Economia

FMI e G20 advertem sobre escassez e temores de inflação

O que se teme é que o aumento dos preços crie um círculo vicioso que obrigue as economias avançadas a elevar suas taxas de juros para conter a inflação

Os gargalos da cadeia de abastecimento que ameaçam dificultar a recuperação mundial serão temas de debate nas reuniões do FMI-Banco Mundial  (AFP/AFP)

Os gargalos da cadeia de abastecimento que ameaçam dificultar a recuperação mundial serão temas de debate nas reuniões do FMI-Banco Mundial (AFP/AFP)

A

AFP

Publicado em 13 de outubro de 2021 às 17h26.

Última atualização em 13 de outubro de 2021 às 17h27.

A economia mundial enfrenta há meses gargalos nas cadeias de abastecimento que alimentam a inflação e ameaçam o crescimento, um tema central das reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, e do G20 e do G7 nesta quarta-feira (13) em Washington.

Os problemas de abastecimento, provocados pelo aumento da demanda do transporte logístico em meio à recuperação da pandemia, combinada com a escassez de mão-de-obra, levaram o Fundo Monetário Internacional a rever para baixo as previsões de crescimento de vários países, entre eles Estados Unidos, China, Alemanha e Reino Unido.

A economia mundial enfrenta um "momento particularmente desafiador", disse em coletiva de imprensa a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva.

Ela advertiu para outra variável que também contribui para as limitações da oferta: o atraso da vacinação contra a covid nos países em desenvolvimento.

Cerca de 58% da população nas economias avançadas já está completamente imunizada, em comparação com 36% nas economias emergentes e menos de 5% nos países pobres, segundo o FMI.

"Deveríamos nos preocupar com esta divergência", afirmou, "porque enquanto aumentar, este risco de interrupções nas cadeias de abastecimento globais será maior e, portanto, a pressão sobre os preços, a pressão sobre a inflação será mais alta".

A ameaça da inflação

O que se teme é que o aumento dos preços crie um círculo vicioso que obrigue as economias avançadas a elevar suas taxas de juros para conter a inflação, o que aumentaria os custos dos empréstimos para os países em desenvolvimento e atrasaria ainda mais sua recuperação.

A inflação nos Estados Unidos, a primeira economia mundial, subiu em setembro e chegou a 5,4% interanual, informou nesta quarta-feira o Departamento do Trabalho.

Embora o FMI projete que a inflação nas economias avançadas recuará em meados do ano que vem, "este desajuste entre o crescimento da demanda e o atraso da oferta cria pressão sobre os preços", disse Georgieva.

O presidente do Banco Mundial, David Malpass, advertiu, por outro lado, que alguns picos de preços "não serão transitórios".

Ele afirmou a jornalistas que 8,5% do transporte mundial de contêineres está bloqueado nos portos ou seus arredores, o dobro do que em janeiro.

E acrescentou que o fechamento de fábricas e portos durante a pandemia alteraram o abastecimento, impulsionando as tarifas de envio e o custo final dos bens.

"Será preciso tempo e a cooperação das autoridades políticas de todo o mundo para resolvê-lo", afirmou.

Malpass também lamentou a situação nos países em desenvolvimento, que já enfrentam um panorama "sombrio" e um "trágico revés do desenvolvimento", causado pela pandemia que levou 100 milhões de pessoas à pobreza extrema e está causando problemas de dívida em muitos países.

Não entrar em pânico

Os desafios da oferta mundial são o foco do encontro de ministros das Finanças do Grupo das 20 economias mais avançadas (G20) e o do Grupo dos Sete (G7), que reúne as principais potências industrializadas.

Rishi Sunak, ministro da Fazenda do Reino Unido, que preside o G7 até o fim do ano, pedirá uma ação global para atender a este tema.

Embora seu país seja particularmente afetado por estas disfunções, agravadas também pelo Brexit, Sunak disse que defenderá uma "coordenação" melhor para fazer com que as cadeias de abastecimento sejam "mais resilientes".

Os Estados Unidos anunciaram uma iniciativa para garantir que os produtos vão "dos navios às prateleiras", com operações 24 horas por dia nos principais portos.

O presidente Joe Biden prevê anunciar este acordo em uma reunião nesta quarta-feira com os líderes do gigantesco porto de Los Angeles e a União Internacional de Estivadores e Armazéns (ILWU).

Outras empresas, inclusive Walmart, FedEx e UPS, também se comprometeram a trabalhar em horários estendidos, disseram funcionários da Casa Branca.

Enquanto se aproxima a temporada das festas de fim de ano, a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, instou na terça-feira que a população não entre em pânico, dizendo que há muitos bens disponíveis e que os aumentos de preços devem ser "transitórios".

Mas admitiu que as pressões sobre os preços não "vão desaparecer nos próximos meses. Este é um choque sem precedentes para a economia mundial", disse à emissora CBS.

Tenha acesso ilimitado às principais análises sobre o Brasil e o mundo. Assine a EXAME.
Acompanhe tudo sobre:AlimentaçãoBanco MundialFMIInflação

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor