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Fila na UTI

O BNDES deve emprestar dinheiro publico a empresas doentes?

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h56.

O hospital: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O médico: Carlos Lessa, presidente do BNDES. Pacientes na UTI: grandes empresas da aviação e do setor elétrico. A operação: salvá-las do risco de insolvência com injeção de dinheiro público.

Os rumos que o presidente Carlos Lessa pretende dar ao BNDES parecem com os de uma Unidade de Terapia Intensiva para empresas em dificuldades financeiras -- o que já fez com que ele batesse de frente com o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e entrasse no começo do mês para a lista de especulações de possíveis ex-integrantes do governo. "O BNDES é um banco de desenvolvimento, e não de investimento", disse Lessa, em seu discurso de posse. No governo Fernando Henrique, o BNDES fechou as portas da UTI e investiu somente em projetos economicamente viáveis e que representassem estímulo à exportação. Lessa, que tem a chave de um cofre com 34 bilhões de reais para emprestar em 2003, quer resgatar a cartilha rezada pelo BNDES até o início do governo Fernando Henrique: apoiar setores considerados estratégicos para o desenvolvimento do país.

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Os setores mais doentes são o elétrico e o aéreo, ambos com dívidas bilionárias e poucas chances de conseguir no mercado a solução para sair do vermelho. A Varig encabeça a lista das empresas mais deficitárias de seu setor. Deve no mercado cerca de 2,9 bilhões de reais. A TAM, com uma dívida em torno de 2 bilhões de reais, e a Vasp, devendo 1,2 bilhão, completam a lista. Na fila de pacientes do setor elétrico, quem inspira mais cuidados é a Cesp. A companhia acumula 13 bilhões de reais em dívidas e precisaria de cerca de 2,6 bilhões neste ano apenas para pagar juros e correção monetária, sem que isso reduzisse 1 centavo no total da dívida. Sua geração de caixa, projetada para 2003, não deve passar de 1,2 bilhão de reais, segundo analistas do setor. "A Cesp já deve 2,2 bilhões ao próprio BNDES", diz Sérgio Tamashiro, analista do Unibanco, especializado no setor elétrico. Um empréstimo, nesse caso, teria o efeito de uma aspirina. A Eletropaulo e a AES Elpa, do Grupo AES, também apresentam resultados deficitários. E a Light é mais uma com problemas estruturais, que resultam numa dívida de 4,6 bilhões de reais.

"Esse hospital de empresas não faz o menor sentido", afirma Maurício Levy, analista do setor aéreo da Fama Investimentos, do Rio de Janeiro. "Não adianta premiar com dinheiro barato empresas que foram mal administradas." Na opinião dos analistas ouvidos por EXAME, o BNDES precisaria condicionar uma ajuda financeira a mudanças no comando das empresas que demonstrem comprometimento em corrigir os erros que levaram à insolvência.

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