Como 4 economistas avaliam um ano de gestão Temer
Uma nova equipe e o encaminhamento das reformas trabalhista e da Previdência marcaram uma mudança radical na gestão da economia brasileira
João Pedro Caleiro
Publicado em 12 de maio de 2017 às 06h00.
Última atualização em 12 de maio de 2017 às 11h37.
São Paulo - Michel Temer completa nesta sexta-feira (12) um ano como presidente do Brasil.
Veja como 4 economistas avaliam o que aconteceu até aqui e as perspectivas de futuro:
Alexandre Schwartsman
Ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central
"Caso me perguntassem há um ano sobre as chances de reformas na área fiscal e trabalhista minha resposta seria impublicável. Aliás, se bem me lembro, fui perguntado e, precisamente por ser impublicável, a resposta talvez não tenha ido ao ar. Não importa: estava errado, pois, para minha surpresa, a atual administração avançou em áreas que governos patinaram.
É bem verdade que não começou bem e cometeu mais de um tropeço no caminho. Cedeu demais ao funcionalismo, aos estados, fantasmas que ainda irão nos assombrar em futuro não tão longínquo. Isto dito, acredito que a soma dos acertos (na área econômica, bem entendido) supera, com alguma folga, a dos erros.
A aprovação do teto constitucional de despesas pode marcar um novo momento na relação entre os setores público e privado, dependente, é claro, da aprovação da reforma previdenciária.
Com ele abriu-se a possibilidade de evitar uma espiral descontrolada da dívida, afastando o espectro da “dominância fiscal” e abrindo espaço para a queda da inflação e da taxa de juros, hoje nossa principal, senão única, esperança de retomada.
Falta muito ainda, mas, comparado à paralisia do governo anterior e às baixas expectativas em seu começo, a administração Temer deu passos importantes para colocar o país em ordem. Cabe agora à população dizer se quer se manter neste caminho, ou buscar algo diferente. Acredito na segunda opção, mas já errei há um ano."
Nelson Marconi
Professor de economia e coordenador executivo do Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV)
"O governo Temer começou acreditando que a melhoria da confiança seria o fator principal para a retomada do crescimento e que as reformas seriam o ponto de partida desse processo. Após um ano, a economia está estagnada no fundo do poço, tendo apenas interrompido a trajetória de queda, e o governo continua acreditando que a confiança, associada à redução da inflação e à melhoria das condições de produção, como a derrubada de entraves burocráticos, serão suficientes para um novo ciclo de expansão econômica.
Esses fatores são, com certeza, relevantes, mas não determinantes do crescimento. Uma crise de proporções como a atual somente será superada com estímulos à demanda via elevação dos investimentos. O desaquecido mercado interno e o endividamento de famílias e empresas inviabilizam a elevação da produção e a posterior ampliação da capacidade produtiva no setor privado. O reaquecimento também poderia ser acionado pelas exportações de bens industrializados, mas a valorização e a oscilação de nossa moeda com a qual os empresários continuam convivendo esvaiu essa possibilidade.
Restam os investimentos públicos, ou as concessões de obras públicas, essas últimas mais factíveis em função da situação fiscal do país. Essa é a única saída para a retomada do crescimento no cenário atual. O governo precisa acelerar esse processo se quiser vislumbrar um crescimento mais robusto no ano que vem."
Sérgio Vale
Economista-chefe da MB Associados
"Talvez o que fica claro de um ano de governo Temer é o quanto tempo se perdeu nos dez anos anteriores. Um presidente com baixa popularidade e assumindo naquelas condições conseguiu reorganizar boa parte do que havia sido negligenciado ou simplesmente desfeito. Não foi pouca coisa que se conseguiu em um ano e mostra as possibilidades para o país quando um presidente quer, de fato, fazer mudanças relevantes.
Desde a regra do teto, passando pela lei do pré-sal, a reforma do ensino médio, a lei de infraestrutura e o salto de qualidade no Banco Central até os dois símbolos do que têm sido o esforço do governo em colocar o país nos trilhos: as reformas trabalhista e previdenciária.
A conjunção de excepcional equipe econômica com a vontade política de mudar vai trazer resultados positivos na economia nos próximos anos. Assim como o “milagre” dos anos 70 e o crescimento dos anos 2000 tiveram muito das reformas estruturais que foram feitas nos anos anteriores, estão sendo criadas as bases para novo ciclo positivo à frente e com mudanças microeconômicas que ainda devem vir com a entrada de reforços nessa área na equipe econômica.
Não se pode perder a partir de agora o ímpeto reformista que o governo iniciou. Por isso, a eleição de 2018 será central para sabermos se o pouco que foi mudado continuará ou se o país escolherá voltar à era do pensamento mágico na economia da gestão Dilma e Lula."
Alberto Ramos
Chefe de pesquisa econômica do Goldman Sachs para a América Latina
"A realidade macroeconômica é hoje radicalmente diferente daquela que Temer herdou um ano atrás. Muito foi feito! Mas a batalha não está ganha. Muito mais necessita ser feito, por este e pelo próximo governo, na área fiscal e na formulação e aprovação de reformas estruturais, para consolidar e aprofundar alguns dos avanços que se registraram nos últimos 12 meses, e para elevar o ainda limitado potencial de crescimento.
A economia mostra hoje os primeiros sinais de estabilização depois de uma depressão histórica, fruto dos desequilíbrios macroeconômicos e distorções microeconômicas de um longo experimento populista/intervencionista.
A reconhecida competência das novas autoridades econômicas resgatou a credibilidade da política macro e contribuiu para a melhora dos indicadores de confiança. A recessão e o acertado conservadorismo do Banco Central na politica monetária contribuíram para: (1) baixar a inflação para níveis moderados (excelente presente, particularmente para o trabalhador assalariado); (2) realinhar as expectativas de inflação de curto e médio prazo com a meta; (3) ancorar o câmbio; (4) iniciar um processo gradual e possivelmente duradouro de corte de juros (nominal e real), e (5) criar condições para uma redução da meta de inflação em 2019 de forma crível.
Na área fiscal, o processo de consolidação tem sido lento e insuficiente, fruto da rigidez estrutural do gasto, debilidade da receita dada a recessão, e restrições politico-institucionais que não permitiram avançar mais decisivamente no curto prazo. O próximo governo ainda vai herdar quadro fiscal complicado e provavelmente não terá outra opção além de dar continuidade ao ajuste, o que provavelmente vai demandar cortes e possivelmente e infelizmente um novo aumento da carga tributária."