Economia

Diferença de avaliações do setor elétrico causa dificuldade

Especialista mostrou estudos que apontam diferença entre os dados do ONS e a realidade dos reservatórios do país


	Usina de Itaipu: especialista citou como exemplo a operação de Itaipu.
 (Arquivo/Agência Brasil)

Usina de Itaipu: especialista citou como exemplo a operação de Itaipu. (Arquivo/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 2 de fevereiro de 2015 às 21h46.

Rio de Janeiro - A diferença entre as informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a realidade da disponibilidade de geração de energia do país tem causado dificuldades ao planejamento do setor, e é um dos motivos do esvaziamento dos reservatórios.

A conclusão é do presidente da PSR, empresa de consultoria em eletricidade e gás natural, Mário Veiga, que participou hoje (2) do seminário A crise Hídrica e a Geração de Energia Elétrica, coordenado pelo Instituto Luiz Alberto Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), com especialistas do setor, no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão, zona norte da cidade.

"A realidade está descolada do modelo, porque existem restrições operativas na vida real. Uma delas são as restrições de transmissões que, na vida real, são muito piores do que no modelo. Outra coisa é que há 20 anos o Nordeste está abaixo da média”, disse, destacando uma das regiões do país que enfrenta dificuldades.

Mário Veiga mostrou estudos que apontam diferença entre os dados do ONS e a realidade dos reservatórios do país. Ele acredita que isso explica o motivo do sistema ter esvaziado. Como exemplo, citou a operação de Itaipu.

“Se a Usina de Itaipu esvaziar, perde altura de queda. Ninguém esvazia Itaipu, não existe hipótese. Os modelos de simulação do governo nem aceitam como dados de entrada, a hipótese. Apesar disso, Itaipu esvaziou, pela primeira vez na história, violentamente, em 2013 e 2014. Isso é típico de operação in extremis. Não estou dizendo que o operador operou errado. Ele está operando em condições muito difíceis, igual aconteceu no dia 19 de janeiro, em que o operador foi forçado a fazer blackout controlado para evitar um colapso do país. Está certo o que ele fez, mas não é normal fazer um blackout controlado”, esclareceu.

Mário Veiga acrescentou que não se pode basear os cálculos em avaliações por períodos mensais. Como dizer que a hidrologia de 2014 foi a pior. “Não adianta pegar em meses específicos. O que interessa é o conjunto da obra".

Em sua avaliação, o país tem reservatórios para não ficar vulneráveis a variações de até três anos de seca, mas não é isso que vem ocorrendo.

“Se a gente pegar o conjunto 2012, 2013 e 2014, o santo não pode ser culpado. Ele estava ajudando. É isso que me preocupa com as novas declarações do governo, que Deus vai ajudar. Na verdade, Deus já estava ajudando”, completou.

Já para o coordenador do Laboratório de Hidrologia da Coppe, professor Paulo Canedo, é preciso aumentar o controle social para exigir atitudes dos governantes.

“A população tem que entender que a escassez da água implica aumento tarifário. O aumento tarifário se impõe, mas o governante pode querer diluir nas camadas mais pobres da população. É justo”, analisou.

Outro fator que precisa ser atacado, segundo ele, é o desperdício causado pelas empresas de saneamento. “No Rio de Janeiro se produz 654 litros por habitante/dia, e a população não consome isso. Então, dentro desse número tem o consumo e uma perda”, avaliou, acrescentando que é uma dura realidade que precisa ser enfrentada.

O diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica, professor Pedro Dias, disse que em geral o período conhecido como veranico (sem chuva) costuma durar cerca de 10 ou 15 dias, mas o que ocorreu, tanto em 2014 como no início de 2015, foi uma interrupção do círculo regular de chuva.

“O principal é a distribuição da chuva. Como ela caiu. No caso de São Paulo, o que vem caracterizando o sistema nos últimos tempos é a questão as chuvas não terem sido contínuas, típicas desta fase”, contou.

Para o especialista, é esta quantidade de chuva contínua que contribui para o aumento do volume de água nos reservatórios. “Isso levou também uma série de problemas para Minas Gerais, para o [Rio] São Francisco. Esta seca de Minas Gerais é extremamente severa no sul de Minas e no sistema Cantareira [em São Paulo]”, indicou.

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