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Crise do coronavírus aumenta risco de default em países emergentes

Brasil, México e África do Sul são os países que apresentam mais chances de ficarem inadimplências com a crise econômica gerada pelo coronavírus

Coronavírus: Argentina e Líbano já não conseguiram cumprir os vencimentos (Antonio RODRIGUEZ/AFP)
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AFP

Publicado em 27 de maio de 2020 às 12h40.

Última atualização em 27 de maio de 2020 às 13h38.

A crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus pode desencadear uma série de inadimplências no mundo - dizem os analistas, apontando a situação crítica nos países pobres e as dificuldades dos países emergentes, membros do G20, como Brasil, México e África do Sul.

"Haverá um certo número de defaults", depois dos da Argentina na sexta-feira passada, e do Líbano, no início de março, disse à AFP uma fonte especialista em negociações de dívida soberana.

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Os dois países, que não conseguiram cumprir os vencimentos, estavam em dificuldades antes da pandemia e seu default já era dado como certo.

"A questão agora é evitar o maior número possível, porque a reestruturação da dívida é sempre muito cara para todos", acrescenta a mesma fonte, que estima que outros países em breve terão problemas financeiros.

Por exemplo, Cuba, que quer suspender o pagamento de sua dívida com o Clube de Paris até 2022, segundo várias fontes diplomáticas consultadas pela AFP.

Em um estudo recente, a agência americana de classificação de risco Fitch previu "um recorde de defaults" de Estados para este ano e estimou que já havia se igualado a 2017 com os casos do Líbano, Argentina e Equador, país que considera inadimplente.

Sua concorrente S&P acredita que a queda nos preços do petróleo "enfraqueceu os fundamentos da dívida soberana, especialmente em países que já estavam enfrentando tensões orçamentárias, ou dependiam de financiamento externo antes da epidemia".

Diante do medo dos Estados que perderam receita de petróleo e matérias-primas, os países do G20 concordaram em meados de abril em conceder uma moratória ao pagamento de serviços da dívida (juros) aos 77 países mais pobres do mundo.

"A ideia é economizar tempo e permitir que todas as margens disponíveis sejam empregadas para lidar com a crise", destacou a fonte, que lembra que esses vencimentos deverão ser pagos a partir de 2022 por três anos.

"Claramente não é o fim da história para esses países", reconheceu.

"Em 2021-2022, é provável que alguns deles passem por uma fase muito mais profunda de reestruturação da dívida, porque ela se ornará insustentável. Em alguns casos, pode já ser", completou.

Efeito dominó?

Mas teme-se, acima de tudo, pelos grandes países emergentes, alguns dos quais membros do G20.

Segundo Ludovic Subran, economista-chefe da seguradora alemã Allianz, "alguns países conseguirão manter uma moeda estável e continuarão a se endividar sem problemas, pois estão praticamente ligados a títulos de refúgio", como os "títulos" do Tesouro dos EUA.

Outros, "grandes países emergentes como México, Brasil, ou África do Sul, estarão em uma situação um tanto difícil, e a credibilidade de

suas instituições será testada", alertou.

Desde o início da pandemia, as três agências de classificação (S&P, Fitch e Moody's) rebaixaram a nota da África do Sul, que está em uma crise há mais de uma década caracterizada por crescimento lento, deterioração das finanças públicas e desemprego em massa.

Moody's e Fitch sancionaram o México em meados de abril. Mas a S&P constatou que "a volatilidade diminuiu" para alguns países emergentes, após o massivo fluxo de capital no início da crise.

Graças às políticas dos bancos centrais na Europa e nos Estados Unidos, muitas economias emergentes também conseguiram manter as taxas baixas, sem aumentá-las para proteger suas moedas.

Segundo Subran, o objetivo agora é impedir que os defaults argentino e libanês se espalhem.

"Tenho a impressão de que todos trabalharão lado a lado para que isso não aconteça. Os países do Norte não têm interesse em deixar correr livre uma onda de inadimplência. Eles perderiam demais", avaliou.

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