Crise do coronavírus pode acelerar inflação global, diz Morgan Stanley
Medidas para conter vírus agravam desigualdades sociais. Para lidar com o problema, governos terão de reorganizar as forças que pressionam preços há décadas
Ligia Tuon
Publicado em 12 de maio de 2020 às 06h02.
Última atualização em 12 de maio de 2020 às 06h02.
A crise de coronavírus pode acabar com um período de 30 anos de forças desinflacionárias e sinalizar o retorno de maior pressão inflacionária que deve estourar metas dos bancos centrais, segundo o Morgan Stanley.
“Pela primeira vez em uma década, finalmente estamos conseguindo alívio monetário e fiscal coordenado, uma dinâmica de política que consideramos essencial para sair do ciclo de baixo crescimento e baixa inflação ”, disse Chetan Ahya, economista-chefe e responsável global de economia do Morgan Stanley, em relatório de pesquisa. “A escala de afrouxamento também é sem precedentes durante tempos de paz.”
Os principais bancos centrais têm cortado taxas de juros e aumentado a compra de títulos, enquanto governos destinaram mais de US$ 8 trilhões em estímulos para amortecer o impacto das paralisações impostas para conter a propagação do vírus. Essas medidas, combinadas com prováveis programas para combater a desigualdad e de riqueza, começarão a impulsionar a inflação, disse Ahya.
As medidas de governos para conter o vírus agravam as desigualdades existentes entre ricos e pobres. Para lidar com o problema, segundo Ahya, formuladores de políticas terão que tomar medidas que reorganizem as forças que pressionam os preços há décadas: regras de comércio, tecnologia e titãs corporativos globais.
“Mexer nesse trio também significa romper as principais forças desinflacionárias estruturais dos últimos 30 anos”, afirmou.
A avaliação do Morgan Stanley contrasta com o consenso emergente de que a recessão global que se aproxima deve aprofundar as tendências de desinflação e pode até levar algumas economias à armadilha deflacionária vista no Japão desde a década de 1990. Vários itens como petróleo, cobre, hotéis e vestuário registram queda de preços em meio aos confinamentos que encolhem a demanda.
Ahya afirmou que a maior desigualdade e política monetária e fiscal abertamente expansionista colocam os EUA na posição de maior risco de aceleração da inflação durante esse ciclo.
“Vemos a ameaça de inflação a partir de 2022, que ficará acima das metas dos bancos centrais neste ciclo”, disse. “As forças motrizes da inflação já estão alinhadas, e uma mudança de regime está em andamento. A tendência desinflacionária de curto prazo rapidamente dará lugar à reflação e, depois, à inflação.”