Fishlow: euro fraco é faca de dois gumes
Professor emérito da Universidade de Columbia diz que desvalorização da moeda europeia acelera recuperação da zona do euro, mas cria problema para os Estados Unidos
Da Redação
Publicado em 27 de outubro de 2010 às 16h35.
São Paulo - A desvalorização do euro frente ao dólar acelera a recuperação econômica dos países da zona do euro, mas cria um problema para os Estados Unidos. Na avaliação do professor emérito da Universidade de Columbia (Nova York) Albert Fishlow, o euro fraco estimula as exportações, mas "não é a solução definitiva, pois transfere o déficit em conta corrente da Europa para os Estados Unidos", disse.
Albert Fishlow esteve nesta quarta-feira (17) na sede do Grupo Abril, em São Paulo, onde concedeu uma entrevista ao site EXAME.com ( clique aqui para assistir ao vídeo ). O economista disse que é importante que os governos dos países europeus anunciem medidas fiscais para "tentar acabar com a especulação", mas afirmou que se todos cortarem gastos ao mesmo tempo, "não haverá crescimento nenhum". "A Grécia, por exemplo, não tem como eliminar todo o déficit como está planejado pelo FMI e pelas autoridades europeias", afirmou.
Fishlow prevê que, num prazo de seis meses a um ano, os estímulos monetários serão retirados nos Estados Unidos. "O Federal Reserve já tem limitado o acesso às linhas de redesconto."
O professor americano não acredita no risco de estouro de uma bolha imobiliária na China. "Pode ser que haja especulação, mas o governo chinês já atuou via alta de juros. Não vejo esse problema nos próximos anos", disse.
O economista, que também dirige o Centro de Estudos Brasileiros e o Instituto de Estudos para a América Latina na Universidade de Columbia, vê com preocupação a trajetória crescente dos gastos públicos no Brasil. "As pessoas falam do superávit primário, mas esquecem que o Brasil tem déficit nominal de 3% do PIB." E acrescenta: "Com déficit no setor público, o governo não tem como poupar e, consequentemente, não vai ter como investir no ritmo necessário para sustentar o crescimento da economia brasileira."
Questionado sobre a importância da economia nas eleições, Fishlow disse que há estudos que mostram que, nos Estados Unidos, o desempenho da economia decide o vencedor. "No Brasil, no entanto, isso ainda não está acontecendo. Porém, lembro que, em 1994, Fernando Henrique Cardoso foi eleito por causa do Plano Real."