Economia

Espanha, modelo de políticas pró-crescimento, se rebela

Paralisia política na quarta maior economia da zona do euro ameaça deteriorar ainda mais um dos mercados de trabalho mais disfuncionais da Europa

Cento de empregos na Espanha. Abril de 2013.: reformas trabalhistas aprovadas há sete anos ainda são citadas com admiração por autoridades (Angel Navarrete/Bloomberg)

Cento de empregos na Espanha. Abril de 2013.: reformas trabalhistas aprovadas há sete anos ainda são citadas com admiração por autoridades (Angel Navarrete/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 7 de dezembro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 7 de dezembro de 2019 às 09h00.

A imagem da Espanha como garota-propaganda da Europa de políticas econômicas de estímulo ao crescimento começa a se desgastar.

As reformas trabalhistas aprovadas há sete anos ainda são citadas com admiração por autoridades de Frankfurt e Bruxelas como exemplo a ser seguido por outros países. Mas a paralisia política na quarta maior economia da zona do euro ameaça deteriorar ainda mais um dos mercados de trabalho mais disfuncionais da região.

No início do mês, os espanhóis elegeram um parlamento ainda mais dividido que o anterior, minando as esperanças de que os parlamentares pudessem aproveitar meia década de crescimento robusto com a injeção de mais adrenalina da economia. Enquanto a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, anseia por um novo “mix de políticas” para a região com o objetivo de impulsionar a expansão, a Espanha corre o risco de se tornar sua primeira decepção.

“Muitas das reformas que precisam ser implementadas - reformas do mercado de trabalho, pensões e educação - dependem muito do ciclo político”, disse María Jesús Fernández Sánchez, economista do think tank espanhol Funcas. “Elas não serão implementadas da maneira que precisam. Na verdade, há um risco real de que algumas das reformas anteriores sejam desfeitas. ”

As últimas grandes mudanças estruturais da Espanha ocorreram em 2012, após a dupla recessão do país. Uma das medidas permitiu reduzir os custos trabalhistas das demissões, e outra deu às empresas mais controle sobre as negociações salariais.

A saudável expansão econômica que se seguiu provocou aplausos de formuladores de políticas. Em fevereiro, a Comissão Europeia atribuiu o crescimento mais equilibrado a essas reformas. O ex-presidente do BCE, Mario Draghi, e colegas também elogiaram a Espanha, e o economista-chefe da instituição Philip Lane fez o mesmo na semana passada.

"Missão inacabada"

“Veja a Espanha, por exemplo, que vem crescendo muito, muito bem”, disse Labe ao jornal italiano “La” Repubblica. “Há um forte consenso de que algumas das políticas adotadas em termos de reformar, por exemplo, o mercado de trabalho, ajudaram.”

A Espanha também pode tipificar o que Lagarde identificou em seu depoimento em setembro ao Parlamento Europeu como um exemplo de “missão inacabada” em políticas estruturais.

“Não há reformas há sete anos”, disse Toni Roldan, ex-parlamentar do partido de centro Ciudadanos, agora diretor do Centro de Política Econômica e Economia Política da Universidade ESADE. “É uma grande oportunidade perdida.”

Esse cenário é parcialmente resultado da fragmentação política. Três novos partidos criaram um Parlamento cada vez mais fraturado, dificultando as tentativas de apostar nas reformas.

A paralisia corre o risco de não curar os males de um sistema educacional ineficaz e de uma taxa de desemprego de 14%, a segunda maior da região depois da Grécia. Apesar da mão de obra ociosa, as empresas espanholas se queixam com frequência de que não conseguem encontrar trabalhadores qualificados.

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