Arco-íris em plantação de café sendo irrigada em fazenda no interior de São Paulo (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de outubro de 2014 às 17h19.
São Paulo - Uma demora para o desenvolvimento das chuvas nas principais áreas de café arábica do Brasil, num mês em que normalmente ocorre a principal florada para a próxima safra no maior produtor global, eleva as preocupações com a colheita de 2015/16, catapultando os preços nesta segunda-feira.
As áreas de café deverão continuar secas em sua maioria nos próximos 15 dias, e só depois disso receberão níveis normais de precipitações, ao final de outubro, disseram meteorologistas nesta segunda-feira.
O café em Nova York começou a semana com alta de quase 10 por cento, para uma máxima de mais de dois anos e meio de 2,255 dólares por libra-peso, com o mercado reagindo a previsões climáticas numa situação de grande déficit hídrico nas regiões produtoras brasileiras, após os cafezais terem sofrido com estiagem atípica no último verão, um dos mais secos da história.
"Cada dia sem chuva, a sede aumenta, e está caindo muita folha dos cafezais... está desfolhando os pés de café e secando os ramos... Uma chuva mais cedo iria manter o potencial que a gente está estimando... Se demorar muito a chover, só Deus sabe...", afirmou o agrônomo José Braz Matiello, da Fundação Procafé, órgão de pesquisa do setor cafeeiro.
A safra de café arábica 2015/16 do Brasil tem potencial, segundo o pesquisador, para 27 milhões a 29 milhões de sacas de 60 kg, e a de café robusta ficaria entre 13 milhões e 14 milhões de sacas.
Para Matiello, haveria uma estabilidade na produção total do próximo ano ante 2014/15, para 43 milhões de sacas, mas muito em função de um crescimento da safra de café robusta. "O divisor de águas aí é o conilon (robusta), aparentemente está bom."
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vê uma safra 14/15 acima da previsão da fundação, em 45 milhões de sacas, sendo 32 milhões de arábica.
Matiello, que esteve recentemente no Sul de Minas, principal região produtora de café do Brasil, disse que a situação ainda é crítica com relação às floradas para 2015.
"Tem lugares que não abriu flor, outros abriu um pouco, outros abriu normal, as lavouras estão murchas, isso na principal área produtora".
Segundo o pesquisador, uma vez que a florada ainda não está estabelecida na maioria das regiões, é cedo para afirmar se o potencial vai ser alcançado ou não.
Efeito da Safra Anterior
Ele disse ainda que as lavouras que não frutificaram na última safra ou que passaram por poda anteriormente têm maior potencial produtivo, mas, claro, precipitações são necessárias de qualquer modo.
"As lavouras que estavam podadas, que descansaram da produção, elas estão com nível de folha suficiente, desde que chova para abrir a flor...", disse.
Quando os preços do café estavam em níveis muito baixos, antes mesmo da seca do início do ano, muitos cafeicultores optaram pela poda, praticamente abrindo mão da safra 2014 e visando uma produção maior em 2015.
O gerente de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé, a maior cooperativa de cafeicultores do Brasil, Mário Ferraz, lembrou que a próxima safra já seria uma de baixa no ciclo bianual do arábica, e que muitas das lavouras, embora não tenham produzidos bons frutos por conta da seca, tiveram uma frutificação intensa em 14/15.
"Se essa chuva demorar para vir, o déficit hídrico vai se agravar... já seria um ano de safra mais baixa, principalmente no Sul de Minas... quanto mais demorar, mais vai se agravar, com certeza vai ter prejuízo, as lavouras estão depauperadas", afirmou Ferraz, evitando fazer estimativas.