FMI corta projeção do PIB do Brasil em 2020 e aconselha reformas
Para o Fundo Monetário Internacional, desequilíbrio fiscal limita crescimento dos países da América Latina
Reuters
Publicado em 15 de outubro de 2019 às 11h11.
Última atualização em 15 de outubro de 2019 às 11h15.
São Paulo — O Fundo Monetário Internacional reduziu a projeção de crescimento para o Brasil em 2020 para 2% e avaliou que os desequilíbrios fiscais do país são um dos fatores que vão contribuir para manter a atividade econômica na América Latina com expansão anual abaixo de 3% no médio prazo.
No relatório Perspectiva Econômica Global, divulgado nesta terça-feira, o Fundo estimou que o Brasil deve crescer um pouco mais em 2019 do que o projetado anteriormente, mas mostrar uma recuperação mais fraca no ano que vem.
O Fundo destacou a necessidade de uma ambiciosa agenda de reformas no país para impulsionar o crescimento, bem como a manutenção da política monetária expansionista.
O FMI vê agora crescimento de 0,9% do Brasil em 2019, um aumento de 0,1 ponto percentual em relação à estimativa feita em julho, na atualização de seu relatório.
Entretanto, para 2020 o organismo cortou sua previsão para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) a 2,0%, de 2,4% antes.
"No Brasil, a reforma previdenciária é um passo essencial para garantir a viabilidade do sistema de seguridade social e a sustentabilidade da dívida pública", alertou o FMI no relatório, destacando que mais consolidação fiscal gradual será necessária para atingir o teto de gastos nos próximos anos.
Os números estão em linha com os do mercado. A mais recente pesquisa Focus do Banco Central mostrou que os economistas consultados veem uma expansão de 0,87% do PIB em 2019, indo a 2,00% em 2020.
Entre a agenda de reformas necessárias, o Fundo destacou a reforma tributária, a abertura comercial e o investimento em infraestruturas.
"A política monetária deve permanecer expansionista para sustentar o crescimento econômico, desde que as expectativas de inflação permaneçam ancoradas", disse o FMI.
A taxa básica de juros Selic foi reduzida em setembro em 0,50 ponto, para 5,50% ao ano, nova mínima histórica, com o BC indicando de forma explícita novo alívio monetário. No Focus, a expectativa é de que os juros terminem o ano a 4,75%.
O FMI passou a prever ainda inflação no Brasil de 3,8% em 2019 e 3,5% em 2020, ante respectivamente 3,6% e 4,1% na estimativa de abril. Os valores estão bem abaixo do centro da meta oficial, que é de 4,25% em 2019 e de 4% em 2020, ambos com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Para o déficit em transações correntes, o FMI estima que ele será de 1,2% do PIB em 2019, melhor do que a estimativa de rombo de 1,7% calculada em abril. Para 2020 a previsão é de déficit de 1,0%. A taxa de desemprego no Brasil, por sua vez, deve ficar segundo o Fundo, em 11,8% este ano, recuando a 10,8% no próximo.
América Latina
Para a América Latina e Caribe, o FMI reduziu com força suas expectativas, vendo um crescimento de apenas 0,2% em 2019 e de 1,8% em 2020, recuos respectivamente de 0,4 e 0,5 ponto percentual sobre julho.
Para essa revisão, o FMI citou principalmente problemas na oferta do setor de mineração do Brasil e fraqueza do investimento e consumo privado no México. À frente, a expectativa é de uma aceleração limitada.
"Na América Latina, o crescimento deve aumentar em relação ao 1,8% projetado para 2020, mas permanecer abaixo de 3% no médio prazo já que a rigidez estrutural, períodos fracos de comércio e desequilíbrios fiscais (principalmente no Brasil) pesam sobre as perspectivas", completou o FMI.
Já os mercados emergentes e em desenvolvimento devem acelerar o crescimento de 3,9% em 2019 para 4,6% em 2020.
"Cerca de metade disso se deve a recuperações ou recessões mais rasas em mercados emergentes como Turquia, Argentina e Irã; e o resto a recuperações onde o crescimento desacelerou significativamente em 2019 na comparação com 2018, como Brasil, México, Índia, Rússia e Arábia Saudita", explicou o FMI.