Economia

Dilma sabe que economia precisa de empreiteiras da Lava Jato

Presidente afirmou que "ser capaz de combater a corrupção não pode significar a destruição de empresas privadas também"


	No discurso de abertura da primeira reunião ministerial de sua nova equipe, a presidente afirmou que "ser capaz de combater a corrupção não pode significar a destruição de empresas privadas também"
 (Roberto Stuckert/PR)

No discurso de abertura da primeira reunião ministerial de sua nova equipe, a presidente afirmou que "ser capaz de combater a corrupção não pode significar a destruição de empresas privadas também" (Roberto Stuckert/PR)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2015 às 09h27.

São Paulo - Dilma Rousseff reconheceu publicamente pela primeira vez que não se deve permitir a ruína de grandes empreiteiras brasileiras citadas no escândalo de propina que tem a Petrobras como protagonista, mostrando estar ciente de que isso prejudicaria ainda mais a combalida economia brasileira.

No discurso de abertura da primeira reunião ministerial de sua nova equipe, a presidente afirmou que "ser capaz de combater a corrupção não pode significar a destruição de empresas privadas também". "As empresas têm de ser preservadas, as pessoas que foram culpadas é que têm que ser punidas, não as empresas", enfatizou.

Dilma já tinha mencionado o escândalo da Petrobras publicamente em outras ocasiões importantes recentes, como em sua diplomação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 18 de dezembro último, e no discurso de posse no Congresso Nacional, em 1o de janeiro.

Nos dois momentos anteriores, porém, a presidente ignorou qualquer menção às companhias privadas denunciadas pelo Ministério Público Federal, entre elas as maiores empreiteiras do país, tendo optado por defender enfaticamente apenas a Petrobras: o nome da estatal foi repetido à exaustão, oito e nove vezes, respectivamente.

No discurso desta terça-feira, a Petrobras foi citada seis vezes e as empresas privadas, duas. Foi um evidente sinal de entendimento, pela presidente, de que não basta apenas recuperar a estatal, cujos contratos com sobrepreço teriam abastecido por muitos anos os bolsos de ex-funcionários, executivos de fornecedoras e políticos.

As seis grandes empreiteiras citadas na denúncia feita em meados de dezembro pelo Ministério Público e aceita pela Justiça estão envolvidas em grandes empreendimentos no Brasil, como sócias ou responsáveis pelas obras.

OAS, Camargo Corrêa, UTC Engenharia, Mendes Júnior, Engevix e Galvão Engenharia têm presença em aeroportos, rodovias e grandes hidrelétricas, para citar apenas alguns exemplos.

São projetos que representaram uma das principais apostas do primeiro mandato de Dilma e que continuarão sendo estratégicos para elevar os investimentos e movimentar a economia.

Mas o que mudou do fim do ano para cá que justifique um afago de Dilma às empresas privadas? No começo de janeiro, a OAS deixou de pagar juros sobre títulos de dívida no exterior, o que motivou as principais agências de classificação de risco a piorarem a nota de crédito do grupo.

Desde então, Moody's e Standard & Poor's têm reduzido os ratings de grandes construtoras no Brasil, e não apenas daquelas citadas na Lava Jato.

Isso significa, na prática, que vai ficar mais caro para essas companhias financiarem suas operações. Algumas delas negociam a venda de ativos para aliviar a pressão sobre sua solvência.

Um eventual colapso das empresas privadas citadas na Lava Jato representaria, portanto, a possível paralisação de obras fundamentais de infraestutura e com potencial de deixar dezenas de milhares de brasileiros sem emprego.

Dilma, claro, quer evitar que isso aconteça. Ela sabe que enfrenta um segundo mandato repleto de desafios, com a inflação acima do teto da meta mesmo com a elevação da taxa básica de juro Selic, aumento das apostas de recessão da economia em 2015 e piora do mercado de trabalho.

O governo já indicou que vê como saída acordos de leniência caso sejam propostos pelas empresas acusadas dentro da Lava Jato, como disse recentemente à Reuters o ministro da Advocacia-Geral da União, Luís Inácio Adams.

Para ele, um acordo de leniência é bom para a empresa, por evitar o risco de que ela feche as portas, e "fortalece o processo de recuperação de patrimônio" desviado.

A discussão aqui não é se deveria haver menor concentração de negócios nas mãos de uma dezena de empreiteiras de grande porte no Brasil.

É claro que seria mais proveitoso para o país ter um número maior delas, mas o fato é que são poucas as que hoje têm musculatura financeira para participar de empreendimentos que exijam investimentos vultosos, uma realidade construída ao longo de décadas e que não se muda repentinamente.

* Esta coluna foi publicada na terça-feira, 27 de janeiro, no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters.

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCorrupçãoDilma RousseffEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEscândalosEstatais brasileirasFraudesGás e combustíveisGovernoIndústria do petróleoOperação Lava JatoPersonalidadesPetrobrasPetróleoPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor