Banco Central: relação entre reforma e corte de juros não é um consenso absoluto entre economistas (Ueslei Marcelino/Reuters)
Ligia Tuon
Publicado em 25 de abril de 2019 às 06h00.
Última atualização em 25 de abril de 2019 às 06h00.
O mercado retoma apostas - ainda incipientes - no corte da Selic em meio a sinais de avanços da reforma da Previdência no Congresso e deterioração da atividade neste começo de ano. A precificação embutida na curva de juros chegou a apontar nesta semana quedas marginais, de cerca de 1 ponto porcentual, em setembro e outubro, justamente os meses em que os analistas consideram possível ver a reforma aprovada na Câmara.
Até cerca de dois meses atrás, quando o mercado esperava uma aprovação menos demorada da PEC, as precificações indicavam possibilidade marginal de corte de juro entre maio e junho, que depois acabaram desfeitas pelos ruídos políticos entre Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia.
Agora, os investidores jogam essa aposta mais à frente, já que a maioria dos analistas acredita que uma queda da Selic só será possível com a redução do déficit da Previdência.
Esta relação entre reforma e corte de juros, porém, não é um consenso absoluto.
Para Rodrigo Borges, diretor de renda fixa e multimercado Franklin Templeton no Brasil, é possível uma redução do juro mais cedo, entretanto o Banco Central vai precisar de um sinal mais claro sobre a reforma, dúvida que só será desfeita no segundo semestre.
O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, vê a chance de uma redução da Selic entre julho e setembro, que estaria mais relacionada ao hiato do produto, com piora do mercado de trabalho, mostrada nesta quarta-feira pelo Caged abaixo do previsto, e pelos núcleos de inflação controlados. “A reforma está mais ligada ao juro estrutural, enquanto o corte da Selic está mais ligado à questão cíclica da economia”, diz Oliveira.
O economista concorda que uma não aprovação da reforma poderia impedir o corte da Selic, mas vê este cenário como improvável. Além disso, não considera que o BC vá esperar a conclusão da reforma caso a atividade siga piorando e a inflação continue ancorada às metas. Ele vê a economia brasileira crescendo apenas 1% no ano. Com isso, o desemprego tenderia a aumentar, pois a geração de emprego é insuficiente. “Isso exige uma resposta da política monetária.”
O Caged divulgado nesta quarta-feira mostrou que o Brasil perdeu 43,2 mil postos de trabalho em março, número muito pior que a estimativa, que era de criação de 80 mil postos. O dado vem na sequência de outros indicadores negativos do começo do ano, que levaram parte do mercado a prever um PIB negativo no 1º trimestre. O banco Itaú reduziu sua estimativa de expansão econômica de 0,3% para retração de 0,1% nos três primeiros meses do ano.