Vendedor toca buzina em comércio no Rio de Janeiro (REUTERS/Pilar Olivares)
João Pedro Caleiro
Publicado em 8 de julho de 2014 às 13h01.
São Paulo – A divulgação da taxa de inflação de junho pelo IBGE nesta manhã trouxe uma boa e uma má notícia.
A boa: a inflação continua desacelerando. Os 0,40% de junho vieram bem na linha do que o mercado esperava e são menos do que os 0,46% de maio. A taxa mensal não era tão baixa desde setembro do ano passado (0,35%).
A má: o IPCA já bateu o teto da meta no acumulado dos últimos 12 meses.
A regra é que a inflação deve perseguir um índice anual de 4,5% com tolerância de dois pontos percentuais para baixo (2,5%) ou para cima (6,5%).
Recentemente, o acumulado anual da inflação tem ficado constantemente perto desse teto, que foi estourado hoje, como já havia acontecido em março do ano passado.
A previsão dos economistas é que isso poderia acontecer por alguns meses - e vai acontecer de novo - mas que o ano ainda deve fechar abaixo do teto. O último boletim Focus prevê inflação de 6,46% no final de 2014.
"Se julho vier em 0,20%, o acumulado vai para 6,7%. A expectativa é que o acumulado volte para o teto da meta só em outubro ou novembro", prevê André Braz, do IBRE/FGV.
Não que a situação seja confortável: longe disso. A inflação persiste mesmo em um cenário de desaceleração da atividade e aumento de juros - que foram de 7,25% para 11% desde abril de 2013, em um ciclo de nove altas seguidas.
Além disso, o governo está reprimindo as tarifas de energia elétrica e impedindo o aumento de combustíveis da Petrobras, que está desalinhada com os preços internacionais (e sofrendo as consequências disso).
Se os reajustes tivessem sido permitidos, a inflação já teria estourado o teto faz tempo – e por isso, a previsão é que 2015 será um ano de forte ajuste, não importa qual seja o governo.
"Nossa previsão é que no ano que vem, a energia vai subir 17% - para compensar os custos acumulados com as térmicas e as distribuidoras - e o combustível, 10% - o suficiente para recuperar a defasagem", diz Adriana Molinari, economista da consultoria Tendências.
Copa do Mundo
Assim como as manifestações seguraram a inflação em junho do ano passado, um fator novo entrou para a análise neste mês, só que com efeito contrário: a Copa do Mundo, que começou no dia 12.
Passagens aéreas subiram 21,95% e diárias de hotéis subiram 25,33% no mês. Juntos, os dois itens puxaram para cima os grupos de “Transportes” e “Despesas Pessoais” e foram responsáveis por metade do IPCA final.
Das 13 cidades pesquisadas pelo IBGE, 9 são sedes da Copa, incluindo as 5 com maior inflação: Recife, Salvador, Brasília, Campo Grande e Belo Horizonte.
O movimento não é surpreendente e já havia sido antecipado por economistas, ainda que eles discordem sobre o tamanho do impacto.
Alguns acreditam que ele é pequeno e localizado; na visão do Banco Central, Copa e Olimpíadas colocam dois pontos inteiros na inflação por um longo período.
Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, "o aumento da Copa segue em julho, mas tende a ser uma coisa de uma vez só. A boa notícia é que o grupo alimentação finalmente começou a deflacionar, o que dá espaço para imaginar que a inflação vai ficar mais benigna no longo prazo.”
O grupo Alimentação e Bebidas é o de mais peso no IPCA (mais de 20%) e sofreu os efeitos da seca do início de ano. Agora, os índices de preço do produtor e do atacado estão em forte deflação, o que deve se refletir eventualmente nos preços do varejo.
"O trigo, por exemplo, está com uma previsão de safra ótima e tem impacto sobre uma grande família de derivados - pão francês, macarrão, biscoito, etc. Devemos ver o impacto disso em 2 ou 3 meses", completa Braz.