Em 2015, recessão deve mudar dinâmica do pibinho
Com ajuste fiscal e câmbio desvalorizado, dinâmica da recessão deve mudar este ano; novos critérios do IBGE são vistos como positivos, mas confundem estimativas
João Pedro Caleiro
Publicado em 27 de março de 2015 às 12h26.
São Paulo – A economia brasileira não recuou, afinal, em 2014.
A taxa de crescimento de 0,1% é considerada “estabilidade”e veio levemente acima do que estava sendo projetado pelo mercado e pelo Banco Central.
Um fator que pesou foi a nova metodologia de cálculo que o IBGE passou a usar com base em recomendações internacionais. Os analistas consideram que ela é positiva, mas ainda vai demorar para ser totalmente entendida pelo mercado.
“Não houve tempo hábil para readequar as maneiras da projeção. A partir do momento que você tem novas bases de comparação, a perspectiva muda”, diz Otto Nogami, professor do Insper.
Pesquisa e investimento, por exemplo, eram consideradas “despesas” e entram agora como formação bruta de capital fixo. Isso ajudou a fazer a taxa de investimento sobre o PIB pular de 17,4% para 19,7% de um trimestre para o outro apesar do investimento estar, efetivamente, em queda.
Os economistas consideravam que uma taxa por volta de 25% era o mínimo necessário para o país crescer mais sem gerar pressões inflacionárias. Com os novos critérios, pode ser necessário rever este patamar.
Setores
De qualquer forma, os economistas não consideram que os números divulgados hoje mudem o cenário recessivo para este ano. A projeção do Boletim Focus é de uma queda do PIB de 0,78%.
Em 2014, exportações e importações andaram praticamente de lado enquanto a indústria continuou diminuindo, compensada por um aumento do consumo das famílias e do governo. Em 2015, algumas dessas tendências podem mudar de direção.
“Dadas as dificuldades da indústria de transformação e a baixa confiança, o setor vai continuar fraco. Isso pode ser um pouco mitigado pela extração mineral, já que se espera um crescimento do petróleo. Com o ajuste fiscal , o consumo do governo deve crescer menos. Por outro lado, com o câmbio desvalorizado, podemos ter uma melhora do setor externo”, diz Carlos Pedroso, economista-sênior do Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ Brasil.
Construção e ajuste
Ana Maria Castelo, pesquisadora do IBRE/FGV, diz que a correção da metodologia mostrou ao mesmo tempo a importância da construção civil para o ciclo de crescimento anterior como o esgotamento dessas forças.
“Essa correção metodológica foi bastante positiva, mas acende uma luz amarela porque se antes ela corrigia uma distorção, agora ela mostra que o setor está realmente bem desaquecido, como já sinalizaram a sondagem de confiança de ontem e os números do emprego.”
Ela diz que até pouco tempo, o cenário desenhado para 2015 era de poucas obras novas mas com continuidade das obras existentes. Agora, há o temor de que se o ajuste ficar muito difícil, o governo possa recorrer a paralisações para atingir a meta. Atrasos de salários já estão acontecendo no nível federal e estadual.
“As projeções atuais estão dentro de uma condicionante de que o governo consiga efetuar esse ajuste fiscal. Se o debate politico acabar se alongando demais, a perspectiva recessiva começa a atingir também 2016”, diz Otto.
São Paulo – A economia brasileira não recuou, afinal, em 2014.
A taxa de crescimento de 0,1% é considerada “estabilidade”e veio levemente acima do que estava sendo projetado pelo mercado e pelo Banco Central.
Um fator que pesou foi a nova metodologia de cálculo que o IBGE passou a usar com base em recomendações internacionais. Os analistas consideram que ela é positiva, mas ainda vai demorar para ser totalmente entendida pelo mercado.
“Não houve tempo hábil para readequar as maneiras da projeção. A partir do momento que você tem novas bases de comparação, a perspectiva muda”, diz Otto Nogami, professor do Insper.
Pesquisa e investimento, por exemplo, eram consideradas “despesas” e entram agora como formação bruta de capital fixo. Isso ajudou a fazer a taxa de investimento sobre o PIB pular de 17,4% para 19,7% de um trimestre para o outro apesar do investimento estar, efetivamente, em queda.
Os economistas consideravam que uma taxa por volta de 25% era o mínimo necessário para o país crescer mais sem gerar pressões inflacionárias. Com os novos critérios, pode ser necessário rever este patamar.
Setores
De qualquer forma, os economistas não consideram que os números divulgados hoje mudem o cenário recessivo para este ano. A projeção do Boletim Focus é de uma queda do PIB de 0,78%.
Em 2014, exportações e importações andaram praticamente de lado enquanto a indústria continuou diminuindo, compensada por um aumento do consumo das famílias e do governo. Em 2015, algumas dessas tendências podem mudar de direção.
“Dadas as dificuldades da indústria de transformação e a baixa confiança, o setor vai continuar fraco. Isso pode ser um pouco mitigado pela extração mineral, já que se espera um crescimento do petróleo. Com o ajuste fiscal , o consumo do governo deve crescer menos. Por outro lado, com o câmbio desvalorizado, podemos ter uma melhora do setor externo”, diz Carlos Pedroso, economista-sênior do Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ Brasil.
Construção e ajuste
Ana Maria Castelo, pesquisadora do IBRE/FGV, diz que a correção da metodologia mostrou ao mesmo tempo a importância da construção civil para o ciclo de crescimento anterior como o esgotamento dessas forças.
“Essa correção metodológica foi bastante positiva, mas acende uma luz amarela porque se antes ela corrigia uma distorção, agora ela mostra que o setor está realmente bem desaquecido, como já sinalizaram a sondagem de confiança de ontem e os números do emprego.”
Ela diz que até pouco tempo, o cenário desenhado para 2015 era de poucas obras novas mas com continuidade das obras existentes. Agora, há o temor de que se o ajuste ficar muito difícil, o governo possa recorrer a paralisações para atingir a meta. Atrasos de salários já estão acontecendo no nível federal e estadual.
“As projeções atuais estão dentro de uma condicionante de que o governo consiga efetuar esse ajuste fiscal. Se o debate politico acabar se alongando demais, a perspectiva recessiva começa a atingir também 2016”, diz Otto.