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Dificuldade em demitir gera "salas da expulsão" no Japão

Empresas como Sony criam locais especiais para funcionários que não podem ser demitidos passarem o dia sem trabalhar

EXAME.com (EXAME.com)

João Pedro Caleiro

Publicado em 22 de agosto de 2013 às 16h10.

São Paulo – Um fenômeno curioso está acontecendo no Japão. As regras para demitir alguém no país são tão rigorosas que algumas empresas acabam enviando funcionários antigos para as “oidashibeyas”. Nestas “salas da expulsão”, eles passam semanas ou meses a fio sem responsabilidades.

Uma reportagem do New York Times no último fim de semana acompanhou a história de Shusaku Tani. Empregado da Sony há 32 anos, ele não aceitou uma proposta de aposentadoria precoce depois que sua vaga no Centro de Tecnologia em Sendai foi eliminada.

Agora, ele passa seus dias lendo jornais, navegando na web e estudando com outros 40 quase-ex-funcionários em uma “sala de desenho de carreira”. A ideia é que o tédio se torne tão esmagador que ele desista e saia voluntariamente – há dois anos nesta rotina, ele se nega.

A empresa afirma que vai realocá-lo para outro centro localizado a mais de uma hora de distância, opção que ele diz aceitar. De acordo com jornais locais, outras companhias como Panasonic, NEC e Toshiba também tem suas “salas de expulsão”. Elas alegam que oferecem pacotes de saídas generosos e treinamento para quem quiser ser realocado.

Histórico

Isso é resultado de um mercado de trabalho que, como tantas outras coisas no Japão, não encontra equivalente em nenhum outro lugar do mundo. Lá, a relação entre empregado e empregador é vista como algo de longo prazo, essencial para a harmonia social, e demissões em massa não são bem vistas. A maior taxa de desemprego no país nos últimos 60 anos foi de 5,4% em 2002.

É esperado que funcionários trabalhem intensamente e muitas horas por dia (há até um termo específico – "karoshi" – para “morte por excesso de trabalho”) com lealdade à sua empresa. Em troca, eles recebem estabilidade e participação nos resultados.


Esta dinâmica funcionou muito bem por muito tempo: o Japão saiu derrotado da Segunda Guerra Mundial e cresceu até se tornar a segunda maior economia do mundo nos anos 1980. De 1991 pra cá, porém, o país estacionou – e a rigidez do mercado de trabalho está entre os motivos.

O primeiro-ministro japonês Shinzo Abe assumiu no final do ano passado com uma agenda ambiciosa para tirar a economia da letargia, e os resultados já estão aparecendo. A flexibilização do mercado de trabalho está nos planos, mas ainda não saiu do papel e deve continuar enfrentando resistência.

Outras salas

A exótica ideia das companhias japonesas lembra também os “centros de realocação” nova-iorquinos, onde professores das escolas públicas acusados de infrações esperavam a resolução dos seus casos continuando a receber salários.

Apelidadas de “salas de borracha”, em referência a instituições psiquiátricas, elas foram até tema de documentário e acabaram oficialmente em 2010.

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São Paulo – Um fenômeno curioso está acontecendo no Japão. As regras para demitir alguém no país são tão rigorosas que algumas empresas acabam enviando funcionários antigos para as “oidashibeyas”. Nestas “salas da expulsão”, eles passam semanas ou meses a fio sem responsabilidades.

Uma reportagem do New York Times no último fim de semana acompanhou a história de Shusaku Tani. Empregado da Sony há 32 anos, ele não aceitou uma proposta de aposentadoria precoce depois que sua vaga no Centro de Tecnologia em Sendai foi eliminada.

Agora, ele passa seus dias lendo jornais, navegando na web e estudando com outros 40 quase-ex-funcionários em uma “sala de desenho de carreira”. A ideia é que o tédio se torne tão esmagador que ele desista e saia voluntariamente – há dois anos nesta rotina, ele se nega.

A empresa afirma que vai realocá-lo para outro centro localizado a mais de uma hora de distância, opção que ele diz aceitar. De acordo com jornais locais, outras companhias como Panasonic, NEC e Toshiba também tem suas “salas de expulsão”. Elas alegam que oferecem pacotes de saídas generosos e treinamento para quem quiser ser realocado.

Histórico

Isso é resultado de um mercado de trabalho que, como tantas outras coisas no Japão, não encontra equivalente em nenhum outro lugar do mundo. Lá, a relação entre empregado e empregador é vista como algo de longo prazo, essencial para a harmonia social, e demissões em massa não são bem vistas. A maior taxa de desemprego no país nos últimos 60 anos foi de 5,4% em 2002.

É esperado que funcionários trabalhem intensamente e muitas horas por dia (há até um termo específico – "karoshi" – para “morte por excesso de trabalho”) com lealdade à sua empresa. Em troca, eles recebem estabilidade e participação nos resultados.


Esta dinâmica funcionou muito bem por muito tempo: o Japão saiu derrotado da Segunda Guerra Mundial e cresceu até se tornar a segunda maior economia do mundo nos anos 1980. De 1991 pra cá, porém, o país estacionou – e a rigidez do mercado de trabalho está entre os motivos.

O primeiro-ministro japonês Shinzo Abe assumiu no final do ano passado com uma agenda ambiciosa para tirar a economia da letargia, e os resultados já estão aparecendo. A flexibilização do mercado de trabalho está nos planos, mas ainda não saiu do papel e deve continuar enfrentando resistência.

Outras salas

A exótica ideia das companhias japonesas lembra também os “centros de realocação” nova-iorquinos, onde professores das escolas públicas acusados de infrações esperavam a resolução dos seus casos continuando a receber salários.

Apelidadas de “salas de borracha”, em referência a instituições psiquiátricas, elas foram até tema de documentário e acabaram oficialmente em 2010.

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