resposta para o setor produtivo" de que o governo "vai fazer sua parte, esperando que a autoridade monetária reaja da maneira como previsto nas atas do Banco Central".

"Essas medidas estão sendo tomadas, inclusive, porque na ata do próprio BC está dito que isso é condição para início da redução da taxa de juros", ressaltou. Haddad afirmou que a Selic elevada gera "efeitos perversos sobre a economia". "O país inteiro está unido em torno dessa causa que é a redução da taxa de juros.  As empresas estão nos procurando. Agro, comércio, industria, todo o setor produtivo anseia por isso", afirmou.

Novo imposto

O imposto sobre a exportação de óleo cru será detalhado em uma Medida Provisória (MP) que será publicada nesta quarta-feira. Pela proposta do governo, o novo tributo terá duração de quatro meses, mas o Congresso pode propor ampliação do prazo.

"Ninguém está falando em aumento de carga tributária. Estamos pensando em recomposição do Orçamento", disse Haddad. Segundo ele, a decisão foi tomada com base em uma análise dos preços feita pelo Ministério de Minas e Energia (MME), por recomendação da Casa Civil. 

Pelos cálculos da Fazenda, a arrecadação prevista com o novo imposto é de R$ 6,6 bilhões nos quatro meses de duração, que seria exatamente o valor que o governo deixou de arrecadar entre 1º de janeiro e 28 de fevereiro com a prorrogação da desoneração dos impostos federais sobre gasolina e etanol.

Em junho do ano passado, o Congresso aprovou um projeto de lei complementar que zerou até 31 de dezembro de 2022 as alíquotas de Cide-Combustíveis, PIS e Cofins sobre os dois combustíveis. Ao assumir o Planalto, Lula prorrogou a desoneração até 28 de fevereiro. Segundo Haddad, a medida foi tomada por dois motivos: reação aos "rumores de tentativa de golpe de Estado" e expectativa de definição do novo comando da Petrobras.

"Aqueles rumores nos fizeram ter cautela e não estimular as pessoas que estavam eventualmente desagradadas pelo resultado eleitoral a fazer o que vieram a fazer dia 8 de janeiro", disse Haddad. Jean Paul Prates, atual presidente da Petrobras, tomou posse em 26 de janeiro. "Por essas razões, e apenas essas razões, o presidente decidiu estender a desoneração da gasolina e do etanol ate 28 de fevereiro", afirmou o ministro.

Haddad disse que o objetivo do governo com a reoneração parcial dos dois combustíveis é recuperar as receitas que foram perdidas "por razões demagógicas" tomadas pelo governo Bolsonaro. "Às vésperas da eleição, tomou uma medida para tentar reverter o quadro que era desfavorável ao então governo", disse.

MPs começam a valer assim que são editadas, mas precisam ser avaliadas pelo Congresso em até 60 dias, prazo que pode ser estendido por mais 60 dias, para que se tornem leis. Durante a discussão, os parlamentares podem fazer mudanças no texto e, se quiserem, ampliar o prazo de cobrança do imposto.

"A MP só prevê quatro meses de imposto sobre exportação de óleo cru para cumprimento dos compromissos assumidos por mim e pelo presidente da República no dia 12 de janeiro", disse Haddad. "Ao final de quatro meses, o Congresso vai deliberar [sobre o imposto]", acrescentou, lembrando que "a última palavra" é dos parlamentares. 

O ministro lembrou que, por emenda constitucional, a diferença entre as alíquotas da gasolina e do etanol deve ser mantida em relação à registrada em 15 de maio de 2022. Na época, a cobrança de PIS/Cofins sobre a gasolina era de R$ 0,69 e sobre etanol, de R$ 0,24 -- uma diferença, portanto, de R$ 0,45, que foi preservada.

Nesta terça-feira, 28, a Petrobras anunciou um corte de R$ 0,13 no preço médio de venda de gasolina às distribuidoras a partir de quarta-feira. Com a reoneração de R$ 0,47 e a redução de R$ 0,13, o saldo líquido será de um aumento de R$ 0,34 por litro, pontou o ministro.

A Petrobras também reduziu em R$ 0,08 o litro do diesel. Como a desoneração do diesel continua valendo até o fim de 2023, o preço do combustível deve cair, ressaltou Haddad. "Isso tem impacto positivo sobre a inflação", observou.

Em 12 de janeiro, Haddad anunciou um pacote de medidas econômicas do governo com o objetivo de reduzir o deficit da União. Segundo ele, se todas as medidas previstas forem adotadas com sucesso, o rombo do governo poderá ficar abaixo de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023. O pacote prevê a aprovação da reforma tributária e do novo arcabouço fiscal até o fim do ano.

 

 

 

Acompanhe tudo sobre:CombustíveisFernando HaddadGasolinaMinistério da Fazenda

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor