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FMI descarta prorrogação do prazo da dívida grega

Pressão sobre a Grécia aumenta após adiamento do FMI para efetuação dos próximos pagamentos da dívida

Dívida grega: o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis (Yves Herman/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 16 de abril de 2015 às 20h07.

A reunião de primavera boreal do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM) teve início nesta quinta-feira em Washington com um aumento sensível das pressões sobre a Grécia , em um cenário marcado por preocupações pela capacidade de pagamento do país europeu.

A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, descartou em uma coletiva de imprensa a possibilidade de que a entidade outorgue à Grécia um adiamento para efetuar os próximos pagamentos, previstos para a primeira semana de maio.

"Nunca uma economia avançada nos pediu para prorrogar os pagamentos. Claramente, não é a via de ação que queremos adotar, ou que seja recomendável na situação atual", disse Lagarde na coletiva de imprensa que abriu a reunião.

De acordo com Lagarde, "nos últimos 30 anos, adiamentos nos pagamentos não têm sido aprovados na direção do FMI".

Segundo ela, o FMI mencionou esse tema durante as entrevistas com o ministro grego de Finanças, Yanis Varufakis, que se encontra em Washington para participar nas reuniões do FMI e do BM.

Nos EUA, Varufakis reafirmou que seu país segue determinado a permanecer na zona do euro . Entretanto, o ministro ressaltou que os credores do país precisam dar um tempo em suas demandas por reformas, reconhecendo que abordagem anterior, de ênfase na austeridade, falhou.

"Nós tentamos esse remédio (as políticas de austeridades), mas não funcionou", disse Varufakis no Brookings Institution.

As autoridades gregas já haviam negado nos últimos dias que tenham pensado em pedir o adiamento do prazo de pagamento ao FMI, mas Lagarde de todas formas deixou claro nesta quinta-feira que tal possibilidade não será bem-vinda.

O FMI se une aos credores europeus da Grécia na pressão para que Atenas chegue a um novo acordo antes da data prevista para os pagamentos.

O governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras busca flexibilizar as condições de austeridade impostas pelos credores, mas no momento a tentativa não surtiu efeito. Para um acordo, os credores europeus e o FMI pedem avanços nas reformas pedidas.

"Continuamos trabalhando com outras instituições e as autoridades gregas. As negociações estão em marcha. Mas nesse momento não estamos satisfeitos com o nível dos progressos", disse nesta quinta-feira o porta-voz da Comissão Europeia, o grego Margaritis Schinas.

Necessidade de um acordo

Os ministros das Finanças da zona do euro realizarão uma reunião no dia 24 de abril em Riga, Letônia, e todas as partes esperam que algum tipo de acordo seja conseguido antes dessa data.

O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, disse nesta quarta-feira em Nova York que na sua opinião a saída da Grécia da zona do euro por causa dessa crise não ocorrerá.

"Estou bastante certo de que isso não acontecerá", declarou Schäuble durante um colóquio organizado pelo Council on Foreign Relations (CFR) em Nova York, e afirmou que no momento não há contágio da crise grega.

Já o comissário europeu de Assuntos Financeiros, Pierre Moscovici, disse à AFP nesta quinta-feira em Washington que "não há uma preparação" para uma saída da Grécia da zona do euro, apesar dos progressos "muito fracos" nas discussões com Atenas.

"Não há qualquer reflexão sobre uma 'Grexit' (como é chamada a possível saída da Grécia da zona do euro), não existe plano B", disse Moscovici em meio à reunião em Washington.

O comissário, no entanto, ressalta que "o tempo começa a pressionar" por um acordo que livre a Grécia da ruína financeira.

Atenas precisa desesperadamente de um acordo para desbloquear 7,2 bilhões de euros (a última cota de um pacote de 240 bilhões de euros acordado em 2010), mas a União Europeia e o FMI querem melhores reformas por parte das autoridades gregas.

A Grécia tem que pagar um bilhão de euros ao FMI na primeira metade de maio, e outros 9.000 bilhões de euros ao Banco Central Europeu em julho e agosto.

Evitar "nova mediocridade"

A Grécia não é, contudo, a preocupação exclusiva da reunião, e a própria Lagarde mencionou que era necessário evitar que a "nova mediocridade se transforme na nova normalidade", e que para isso é necessário que as economias avançadas impulsionem a demanda.

O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, lembrou que as economias mundiais não podem perder de vista a urgente necessidade de "retirar bilhões de pessoas da miséria", especialmente nas economias emergentes.

Outras discussões se concentraram em formas de apoio a três países africanos -Guiné, Libéria e Serra Leoa- devastados pelo Ebola.

Dirigentes dos três países já adiantaram que apresentarão nesta reunião os detalhes iniciais de um plano de resgate suplementar, que pode incluir a anulação da dívida.

São Paulo - Há 5 anos, o debate sobre a crise da Grécia gira em torno de duas questões: o país vai ou não sair do euro ? E quais seriam as consequências disso? O cenário institucional já mudou muito, mas o retórico é basicamente o mesmo, povoado por caricaturas de gregos preguiçosos, alemães autoritários, tecnocratas sem coração e políticos sinuosos. Não faltam simbolismos e lições de moral. Há quem lembre que a Grécia basicamente vive em um estado perpétuo de crise da dívida. Os gregos rebatem com episódios sombrios da história recente da Alemanha . O teatro chegou a outro nível com a entrada em cena de Yanis Varoufakis, ministro de Finanças grego, adepto de imagens fortes que frequentemente o colocam em saias justas. Veja 7 metáforas sobre a crise da Grécia e o que elas explicam:
  • 2. O efeito dominó

    2 /8(Aussiegall/WikimediaCommons)

  • Veja também

    O efeito dominó é simples de entender: quando você tem várias peças enfileiradas e a primeira cede, é impossível de evitar que uma derrube a outra até que não sobre nenhuma de pé.  A metáfora é usada amplamente desde 2010 para ilustrar o que aconteceria caso algum país saísse da zona do euro: o pânico e a especulação acabariam empurrando outras nações vulneráveis ao mesmo destino. Já em 2011, muito antes de sequer sonhar em virar ministro de Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis explicou em seu blog o que vê de errado com essa metáfora: "com cada 'transição', o custo de 'resgatar' o próximo país aumenta ao mesmo tempo em que recai sobre um número menos de países. É uma dinâmica muito mais calamitosa do que a alegoria do dominó consegue capturar".
  • 3. O castelo de cartas

    3 /8(Arealast/Wikimedia Commons)

  • No seu post de 2011, Varoufakis comparou a zona do euro com um grupo de alpinistas de tipos físicos diversos na beira de um abismo e ligados por uma única corda. De repente, acontece um terremoto e um deles (a Grécia) começa a cair; o segundo mais próximo também acaba cedendo, e assim sucessivamente, aumentando cada vez mais o peso sobre os remanescentes. A dúvida é se os mais fortes (a Alemanha) vão continuar tentando puxar o grupo para cima ou se vão cortar a corda.   Em fevereiro deste ano, já como ministro, Yanis escolheu uma metáfora mais simples e popular: a do castelo de cartas. "O euro é frágil, é como construir um castelo de cartas. Se você tirar a carta da Grécia, os outros entram em colapso", disse ele em entrevista para um canal italiano.
  • 4. O vírus Ebola

    4 /8(Cynthia Goldsmith/AFP)

    Outra metáfora comum nos discursos sobre efeitos em cadeia na economia global é a da doença: o "contágio" financeiro.  No caso da Grécia, o uso mais notório foi feito por Angel Gurria, secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento) ainda em 2010. Em entrevista para a Bloomberg, ele disse: "isso não é uma questão de contágio. O contágio já aconteceu. Isso é como o ebola . Quando você percebe que tem, precisa cortar a sua perna para sobreviver". Curiosamente, a doença só voltaria para as manchetes mundiais no início do ano passado. O novo surto em países da África Ocidental como Sierra Leoa e Libéria já matou até agora mais de 10 mil pessoas.
  • 5. Afogamento simulado

    5 /8(Mark Wilson/Getty Images)

    O afogamento simulado é uma técnica de tortura que consiste em despejar água sobre um pano ou toalha colocado no rosto de alguém imobilizado. Muitos oficiais americanos evitar classificar como "tortura" o método, amplamente utilizado na guerra contra o terror. O escritor Christopher Hitchens aceitou se submeter a técnica para dar seu veredicto (conclusão: é tortura sim).  Varoufakis foi o primeiro a chamar de "afogamento simulado fiscal" as políticas duras de austeridade que a União Europeia exigiu como contrapartida dos seus pacotes de resgate. Em uma entrevista recente para a revista alemã Der Spiegel, ele disse que os torturadores são os "tecnocratas do trio FMI-BCE-Comissão Europeia enviados para implementar e monitorar um programa destrutivo" e defendeu a analogia: "Conseguiu capturar sua atenção, não é mesmo? Então funcionou."
  • 6. Cavalo de Tróia

    6 /8(Domínio público/Giovanni Domenico Tiepolo)

    Desde que o partido de esquerda Syriza chegou ao poder no final de janeiro, a Grécia está na corda bamba, tendo que se mostrar aberta a negociações sem recuar da promessa de mudar fundamentalmente os acordos de resgate. No dia 19 de fevereiro deste ano, os gregos enviaram uma carta para o grupo de ministros de Finanças da UE pedindo formalmente uma extensão de 6 meses do programa atual. A resposta dos alemães, vazada para a imprensa, tinha o seguinte trecho: "a proposta [grega] representa um cavalo de tróia, com o objetivo de garantir uma ponte de financiamento acabando com a substância do programa atual". Diz a lenda que após 10 anos de luta, os gregos deram um cavalo gigante como sinal de trégua aos troianos. O presente foi aceito e colocado no centro da cidade; no meio da noite, os soldados escondidos na estátua de madeira saíram e tomaram o território inimigo. Em tempo: dias depois da polêmica, os gregos enviaram uma lista de reformas prometidas e conseguiram uma extensão de 4 meses do programa atual.
  • 7. A perna amputada

    7 /8(.)

    Muita coisa mudou desde que a crise da Grécia estourou em 2010. Nas negociações atuais, uma tática da Alemanha para melhorar sua posição de barganha tem sido sinalizar que a Europa já não deve temer tanto assim uma possível "Grexit".  Há cerca de duas semanas, uma matéria do Financial Times afirmou que alguns oficiais alemães estão propagando a "teoria da perna amputada, segundo a qual a Grécia deve ser cortada como um membro gangrenado para poupar o resto do corpo da zona do euro". Outros continuam adeptos da metáfora do dominó - quando o primeiro cai, fica difícil segurar o processo.
  • 8. A pistola dágua

    8 /8(Zoom Zoom / Wikimedia Commons)

    A última metáfora da lista vem, novamente, do ministro Varoufakis. Em meados de janeiro, ele disse que o programa de compra de títulos do Banco Central Europeu para estimular a economia europeia e evitar a deflação equivale ao de "uma pistola d'água sobre um incêndio na floresta". Em entrevista publicada no seu blog, ele aliviou para o presidente do BCE, Mario Draghi , que sofreu constragimentos políticos e legais para agir de forma mais rápida e incisiva: "Não tenho dúvidas de que ele entende que o que está fazendo é muito pouco, muito tarde. Mas ele acha que uma pistola d'água é melhor que nada. Se há um fogo devastador, ele gostaria de usar o canhão d'água, e gostaria de ter usado antes, mas não foi permitido". Algum efeito, a pistola deve estar tendo - o otimismo com a economia europeia aumentou sensivelmente nas últimas semanas, e o crescimento está próximo do maior nível em 4 anos.
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