Economia

Gregos estão angustiados com crise, mas não perdem esperança

As medidas de austeridade exigidas pela UE e pelo FMI ameaçam estrangular uma economia já à beira da falência, mas há esperança de que o pesadelo um dia acabará


	Trabalhadores carregam uma bandeira da Grécia em um novo protesto contra o desemprego: alguns gregos não confiam nos políticos e dizem que precisam mudar a situação por si próprios
 (Louisa Gouliamaki/AFP)

Trabalhadores carregam uma bandeira da Grécia em um novo protesto contra o desemprego: alguns gregos não confiam nos políticos e dizem que precisam mudar a situação por si próprios (Louisa Gouliamaki/AFP)

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Da Redação

Publicado em 27 de agosto de 2012 às 13h54.

Atenas - Frustrados pelas promessas não cumpridas de seus políticos, os gregos andam angustiados com o aumento da pobreza e com um futuro a cada dia mais incerto, mas também tentam manter viva a esperança de que o pesadelo acabará um dia.

A situação social não para de piorar. Nada menos que 25% da população estão ameaçados pela pobreza, segundo um relatório do Banco da Grécia, e o aumento diário dos sem-teto é notável, embora não haja dados confiáveis disponíveis sobre seu número.

Há um mês e meio a equipe econômica do primeiro-ministro, Antonis Samaras, tenta conciliar as exigências dos credores externos da Grécia com as promessas eleitorais dos partidos da coalizão de governo.

As severas medidas de austeridade exigidas pela União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) ameaçam estrangular totalmente uma economia já à beira da falência, razão pela qual Samaras pediu mais tempo para cumprir o compromisso de economizar, diante do temor de rupturas internas.

O desemprego chegou a 23,1%, e é alarmante entre os jovens. Dos cidadãos ativos com menos de 24 anos, 54,5% estão desempregados, e, entre 25 e 34 anos, 31,6% estão nessa situação, segundo os dados da Agência Nacional de Estatísticas.

Desde março, o número de desempregados e aposentados vem superando o dos cidadãos empregados.

"Quase todos os jovens de nossa família estão sem emprego", relatou à Agência Efe Jarálabos, um funcionário público aposentado de 61 anos. "Dois sobrinhos meus, que trabalhavam na construção, pensam em ir para os países do Golfo Pérsico por alguns anos, até que as coisas melhorem", conta.

"Os postos de trabalho são raros e os poucos que existem pagam muito mal", comentou por sua vez Sofia, de 23 anos.

Ela tem sorte. Trabalha em um supermercado em regime parcial: 20 horas por semana, por 360 euros mensais brutos.

Entre as medidas de economia adotadas em fevereiro para conseguir o sinal verde para o segundo resgate da Grécia, o salário mínimo foi reduzido em 22%, para 585 euros mensais brutos, e para 500 euros para os jovens com menos de 25 anos.


"Até o fim do ano passado, meu salário, com as horas extras noturnas, se aproximava de 1 mil euros mensais", explica Jaris, empregado de um estacionamento, de 35 anos e pai de um menino.

"Mas o restaurante que ficava ao lado do estacionamento quebrou. Assim já não trabalho à noite e, para evitar as demissões, meu patrão reduziu nossos salários. Agora recebemos apenas 600 euros mensais", acrescenta.

Em geral, os salários no setor privado baixaram em torno de 23%, segundo um relatório recente do AlphaBank, enquanto os rendimentos dos funcionários públicos caíram uma média de 37%, aproximadamente a mesma redução que as pensões de aposentadoria.

"Vivemos em um apartamento de 86 metros quadrados. Estou procurando para alugar algo de entre 50 e 60 metros quadrados, porque meu salário pode ser ainda mais reduzido", diz Jaris.

"Queríamos comprar um apartamento e um carro. Desistimos das duas ideias. Agora compramos só o necessário e o que o menino precisa", conta, por sua vez, Penélope, de 32 anos, funcionária e mãe de um bebê de 11 meses.

O consumo caiu drasticamente. A Confederação Nacional do Comércio prevê que o volume das vendas a varejo se reduza neste ano 53,4% em comparação ao de 2011, o que significaria uma redução de 55% do lucro.

"A cada dia que passa, há menos clientes e mais impostos e taxas", queixa-se Dimitris, comerciante, de 50 anos.

Mas apesar de tudo, os gregos não perdem a esperança, embora não esperem muito dos governantes: "Nós é que precisamos mudar a situação. Não devemos esperar nada dos políticos", diz Penélope, que conta, orgulhosa, que foi convocada para um cargo público depois de passar em um concurso e "não por qualquer conexão política".

"Pobre de mim se, com um filho tão pequeno, não fosse otimista!", comentou.

"Quando o Estado se der conta de que não pode receber mais impostos porque ninguém pode pagar, a situação começará a melhorar", opina Dimitris.

E o comerciante acrescenta: "O importante é não perder o otimismo. Tenho a esperança de que, com 70 ou 80 anos, quando estiver aposentado, minha pensão me permita comprar presentes para meus netos". 

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