Economia

Comércio espera forte desaceleração no segundo semestre

Após crescer 7,5% até junho, estagnação da renda e do emprego esgotarão o modelo de aumento de vendas por meio da concessão de crédito, diz Fecomercio

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h04.

O comércio varejista não poderá contar com a expansão das vendas por meio da concessão de crédito nos próximos meses, porque a população já atingiu seu limite de endividamento. Com isso, após registrar um aumento real de faturamento de 7,5% no primeiro semestre na Grande São Paulo, os varejistas preparam-se uma forte desaceleração dos negócios até dezembro. Para a Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio), as vendas na região devem fechar com alta de 3,5% no acumulado do ano.

"Esse modelo de expansão sustentado no crédito está perto de se esgotar", diz Antonio Carlos Borges, diretor-executivo da Fecomercio. As maiores evidências, segundo Borges, vêm da pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor, que ouviu 1 000 consumidores em julho. Do total, 57% possuíam algum tipo de dívida (crediário, financiamento, etc). Além disso, 49% declararam ter contas atrasadas em, pelo menos, um dia. Em média, 37% da renda dos entrevistados estava comprometida com essas dívidas.

Os números são semelhantes aos de junho: total de endividados (56%), pessoas com contas em atraso (52%) e comprometimento de renda (39%). Para Borges, a própria semelhança entre os dados de julho e de junho mostra que a expansão do crédito chegou ao seu limite, pois a população não poderia elevar seu grau de endividamento por estar pressionada pelos elevados níveis de desemprego e pela perda do poder aquisitivo ao longo do ano. A última pesquisa sobre emprego e renda do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra, por exemplo, que a renda dos trabalhadores com carteira assinada acumula perda de 2% até junho, contra retração de 0,9% dos que trabalham por conta própria.

Para dezembro, a federação projeta uma deterioração ainda maior dos indicadores. O total de endividados deve cair de 70%, em dezembro do ano passado, para 57% no final do ano. O recuo indicaria que a população já não dispõe de renda livre para comprar a crédito. Já os endividados com contas em atraso devem subir de 33% para 44%, na mesma comparação sinal de maiores dificuldades econômicas para os consumidores. O comprometimento de renda com dívidas deve crescer de 32% para 38%.

Fatores negativos

Além da estagnação da renda e do nível de emprego, o presidente da Fecomercio, Abram Szajman cita outros fatores negativos para o comércio nos próximos meses. Um deles é o elevado nível de inadimplência nas carteiras de crédito. Segundo Szajman, isso dificulta que o comércio se beneficie das perspectivas de corte da taxa básica de juros (Selic). "A inadimplência tem um peso elevado, de 30% a 35%, nos custos de financiamento", diz.

A crise política, em sua avaliação, ainda não atrapalha os negócios. Mas, se fatos concretos envolvendo membros do Poder Executivo sobretudo, o presidente da República forem descobertos, Szajman teme por uma queda acentuada no índice de confiança do consumidor. "Por enquanto, eu não diria que a crise política atrapalha, mas nos preocupa", afirma.

Nem mesmo as festas de fim de ano serão capazes de conter a desaceleração, segundo Borges. A Fecomercio estima que este será o pior Natal desde 1994, com uma retração de 12% no faturamento de dezembro, sobre igual mês do ano passado. O dado é ainda mais preocupante, de acordo com Borges, quando se lembra que dezembro representa 33% do faturamento total dos lojistas no ano. O tíquete médio de vendas, que foi de 50,70 reais no ano passado, deverá cair para cerca de 40 reais no próximo Natal.

Setores

No primeiro semestre, os setores que mais cresceram foram os ligado ao crédito. As lojas de eletrodoméstico avançaram 14,1%; as de roupas, tecidos e calçados, 20,7%; e as concessionárias de veículos, 36,4%, entre outras. Já os supermercados, setor que mais sente os efeitos da renda sobre o consumo, encerraram junho com queda acumulada de 7%.

No acumulado do ano, as vendas de eletrodomésticos devem crescer 7,4%; eletroeletrônicos, 5,1%; concessionárias de veículos, 14,9%. Já os supermercados registrarão recuo de 4,6%, lojas de móveis e decoração (-3%), lojas de departamento (-1,3%).

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