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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h25.
O primeiro confronto direto entre o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), terminou em um "empate técnico", segundo os analistas. Enquanto Dirceu recorreu a uma estratégia de defesa formalista e poupou o governo de eventuais acusações temor de parte do mercado -, Jefferson sustentou-se em sua retórica para pôr em dúvida a credibilidade do ex-ministro. "Por enquanto, ninguém venceu", afirma o analista político Ricardo Ribeiro, da consultoria MCM.
Segundo Ribeiro, Dirceu optou por uma linha "formalista" de defesa, recorrendo a aspectos da legislação para negar qualquer responsabilidade sobre eventuais desvios de conduta do Partido dos Trabalhadores (PT). "Sou responsável pelos meus atos como ministro-chefe da Casa Civil, mas não assumo os atos da direção do PT, porque não dirigia o PT", afirmou Dirceu durante seu depoimento. Dirceu declarou, também, que tratava apenas de assuntos pertinentes ao seu ministério e negou ingerências sobre outros órgãos do governo, como a Agência Brasileira de Inteligência ou a Polícia Federal.
Ao adotar essa postura, Dirceu mirou vários objetivos, na avaliação de Ribeiro. O primeiro foi o de se eximir de responsabilidades por supostas irregularidades no financiamento de campanhas eleitoras do PT, por alegar que estava licenciado da direção da legenda. Outra é evitar um processo de quebra de decoro parlamentar, por alegar que, à época das denúncias, estava afastado da Câmara por ser ministro.
Para os analistas, ao negar a participação em decisões do comando do PT, Dirceu procurou transferir toda responsabilidade para os ex-dirigentes do partido. "Ele está jogando o Delúbio e os outros aos chacais", afirma Rogério Schmitt, analista político da consultoria Tendências.
Jefferson
Já o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) recorreu à conhecida habilidade retórica para questionar a credibilidade das declarações de Dirceu. Alternando momentos de ironia e firmeza, procurando várias vezes olhar para as câmeras de televisão e não para a mesa, Jefferson procurou vincular Dirceu às decisões do PT. "O José Genoino [ex-presidente do PT] era vice-presidente do PT. O presidente, de fato, era o Dirceu", afirmou, durante seu pronunciamento.
"Em alguns momentos, Jefferson conseguiu abalar a imagem de Dirceu", diz Ribeiro, da MCM.
O parlamentar procurou levantar dúvidas sobre a afirmação de que Dirceu desconhecia as supostas transferências de recursos entre o PT e os partidos da base governista. "É inegável que isto existe. Lula não merecia o que José Dirceu fez na articulação do governo", disse Jefferson.