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Frases de Delfim Netto que arrancam aplausos da plateia

Ex-ministro da Fazenda participou do INFO SUMMIT, em São Paulo

Delfim Netto: "Se a Suíça é desenvolvida, eu quero ser subdesenvolvido" (Germano Lüders/Exame)
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Da Redação

Publicado em 26 de junho de 2013 às 13h12.

São Paulo - Delfim Netto é um daqueles palestrantes que dispensam apresentações. Chamá-lo de professor é a forma mais simples e precisa de resumir o seu extenso currículo dentro e fora do governo. Quando o seu nome é anunciado, a plateia esfrega as mãos e aguarda ansiosamente a análise apimentada, a opinião muitas vezes polêmica e, principalmente, as frases bem humoradas.

Foi exatamente isso que aconteceu no INFO SUMMIT, nesta quarta-feira (1º), em São Paulo. Antônio Delfim Netto, 82 anos, subiu ao palco e participou de um talk show com a diretora de redação de EXAME, Cláudia Vassallo. O bate-papo foi interrompido inúmeras vezes por risos e aplausos causados por declarações do professor.

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EXAME.com compilou as principais frases que provocaram alvoroço na plateia e as suas respectivas explicações econômicas.

Juros: “O Brasil é o último peru com farofa na mesa dos investidores fora do Dia de Ação de Graças” - Delfim Netto lamentou que boa parte dos estrangeiros não está trazendo investimento direto, ou seja, no setor produtivo, mas indo para a bolsa de valores e os títulos públicos. “O Brasil não precisa de recursos externos para financiar a dívida pública. E por que os estrangeiros vêm com grande entusiasmo? É claro, porque Brasil é o último peru com farofa na mesa dos investidores fora do Dia de Ação de Graças”, disse, se referindo a uma das maiores taxas de juros do mundo. O economista salientou que os especuladores estão fazendo o papel deles. “Quem não está fazendo o seu papel é o Brasil.”

Câmbio: “Quanto eu estudei economia, na Idade Média, o câmbio era fruto do equilíbrio entre as exportações e as importações de bens e serviços” - Delfim Netto disse que o câmbio no Brasil está valorizado por causa da especulação que investidores estrangeiros fazem com a nossa taxa de juros. “Quando eu estudei economia, na Idade Média, o câmbio era o preço relativo que equilibrava o fluxo de exportação de bens e serviços com o fluxo de importação de bens e serviços. O câmbio, atualmente, não tem mais nada a ver com o equilíbrio em contas correntes. O câmbio brasileiro é um ativo financeiro que está no portfólio de milhares de sujeitos espalhados em 140 países fazendo especulação ou arbitragem por algorítimos de um bilésimo de segundo e procurando diferença na terceira casa decimal.” Segundo o ministro da Fazenda, o Brasil precisa fazer um ajuste fiscal que permita a redução dos juros.

Inflação: “Todos já deveriam ter aprendido que todos os modelos são errados; alguns são úteis” - Ainda sobre os juros, Delfim Netto afirmou que não há motivos para o Brasil ser a única nação do mundo a pagar uma taxa real de 7%. “Eu morro de dar risada quando as pessoas vêm e me dizem: ‘Mas Delfim, isso é o que os modelos (de inflação) produzem’. Ora, todos já deveriam ter aprendido que todos os modelos são errados; alguns são úteis. Se eu construo um modelo, que no fundo é uma caixa-preta, eu tenho que colocar o passado e o que eu suspeito que será o futuro. Só que se eu errei o passado, ele (o modelo) simplesmente diz pra mim: ‘Para acertar, continue errando’. Então, é preciso que a gente desmoralize isso.” O ex-ministro da Fazenda reitera que é preciso um programa fiscal que atinja o equilíbrio nominal em dois ou três anos, com os gastos correntes crescendo num ritmo ligeiramente menor que o do PIB.


Copom: “A coisa mais importante para um banco central é ter dúvida. Banco central que não tem dúvida é uma tragédia” - Delfim Netto disse que ficou feliz ao constatar que recentemente os diretores do Banco Central admitiram que têm dúvidas sobre três temas: a defasagem entre a alteração nos juros básicos e o efeito na economia; o PIB potencial; e a taxa de juro real de equilíbrio. “Você fixa a taxa básica de juros com esse três parâmetros. E qual é a proteção do Banco Central para não errar? É sempre subestimar o produto potencial e superestimar a taxa de juros de equilíbrio. Daí ele garante que fica sempre dentro da meta e, portanto, ganha credibilidade. Porém, isso tudo tem um custo social. A coisa mais importante para um banco central é ter dúvida. Banco central que não tem dúvida é uma tragédia. "O ex-ministro defende que o voto de cada diretor do Copom seja divulgado 90 dias após a reunião.

Política fiscal: “Se você é um pouco mais leniente com o governo, você diz que foram pecados veniais. Se você acha que o governo é muito ruim, você diz que foram pecados capitais” - Ao falar sobre a política fiscal do governo Lula, Delfim Netto disse que houve pecados, mas a análise a respeito deles depende da ideologia de quem está avaliando. “Se você é um pouco mais leniente com o governo, você diz que foram pecados veniais. Se você acha que o governo é muito ruim, você diz que foram pecados capitais. Do meu ponto de vista, era muito melhor que o governo dissesse que neste ano o superávit seria de apenas 1,6% (do PIB) e ponto final. Ele poderia argumentar que foi menor porque ele se esforçou para eliminar os efeitos da crise. É melhor dizer isso do que continuar com esses truques (manobras contábeis) de um lado e de outro.” Em resumo, o ex-ministro da Fazenda considerou exageradas as críticas à atual política fiscal, mas cobrou transparência do governo em admitir que não conseguiria cumprir a meta.

Crescimento antes da crise: “Foi o nível do mar que subiu e o nosso barquinho subiu junto” - Delfim Netto avaliou que o Brasil não corre o risco de sofrer, como no passado, com uma crise de energia nem com uma crise no financiamento das Transações Correntes. “Esses duas crises não nos atingirão nos próximos 15 anos. Nós tivemos um bônus externo, que foi a expansão do mundo antes da crise. Essas reservas de US$ 300 bilhões caíram do céu, não foram produzidas por nenhum esforço interno. O Brasil representa 1,3% da exportação mundial e continua representando 1,3% da exportação mundial, ou seja, foi o nível do mar que subiu e o nosso barquinho subiu junto.” Além disso, o ex-ministro da Fazenda citou o pré-sal como mais um bônus que elimina a possibilidade de sofrermos novamente com essas duas crises (energia e financiamento de transações correntes). “Portanto, nós temos 15 anos para crescer 5,5% sem nenhum drama maior”, diz o economista.

Emprego: “A agricultura do Brasil economiza terra e mão de obra” - Delfim Netto disse que, em 2030, o Brasil terá 230 milhões de habitantes e necessitará de 150 milhões de empregos de qualidade para as pessoas que terão entre 15 e 65 anos de idade. “Nenhum país consegue isso concentrando sua atividade na produção agrícola e em minerais. A agricultura no Brasil economiza terra e mão de obra. Nos últimos 30 anos, a produtividade média da agricultura cresceu 3,5% ao ano, liberando gente e não aumentando a área ocupada. Na produção mineral, é muito parecido.” Para gerar os empregos no volume necessário, segundo o ex-ministro da Fazenda, o Brasil precisa concentrar o crescimento no mercado interno, com ênfase na indústria e no setor de serviços.


Infraestrutura: “Só há desenvolvimento quando eu, resolvendo um problema, sou capaz de criar outros dois” - Ao falar da falta de infraestrutura, Delfim Netto disse que é natural que os problemas tenham surgido depois que a economia voltou a crescer. Quando vivíamos um período de estagnação, explicou ele, não havia problemas, e, portanto, nada acontecia. “Só há desenvolvimento quando tem problema para resolver. E mais do que isso. Só há desenvolvimento quando eu, resolvendo um problema, sou capaz de criar outros dois. É por esse processo continuado de enfrentar esse problemas, que eu construo o processo.” O economista salientou, ainda, que o mesmo raciocínio vale para a falta de mão de obra. Conforme a demanda aumenta, a mão de obra vai sendo treinada por iniciativa do governo e das empresas. “Há uma revolução na educação e as pessoas se recusam a entender isso.”

Primeiro Mundo: “Se a Suíça é um país desenvolvido, eu quero ser subdesenvolvido” - Indagado sobre quando o Brasil vai virar uma país desenvolvido, Delfim Netto questionou o conceito. Disse que os americanos acham que os Estados Unidos, tidos como um exemplo de nação desenvolvida, são uma tragédia, um país que está indo para trás. Quando alguém na plateia citou a Suíça, ele disparou: “A Suíça é a coisa mais chata do mundo. Se a Suíça for desenvolvida, eu quero ser subdesenvolvido.” O ex-ministro da Fazenda disse que o mais importante é transformar o Brasil num país justo, que proporcione igualdade de oportunidades para toda a população.

No Ministério da Fazenda: “A grande vantagem do passado é que ele já foi o futuro” - Ao comentar erros que cometeu no passado, quando era ministro da Fazenda, Delfim Netto disse que a política econômica é feita em cada instante com o conhecimento que você tem e com a visão que você tem da realidade naquele momento. “Quando você faz julgamentos históricos, depois que passou, todo mundo é muito mais sabido. A grande vantagem do passado é que ele já foi o futuro. Ele fica muito mais visível. Política econômica é correr risco.”

Governo: “Deixa de ser burro. O Guido (Mantega) sabe melhor que você” - Delfim Netto contou que a experiência no governo mostrou para ele que a visão de fora muitas vezes é apenas parcial. “Eu dou risada quando o sujeito diz: ‘O Guido (Mantega) não sabe que o IOF não vai dar resultado’. Deixa de ser burro. O Guido sabe melhor que você. Ele fez isso (elevar IOF para inibir o capital estrangeiro) em legítima defesa." O ex-ministro disse que, pelo fato de ter vivido os dois lados, às vezes ele tem uma visão mais leniente com relação a quem está no governo.


Crise na Europa: “O que está faltando é quebrar os bancos” - Delfim Netto falou sobre a crise na Europa e afirmou que o problema só está começando. “Imaginar que você pode empurrar em cima da sociedade todos os custos desse ajuste (salvar bancos) é uma coisa impensável. Vão cair todos os governos europeus. O que está faltando é quebrar os bancos, para depois começar a dar uma arrumada nas coisas.” Segundo o ex-ministro da Fazenda, o Brasil não deve contar com uma expansão mundial muito grande nos próximos 10 anos.

PIB chinês: “A China não vai continuar crescendo 9% nos próximos 30 anos, porque não cabe no mundo” - Delfim Netto prevê que a China vai precisar de um ajuste para reduzir a velocidade do crescimento. “O resto do mundo teria de crescer apenas 1% para a China continuar crescendo 9% nos próximos 30 anos. A China não cabe no mundo. Você não vai conseguir fazer 1,4 bilhão de chineses com US$ 25 mil de renda per capita por que não tem alumínio, cobre, água e energia.” O ex-ministro da Fazenda termina com uma brincadeira: “O comando chinês é composto por nove engenheiros e geólogos. Eles vão substituir três por um economista, um sociólogo e um advogado. Nós estamos salvos.”

China: “Só tem dois países que acreditam que a China é uma economia de mercado. Um, que tem certeza, é o Brasil. O outro, que tem dúvida, é a própria China” - Delfim Netto disse que a manipulação do câmbio pelo governo chinês gera distorções na hora de a indústria brasileira concorrer no mercado internacional. “A produtividade medida pela relação homem/hora é praticamente a mesma no Brasil e na China. "Mas quando você pensa que o Brasil tem uma taxa de câmbio supervalorizada em 25% e a China tem uma taxa de câmbio subvalorizada em 40%, todo o resto é chantilly. Não adianta discutir. Só tem dois países que acreditam que a China é uma economia de mercado. Um, que tem certeza, é o Brasil. O outro, que tem dúvida, é a própria China.”

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