Economia

Em resposta aos EUA, China suspende importação de produtos agrícolas

Retaliação acontece após EUA também falar em sanções devido à nova legislação de segurança nacional em Hong Kong

Estados Unidos e China: nova escalada de tensões podem por em risco acordo comercial de 2019. (Eblis/Getty Images)

Estados Unidos e China: nova escalada de tensões podem por em risco acordo comercial de 2019. (Eblis/Getty Images)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 1 de junho de 2020 às 10h56.

Última atualização em 1 de junho de 2020 às 14h35.

Autoridades da China disseram às principais empresas agrícolas estatais para interromper a compra de alguns produtos agrícolas norte-americanos, incluindo a soja, enquanto o governo de Pequim avalia a escalada das tensões com os Estados Unidos sobre Hong Kong, segundo pessoas a par da situação.

As tradings estatais Cofco e Sinograin receberam a ordem de suspender as compras, de acordo com uma das pessoas, que pediu para não ser identificada.

Os clientes chineses também cancelaram um número não especificado de encomendas de carne suína dos EUA, segundo uma das fontes. Empresas privadas não receberam a orientação de suspender as importações, de acordo com uma das pessoas.

A suspensão é mais um sinal de que o difícil acordo comercial de primeira fase entre as duas maiores economias do mundo está em risco.

Embora no mês passado o primeiro-ministro chinês Li Keqiang tenha reiterado a promessa de implementar o acordo assinado em janeiro, as tensões continuaram a aumentar desde então, em meio ao impasse sobre a decisão do governo de Pequim de aumentar seu domínio sobre Hong Kong.

A decisão enfraqueceu o apetite por risco que prevalecia nos mercados.

Hong Kong

Na sexta-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, disparou uma série de críticas contra o governo de Pequim após o anúncio da nova legislação de segurança nacional em Hong Kong.

Críticos dizem que a medida deve reprimir a dissidência e enfraquecer o princípio de “um país, dois sistemas”, que tem garantido a autonomia de Hong Kong desde 1997, quando os britânicos cederam o controle.

Cofco e Sinograin são as principais importadoras de produtos agrícolas da China. As empresas haviam feito cotações de 20 a 30 cargas de soja dos EUA na sexta-feira, mas seguraram as compras depois que Trump indicou que puniria autoridades chinesas, disse uma das pessoas. O governo de Pequim espera para ver os passos de Trump antes de decidir a próxima medida, disse uma das pessoas.

Nenhum representante do Ministério do Comércio respondeu a um fax com pedido de comentários. Funcionários da Sinograin e Cofco também não responderam às ligações.

A China concordou em comprar produtos agrícolas dos EUA no valor de US$ 36,5 bilhões para 2020, como parte do acordo comercial de primeira fase assinado em janeiro. No entanto, o surto de coronavírus interferiu nos planos.

A China conseguiu importar apenas US$ 3,35 bilhões em produtos agrícolas norte-americanos nos primeiros três meses do ano, o menor volume para o período desde 2007, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA.

Ainda assim, quando a China começou a reabrir gradualmente a economia depois do confinamento para controlar o surto de coronavírus, aumentou o ritmo de importações, incluindo uma carga de mais de 1 milhão de toneladas de soja dos EUA em apenas duas semanas em maio, e raras compras de óleo de soja e etanol.

Mas as tensões entre EUA e China começaram a aumentar. Trump culpa o país asiático de falta de transparência sobre a escala e o risco do surto de coronavírus. A escalada se refletiu nos mercados de commodities, e a China optou por comprar soja brasileira em vez do grão dos EUA.

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