Economia

Escassez de mão de obra eleva baixos salários nos EUA

Apesar do grande número de ofertas disponíveis, milhões de americanos estão desempregados. Muitos não querem mais trabalhar por um salário miserável

Placa de anúncio de vagas na Flórida: maior preocupação para a volta do emprego nos EUA é a segunda onda do coronavírus em alguns estados (Marco Bello/File Photo/Reuters)

Placa de anúncio de vagas na Flórida: maior preocupação para a volta do emprego nos EUA é a segunda onda do coronavírus em alguns estados (Marco Bello/File Photo/Reuters)

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AFP

Publicado em 11 de agosto de 2021 às 12h58.

Última atualização em 11 de agosto de 2021 às 13h48.

A pandemia e a escassez de mão de obra elevam os baixos salários nos Estados Unidos até alcançar, no caso de grandes empresas, US$ 15 a hora - o salário mínimo há tempos reivindicado pelos democratas.

Os economistas dizem que, até agora, o aumento não alimenta o risco de inflação. Os números de julho parecem lhes dar razão, com uma alta de preços que desacelerou 0,5% em relação a junho (0,9%) e se manteve estável em um ano.

"Pela primeira vez, desde o fim da década de 1990, os empregados com baixos salários têm um pouco de vantagem para exigir melhores salários", afirma o economista David Cooper, do "think tank" americano Economic Policy Institute (EPI).

Apesar do grande número de ofertas disponíveis, milhões de americanos estão desempregados. Muitos não querem mais trabalhar por um salário miserável. Uma das consequências é que setores como o de alimentos têm de limitar o horário de funcionamento, apesar do retorno em massa dos clientes.

Para atrair candidatos, cada vez mais empregadores oferecem aumento salarial e benefícios sociais.

Na semana passada, a rede de farmácias CVS se somou à lista de grandes empresas - como Amazon, Target e Chipotle - que decidiu pagar US$ 15 por hora. Seus trabalhadores terão, no entanto, de esperar até julho de 2022 para que o novo valor entre em vigor.

No final de julho, o gigante do varejo Walmart anunciou que pagará todos os gastos escolares de alguns de seus trabalhadores americanos, no mais recente esforço do maior empregador privado do país para atrair, ou reter, assalariados, frente ao concorrente Costco, que paga melhor.

Pandemia deu poder de barganha ao trabalhador

"As empresas não têm outra opção, a não ser pagar", afirma Rubeela Farooqi, economista-chefe da High Frequency Economics.

"O que os democratas não conseguiram [impor um salário mínimo de US$ 15], as empresas estão fazendo por causa da pandemia", completou.

Nos Estados Unidos, o salário mínimo federal é de US$ 7,25, um nível que não mudou em 12 anos, embora vários estados tenham um piso mais alto.

Desde que tomou posse, em janeiro deste ano, o presidente Joe Biden tentou modificar a legislação em vigor, mas uma forte oposição no Senado obrigou-o a renunciar à proposta.

Em abril, Biden sancionou um decreto que aumenta para US$ 15 o salário mínimo dos trabalhadores contratados pelo governo federal, válido a partir do início de 2022, contra atuais US$ 10,95.

The spread of the coronavirus disease (COVID-19), in Fort Smith

FILA DE SEGURO DESEMPREGO NOS EUA: apesar da retomada econômica e das tantas vagas abertas, o desemprego ainda é uma preocupação real para o governo e a economia dos EUA. | Nick Oxford/Reuters / (Nick Oxford/Reuters)

A concorrência entre as empresas implica, pela primeira vez, um salário médio dos funcionários de supermercados e restaurantes em torno dos US$ 15 a hora, de acordo com o jornal The Washington Post.

"Cerca de 80% dos trabalhadores americanos agora ganham pelo menos US$ 15 por hora, em comparação com 60%, em 2014", observa o jornal.

E o aumento salarial deve continuar no ano que vem.

Os empregadores preveem aumentos médios de 3% em 2022, segundo pesquisa da consultoria Willis Towers Watson feita entre abril e junho, contra + 2,7%, no ano corrente.

"Reajuste pontual"

Os especialistas não acreditam que essa tendência vá se manter, necessariamente, para além da pandemia da covid-19.

"As estruturas da economia americana, que frearam o crescimento dos salários (...) durante décadas, não mudaram", ressalta Cooper.

"É um reajuste pontual dos salários mais fracos, que vai levar a um aumento do consumo", observa Gregory Daco, economista-chefe da Oxford Economics, para quem não se trata de um fenômeno "excessivamente restritivo para as empresas, que podem descarregar a alta de preços no consumidor".

Farooqi prevê o fim do crescimento salarial, devido ao alto número de trabalhadores desempregados no mercado.

"Não é provável que os salários continuem subindo, se as empresas conseguirem encontrar trabalhadores com facilidade", argumentou.

O salário médio por hora aumentou 0,4% em julho, na comparação com o mês anterior, e 4,7% em um ano, segundo números oficiais.

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