Economia

Embate entre governo e Congresso traz ameaça para reformas

A relação já abalada entre Executivo e Legislativo piorou após parlamentares aprovarem aumento de despesas com o BPC

Paulo Guedes. Foto: REUTERS/Adriano Machado (Adriano Machado/Reuters)

Paulo Guedes. Foto: REUTERS/Adriano Machado (Adriano Machado/Reuters)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 13 de março de 2020 às 08h00.

Última atualização em 13 de março de 2020 às 08h00.

A agenda de reformas, apontada pela equipe econômica como o remédio para combater os efeitos do coronavírus no PIB brasileiro, foi abalroada pelo agravamento da relação entre Congresso e governo.

A relação entre o Executivo e o Legislativo se agravou nas últimas semanas devido ao embate em torno do controle do orçamento de 2020 e ao apoio do presidente Jair Bolsonaro a manifestações populares contra outros poderes.

A situação piorou com a derrubada do veto do presidente ao aumento de despesas com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que adiciona R$ 20 bilhões aos gastos de 2020 e R$ 217 bilhões em 10 anos, segundo os cálculos do governo, colocando em risco a agenda de austeridade do governo. A mudança pegou investidores de surpresa e ajudou a derrubar os mercados brasileiros, já sob pressão em meio à derrocada dos ativos lá fora.

“A derrubada do veto foi um recado do Congresso ao governo”, disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, a jornalistas. Ele foi ao Congresso na noite de quarta-feira a pedido de Bolsonaro para buscar uma pacificação.

O ministro, ao lado do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendeu a aprovação de agenda de reformas como forma de ajudar o Brasil a combater a pandemia do coronavírus.

Até um dia antes do veto, o clima era de cobranças mútuas. De um lado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, criticou o governo por ainda não ter encaminhado ao Congresso suas propostas de reforma tributária e administrativa, consideradas vitais para a recuperação da economia.

De outro, Guedes mandou um ofício ao Congresso pedindo a votação de textos que já estão na Câmara e no Senado, como a autonomia do Banco Central e as PECs do pacto federativo.

Alerta

“Foi um sinal de alerta para chamar o governo a ter responsabilidade conjunta pelas reformas”, diz Christopher Garman, diretor executivo para Américas da Eurasia, sobre a derrubada do veto. “Há um mal estar com o fato de o presidente convocar manifestações quando o Congresso tem sido um parceiro em termos de reformas.”

A equipe econômica agora busca uma saída para evitar o impacto da derrubada do veto. Guedes afirmou que o governo vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal de Contas da União (TCU).

O ministro também fez um mea-culpa: “Fizemos besteira nos envolvendo em disputas políticas”, disse Guedes, acrescentando: “Fomos todos nós, Congresso, Senado, Câmara, Presidência, ministros, opinião pública”.

(Com a colaboração de Josue Leonel).

Acompanhe tudo sobre:CongressoCoronavírusGoverno BolsonaroPaulo GuedesPIB do Brasil

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor