É cedo para o Brasil comemorar
Para o economista inglês John Williamson, ainda é necessário elevar a taxa de investimentos
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h52.
O ambiente econômico e de negócios do Brasil está mais confiável, mas não há sinais de que o país finalmente decolou rumo a um período de crescimento sustentado. Para estimular o desenvolvimento, é preciso ainda aumentar o nível dos investimentos, segundo o economista inglês John Williamson, criador do termo Consenso de Washington. Veja, a seguir, os principais trechos de seu depoimento a EXAME:
"Minha percepção é de que o Brasil superou o risco de uma crise, mas continua preso a uma modesta taxa de crescimento, pelo lado da produção, não superior a 4%. Penso que é muito cedo para proclamar uma nova era.
Ainda não vejo evidências de que o Brasil esteja decolando novamente. A taxa de investimento está se arrastando, e é preciso uma taxa mais alta para sustentar um ritmo maior de crescimento. O lado positivo é que os homens de negócio não precisam mais se preocupar de que o governo será indulgente com alguma aventura macroeconômica que terminará por provocar a perda de metade dos ativos deles. E isto pode fornecer as bases para a necessária expansão dos investimentos.
É errado dizer que não houve ganhos com as reformas promovidas pelo Brasil nos anos 90. A abertura levou a consideráveis ganhos de produtividade. Algumas privatizações, como o do setor de telefonia, claramente trouxeram melhor desempenho. Mas é possível que haja ganhos adicionais que só serão colhidos quando os empreendedores tiverem plena confiança no futuro da política macroeconômica.
A liquidez internacional é um fator positivo para o Brasil, mas tenho dúvidas sobre se isto é um fator de importância comparável aos altos preços das commodities, puxadas pelo rápido crescimento do Leste asiático, ou à garantia de continuidade do saneamento da macroeconomia brasileira.
Na minha opinião, as chances de uma nova crise macroeconômica diminuíram muito. A América Latina parece presa a uma má interpretação de nosso tempo, ao pensar que esse tipo de crise é uma parte permanente e inevitável da história."