Economia

Eleição de Trump é vitória categórica contra globalização

"A economia mundial atravessa dificuldades e os que sofrem por isso têm a impressão de que a globalização é a responsável", disse o economista Katsurahata

EUA: o FMI alertou em sua reunião de outubro sobre a necessidade de integrar "todos o mundo, e não apenas alguns" na globalização (Getty Images)

EUA: o FMI alertou em sua reunião de outubro sobre a necessidade de integrar "todos o mundo, e não apenas alguns" na globalização (Getty Images)

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AFP

Publicado em 9 de novembro de 2016 às 13h04.

Após o Brexit, a vitória do republicano Donald Trump nos Estados Unidos, maior economia mundial, é uma nova mensagem dos "esquecidos da globalização" às suas elites contra os controversos acordos de livre-comércio.

"A economia mundial atravessa dificuldades e os que sofrem por isso têm a impressão de que a globalização é a responsável", reagiu o economista japonês Seiji Katsurahata após a vitória de Trump, que seduziu os eleitores americanos com um discurso virulento contra o livre-comércio.

"Os ideais da globalização se apagaram com o enfraquecimento da economia mundial" após a crise de 2008, acrescentou à AFP este especialista do Dai-ichi Life Research Institute.

"O sentimento geral, sobretudo o das classes populares, é que fazem com que elas paguem o preço da globalização", explicou há pouco tempo o economista francês Thomas Pikkety à AFP.

Uma opinião pública que se sentiu cada vez mais vulnerável diante de acordos negociados na sombra. "Há uma percepção muito clara, e penso que é verdadeira, de que estes acordos comerciais são concebidos para os interesses dos grandes grupos", explicou o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, durante uma visita recente a Paris.

E estas pessoas, cansadas dos fechamentos de fábricas, de seus problemas financeiros, e irritadas com os discursos dos líderes políticos e econômicos sobre a necessidade de liberalizar cada vez mais o comércio, querem que as coisas mudem.

Para surpresa das elites, o Brexit ganhou em junho e, em novembro, Donald Trump foi eleito presidente.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou em sua reunião de outubro sobre a necessidade de integrar "todos o mundo, e não apenas alguns" na globalização.

Durante a última cúpula do G20, em setembro, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, afirmou que os chefes de Estado dos países mais poderosos do mundo estavam determinados a "responder às críticas populistas e fáceis contra a globalização".

Mas sua mensagem não surtiu efeito. A rival de Trump, a democrata Hillary Clinton, também tentou aproveitar a onda de descontentamento durante sua campanha, dando uma guinada de 180 graus depois de ter apoiado em 2012 a controversa Associação Transpacífica (TPP).

Acordos de livre comércio prejudicados

A vitória de Trump ocorre num momento em que os acordos comerciais estão em perigo. A França pediu para suspender as negociações sobre o Tratado Transatlântico de Livre Comércio (TTIP ou Tafta) entre a União Europeia e os Estados Unidos.

E o acordo assinado entre Canadá e UE (CETA) precisou ser validado após uma forte pressão dos líderes europeus para que a Valônia, a região francófona da Bélgica, assinasse o texto ao qual se opunha.

A alguns meses de eleições cruciais na França e na Alemanha, Paris enviou na terça-feira uma série de propostas a Bruxelas para que as negociações destes acordos sejam mais democráticas e transparentes.

"Não haverá futuro europeu se não houver uma democracia extremamente forte", avisou o secretário de Estado francês, Matthias Fekl, que lembrou que "a Europa está ameaçada por tentações e tendências muito perigosas em seu seio", em referência ao avanço dos partidos populistas.

Após a vitória de Trump, os mercados aguardam suas primeiras medidas. "Prevemos que Trump começará a designar a China como uma manipuladora de divisas e que apresentará muitas denúncias contra a OMC", disse Paul Ashworth, o chefe economista do instituto Capital Economics.

"Também insistirá para renegociar o Alena (acordo de livre comércio da América do Norte)", que entrou em vigor há mais de 20 anos sob a presidência de Bill Clinton e inclui México, Canadá e Estados Unidos.

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