Economia

Brasil deve atuar com limitada intervenção no câmbio, diz FMI

De acordo com o FMI, o governo brasileiro deve manter "fortes amortecedores" para o caso de eventos globais desestabilizadores

FMI: instituição alerta para impacto das guerras comerciais na economia global (Yuri Gripas/Reuters)

FMI: instituição alerta para impacto das guerras comerciais na economia global (Yuri Gripas/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 17 de julho de 2019 às 12h48.

Última atualização em 17 de julho de 2019 às 14h56.

O regime de câmbio flutuante tem funcionado há anos como um importante fator para absorver choques externos no Brasil, o que colaborou para a formação de reservas cambiais adequadas, observou o Fundo Monetário Internacional (FMI) em relatório sobre o setor externo. Na avaliação do Fundo, as autoridades brasileiras devem manter "fortes amortecedores" para o caso de eventos globais desestabilizadores e atuar com "limitadas" intervenções na cotação do real ante o dólar a fim de enfrentar volatilidade excessiva do câmbio.

O documento divulgado nesta quarta-feira, 17, afirma que a posição externa do Brasil em 2018 estava amplamente em linha com o esperado para fundamentos macroeconômicos e "políticas desejadas" para o País no médio prazo. O FMI aponta que o déficit de transações correntes nacional é baixo, mesmo que o indicador tenha avançado como proporção do PIB (de 0,5% em 2017 para 0,8% no ano passado) devido à leve melhora da demanda agregada. Além disso, há um nível confortável de reservas internacionais, que atingiram US$ 375 bilhões em dezembro passado e atualmente estão próximas de US$ 386 bilhões, diz o Fundo.

A instituição destaca ainda que o País apresenta substancial fluxo de investimentos estrangeiros diretos, que dá conta de quase metade de todas as necessidades externas de financiamento do País e que cobre plenamente o déficit de transações correntes desde 2015. Por outro lado, o Fundo considera uma fonte de riscos a elevação do passivo internacional desde 2008 para uma marca próxima de 33% do PIB, o que também representa 265% do total das exportações.

O FMI pondera que existe uma tendência de aumento do déficit nacional de transações correntes, que gradualmente poderia até atingir 2% do PIB no médio prazo com a melhora das condições do nível de atividade, inclusive com o aumento da Formação Bruta de Capital Fixo e aquisição de equipamentos importados por companhias. "Esforços para elevar a poupança nacional são necessários para viabilizar uma expansão sustentável de investimentos", destaca o Fundo.

Embora o relatório trate de questões externas, o FMI destaca que no caso brasileiro, a consolidação fiscal, através de medidas como o teto de gastos federais e a reforma da Previdência, é importante para o fortalecimento da poupança das contas públicas. Por outro lado, o Fundo ressalta que a intervenção oficial na taxa de câmbio, incluindo o uso de derivativos, "pode ser apropriada para aliviar condições de mercado desordenadas."

A instituição pontua que o Brasil continua a atrair capitais externos e que o diferencial de juros em relação a economias avançadas, adequadas reservas cambiais e reformas para ampliar a abertura comercial devem colaborar para a manutenção desse cenário. Contudo, o interesse de investidores no País pode minguar se questões estruturais não forem combatidas de forma apropriada, como a rigidez no Orçamento federal, no setor financeiro e no mercado de trabalho, diz o Fundo.

Mundo

Em uma análise global, o FMI enfatiza que medidas protecionistas agravaram as tensões econômicas ao redor do mundo sem reverter desequilíbrios no balanço entre exportações e importações de vários países.

Em relação aos Estados Unidos, a instituição afirma que as sobretaxas adotadas para alumínio e aço importados da China e o aumento das tarifas sobre US$ 200 bilhões em bens importados chineses pouco atuaram para reduzir o grande déficit comercial americano com o país asiático. Em contrapartida, essas medidas provocaram um nível elevado de incertezas, o que culminou em "aguda desaceleração do comércio global e da produção industrial", com repercussões negativas sobre investimentos e sentimento de empresários, sobretudo entre aqueles que atuam em cadeias internacionais de produção.

Na avaliação do Fundo, as consequências das disputas comerciais entre Washington e Pequim não se limitarão às duas maiores economias do planeta - os embates poderão diminuir o fluxo de capitais internacionais e afetar segmentos globais de manufaturados. Nesse sentido, o FMI adverte que tais tensões poderão provocar expressivas perdas de empregos em vários setores nos Estados Unidos e na China, além de prejudicar sistemas de fabricação de mercadorias no leste da Ásia, México e Canadá.

Acompanhe tudo sobre:ChinaEstados Unidos (EUA)FMIGuerras comerciais

Mais de Economia

BNDES firma acordo de R$ 1,2 bilhão com a Agência Francesa para projetos no Brasil

Se Trump deportar 7,5 milhões de pessoas, inflação explode nos EUA, diz Campos Neto

Câmara aprova projeto do governo que busca baratear custo de crédito