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Cortes na Petrobras são desastrosos para Macaé

A antes próspera Macaé, chamada de capital do petróleo, está sofrendo com a queda nos preços da commodity e com o escândalo de corrupção na Petrobras

Porto de Imbetiba, em Macaé: caminhar por essa cidade de 230 mil habitantes dá uma ideia da ascensão e da queda do Brasil (Marcelo Correa/EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 3 de fevereiro de 2015 às 20h45.

Brasília/São Paulo - Maria Viana checa as mensagens todos os dias para ver se mais algum estudante se cadastrou para suas aulas de inglês na cidade brasileira de Macaé.

Os pais ainda estão telefonando, mas é mais provável que seja para cancelar a participação dos filhos do que para inscrevê-los.

A antes próspera Macaé -- chamada, no setor, de capital do petróleo do Brasil -- está sofrendo com a queda dos preços do petróleo e com o escândalo Lava Jato de corrupção na Petrobras , que está levando a empresa petrolífera administrada pelo Estado e algumas das empresas que prestam serviços a ela a cortarem gastos.

Caminhar por essa cidade de 230.000 habitantes dá uma ideia da ascensão e da queda do Brasil. A economia de Macaé, onde quase metade das empresas depende do setor petrolífero, se multiplicou por sete em uma base nominal na década até 2012, quando o Brasil surfava a onda das commodities e dos mercados emergentes, segundo números do IBGE.

Agora que ambas as coisas vão mal, o mesmo acontece com a boa sorte de Macaé.

“Todo mundo está em pânico”, disse Viana. “Nós não sabemos o que vai acontecer. Quem vai ser demitido? Quais vão ser as próximas empresas a entrarem com pedido de recuperação judicial?”.

O programa de imersão no inglês de Viana é tudo o que restou da International School of Macaé, aberta em 2005 e fechada sete meses atrás no meio do ano letivo porque as empresas começaram a demitir funcionários ou transferi-los para o exterior.

Do México à Dinamarca

As dificuldades de Macaé são as mesmas que estão prejudicando cidades petroleiras ao redor do mundo, do México à Dinamarca, depois que o preço do petróleo caiu mais de 50 por cento em julho.

No México, os esforços da produtora de petróleo estatal Pemex para economizar até US$ 3 bilhões neste ano em aquisições e taxas contratuais fez com que vários milhares de trabalhadores terceirizados perdessem seus empregos, segundo uma câmara empresarial local. A Royal Dutch Shell Plc disse no dia 14 de janeiro que cancelou um projeto de US$ 6,5 bilhões no Catar e a Schlumberger Ltd. disse no dia 16 de janeiro que estava demitindo cerca de 9.000 pessoas.

A cerca de 190 quilômetros a nordeste da cidade do Rio de Janeiro, Macaé serve de base para a exploração dos campos de petróleo offshore na Bacia de Campos. A área responde por cerca de 80 por cento da produção da Petrobras e gerou 97.000 empregos diretos e indiretos no ano passado, disse a Petrobras em uma resposta a perguntas por e-mail.

O número total de plataformas offshore em operação no Brasil caiu de 58 há um ano para 46 hoje, segundo dados compilados pela Bloomberg. A Transocean Ltd. atualmente tem seis plataformas em operação no Brasil, contra nove em 2012, e a Brasdril, a unidade local da Diamond Offshore Drilling Inc., passou de 13 para seis, segundo relatórios das frotas. Ambas as empresas preferiram não comentar após fornecerem informações disponíveis publicamente.

“Nós sempre temos esperança de que as empresas venham para ficar, mas elas dependem em grande parte dos contratos com a Petrobras”, disse o secretário de Planejamento de Macaé, João Manuel Alvitos Garcia, em entrevista. “Quando esses contratos terminam e não são renovados, obviamente essas empresas buscam outros mercados”.

Ele disse que os royalties do petróleo para a cidade poderiam chegar neste ano à metade dos R$ 576 milhões recebidos em 2014.

A Petrobras disse em um comunicado de resultados na semana passada que poderá vender US$ 3 bilhões em ativos neste ano. O preço dos contratos futuros refletirá a queda nos preços do petróleo, disse a empresa em resposta a questões por e-mail.

Sinais de alerta

O primeiro indicativo de uma desaceleração veio em meados de 2013, quando a Petrobras começou a mudar os recursos da exploração para a perfuração, que exige menos trabalhadores, segundo Vandré Guimarães, secretário de desenvolvimento econômico da cidade. Com apenas 45 das 11.000 empresas que operam em Macaé representando 80 por cento do imposto de renda coletado, a cidade está se preparando para um 2015 magro.

As matrículas na International School of Macaé tiveram um pico em 2013, com 45 estudantes dos EUA, Argentina, França e México, entre outros países. Agora a maioria foi embora e se os tempos não melhorarem Viana, a coordenadora da escola, disse que poderia ir embora também. O irmão dela recentemente perdeu o emprego no setor offshore e ela está preocupada que o marido, que trabalha em uma plataforma, possa ficar desempregado em breve.

“A cidade estava cuspindo dinheiro” durante os anos de prosperidade, disse ela. “Era a cidade de ouro”.

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Os pais ainda estão telefonando, mas é mais provável que seja para cancelar a participação dos filhos do que para inscrevê-los.

A antes próspera Macaé -- chamada, no setor, de capital do petróleo do Brasil -- está sofrendo com a queda dos preços do petróleo e com o escândalo Lava Jato de corrupção na Petrobras , que está levando a empresa petrolífera administrada pelo Estado e algumas das empresas que prestam serviços a ela a cortarem gastos.

Caminhar por essa cidade de 230.000 habitantes dá uma ideia da ascensão e da queda do Brasil. A economia de Macaé, onde quase metade das empresas depende do setor petrolífero, se multiplicou por sete em uma base nominal na década até 2012, quando o Brasil surfava a onda das commodities e dos mercados emergentes, segundo números do IBGE.

Agora que ambas as coisas vão mal, o mesmo acontece com a boa sorte de Macaé.

“Todo mundo está em pânico”, disse Viana. “Nós não sabemos o que vai acontecer. Quem vai ser demitido? Quais vão ser as próximas empresas a entrarem com pedido de recuperação judicial?”.

O programa de imersão no inglês de Viana é tudo o que restou da International School of Macaé, aberta em 2005 e fechada sete meses atrás no meio do ano letivo porque as empresas começaram a demitir funcionários ou transferi-los para o exterior.

Do México à Dinamarca

As dificuldades de Macaé são as mesmas que estão prejudicando cidades petroleiras ao redor do mundo, do México à Dinamarca, depois que o preço do petróleo caiu mais de 50 por cento em julho.

No México, os esforços da produtora de petróleo estatal Pemex para economizar até US$ 3 bilhões neste ano em aquisições e taxas contratuais fez com que vários milhares de trabalhadores terceirizados perdessem seus empregos, segundo uma câmara empresarial local. A Royal Dutch Shell Plc disse no dia 14 de janeiro que cancelou um projeto de US$ 6,5 bilhões no Catar e a Schlumberger Ltd. disse no dia 16 de janeiro que estava demitindo cerca de 9.000 pessoas.

A cerca de 190 quilômetros a nordeste da cidade do Rio de Janeiro, Macaé serve de base para a exploração dos campos de petróleo offshore na Bacia de Campos. A área responde por cerca de 80 por cento da produção da Petrobras e gerou 97.000 empregos diretos e indiretos no ano passado, disse a Petrobras em uma resposta a perguntas por e-mail.

O número total de plataformas offshore em operação no Brasil caiu de 58 há um ano para 46 hoje, segundo dados compilados pela Bloomberg. A Transocean Ltd. atualmente tem seis plataformas em operação no Brasil, contra nove em 2012, e a Brasdril, a unidade local da Diamond Offshore Drilling Inc., passou de 13 para seis, segundo relatórios das frotas. Ambas as empresas preferiram não comentar após fornecerem informações disponíveis publicamente.

“Nós sempre temos esperança de que as empresas venham para ficar, mas elas dependem em grande parte dos contratos com a Petrobras”, disse o secretário de Planejamento de Macaé, João Manuel Alvitos Garcia, em entrevista. “Quando esses contratos terminam e não são renovados, obviamente essas empresas buscam outros mercados”.

Ele disse que os royalties do petróleo para a cidade poderiam chegar neste ano à metade dos R$ 576 milhões recebidos em 2014.

A Petrobras disse em um comunicado de resultados na semana passada que poderá vender US$ 3 bilhões em ativos neste ano. O preço dos contratos futuros refletirá a queda nos preços do petróleo, disse a empresa em resposta a questões por e-mail.

Sinais de alerta

O primeiro indicativo de uma desaceleração veio em meados de 2013, quando a Petrobras começou a mudar os recursos da exploração para a perfuração, que exige menos trabalhadores, segundo Vandré Guimarães, secretário de desenvolvimento econômico da cidade. Com apenas 45 das 11.000 empresas que operam em Macaé representando 80 por cento do imposto de renda coletado, a cidade está se preparando para um 2015 magro.

As matrículas na International School of Macaé tiveram um pico em 2013, com 45 estudantes dos EUA, Argentina, França e México, entre outros países. Agora a maioria foi embora e se os tempos não melhorarem Viana, a coordenadora da escola, disse que poderia ir embora também. O irmão dela recentemente perdeu o emprego no setor offshore e ela está preocupada que o marido, que trabalha em uma plataforma, possa ficar desempregado em breve.

“A cidade estava cuspindo dinheiro” durante os anos de prosperidade, disse ela. “Era a cidade de ouro”.

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