Coronavírus: até onde o preço do petróleo pode cair?
Para conter a queda de preços, Opep propôs a seus parceiros cortes adicionais de produção
AFP
Publicado em 7 de março de 2020 às 11h48.
Última atualização em 7 de março de 2020 às 12h10.
São Paulo — A cotação do petróleo caiu mais de 30% neste ano, mas talvez o pior ainda esteja por vir, em um mercado no qual o novo coronavírus reduz a demanda, alertam especialistas.
Para conter a queda de preços em meio a uma redução do consumo de petróleo no mundo, a Organização de Países Exportadores de Petróleo ( Opep ), reunida em Viena nesta semana, propôs a seus parceiros cortes adicionais de produção.
A ideia da Opep, apoiada pela Arábia Saudita, consistia em diminuir a extração diária da commodity em 1,5 milhão de barris até o fim do ano.
A Opep propôs inclusive que seus sócios de fora do cartel tivessem apenas um terço do corte.
Principal aliado do cartel de produtores, "a Rússia não mordeu a isca", avaliou Andrew Lebow, do Commodity Research Group, que lembrou que a economia russa, mais diversificada que a dos sócios da Opep, é menos dependente do petróleo.
Segundo maior produtor mundial de petróleo, atrás dos Estados Unidos e à frente da Arábia Saudita, A Rússia reduziu suas previsões orçamentárias para um barril a 42,4 dólares, e se mostra satisfeita com o atual nível dos preços.
Para os produtores russos, todo barril retirado do mercado representa uma redução da receita e o risco de ceder partes do mercado aos Estados Unidos, que inunda o planeta com seu petróleo de xisto.
Desde dezembro o corte de produção da Opep+ (o cortes e seus parceiros) chega a 1,7 milhão de barris diários, em um contexto de excesso de oferta.
'Terra arrasada'
Os Estados Unidos, concorrentes da Rússia, extraem 13 milhões de barris diários e exportam entre 3 e 4 milhões.
"Os russos decidiram levar adiante uma política de terra arrasada. Não veem nenhuma razão para apoiar os produtores americanos", explicou John Kilduff, da Again Capital.
Os Estados Unidos não são membros da Opep, portanto não estão submetidos a suas decisões.
Os cortes atualmente em vigor expiram no fim de março, e sua renovação agora parece incerta.
"Se não houver cortes adicionais, isso significa que o excedente de petróleo no segundo e no terceiro trimestre será mais significativo que o mercado antecipava", alertou Lebow.
Uma oferta abundante leva a uma baixa dos preços, e em Nova York alguns especialistas esperam o barril de WTI abaixo de 40 dólares.
"Acho que podemos ver os preços do petróleo em Nova York abaixo dos 40 dólares", opinou John Kilduff, da Again Capital. "Ainda não chegou o pior da crise de demanda".
Com o golpe sobre o crescimento econômico representado pelo coronavírus, os agentes do mercado esperam que a queda de preços do petróleo continue.
"Os riscos de recessão são fortes. Historicamente, as recessões fazem os preços do petróleo baixarem", lembrou James Williams, da WTRG-Economics, que considera que o consumo mundial da commodity vai diminuir em 4 milhões de barris no primeiro trimestre.
"A menos que a economia chinesa se recupere rapidamente, as consequências econômicas do vírus repercutirão em todo o mundo, em particular na Europa e nos Estados Unidos", avaliou Williams.