Arroz e feijão: por culpa do clima, produção caiu e preço subiram, afetando principalmente as pessoas de baixa renda (Dercílio / Saúde)
Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2016 às 08h22.
São Paulo - Pressionados por problemas climáticos, os preços do prato típico do brasileiro, o feijão com arroz, dispararam neste ano.
Isso dificulta a vida do consumidor, especialmente o de baixa renda, que, acuado pela recessão e pelo desemprego, cortou a compra de itens supérfluos no supermercado.
Só o feijão subiu 28%, em média, até maio, segundo pesquisa de auditoria de varejo da GfK, que coleta preços em pequenos e médios supermercados instalados em 21 regiões do País, entre capitais e cidades do interior.
O mesmo levantamento aponta que o arroz ficou 5% mais caro no período.
De acordo com o IBGE, que mede a variação nas capitais, o preço do feijão subiu 33,49% no ano até maio e 41,62% em 12 meses.
Mas já existe uma alta de preço do arroz no varejo encomendada. É que a cotação do saco de 50k do arroz tipo 1, em casca, atingiu R$ 44,52 na sexta-feira, o maior valor registrado no Rio Grande do Sul em quase 20 anos, segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
E parte do repasse acaba sendo inevitável, principalmente, porque ser um alimento básico.
"O freio no preço do arroz poderia vir da importação de países vizinhos", diz Athos Dias de Castro Gadea, gerente do Irga.
De toda forma, ele pondera que os problemas climáticos, por causa do fenômeno El Niño, que afetaram a safra do Rio Grande do Sul, o maior produtor do País, também prejudicaram a as lavouras de Uruguai e da Argentina.
Neste ano, o Rio Grande do Sul colheu 7,4 milhões de toneladas, com uma quebra de 16% em relação à safra passada.
Já a importação não é a saída para aliviar a alta de preços do feijão.
Os estoques oficiais do produto encontram-se em níveis muito baixos, 108 mil toneladas, e a importação do feijão preto, da China, não chegaria ao País em tempo hábil para completar a oferta, observa Carlos Alberto Salvador, engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura do Paraná.
O Paraná responde por 24% da colheita nas três safras de feijão e o Estado é o principal produtor.
Salvador explica que, por causa do clima, o Estado teve quebra de 14% na primeira safra encerrada em março e de 21% na segunda safra que acaba de ser colhida e que somou 318,2 mil toneladas. Já a terceira safra está sendo plantada.
Mas ela é insuficiente para reverter a alta de preço. "Vamos ter preços elevados do feijão até agosto", prevê.
Em maio, o preço médio recebido pelo produtor do Paraná pela saca de 60k do feijão em cores foi de R$ 228,21, mais que o dobro do que mesmo mês do ano passado (R$ 106,82).
Marco Aurélia Lima, diretor de auditoria de varejo da GfK, observa que em maio o feijão foi o alimento que registrou maior alta entre os alimentos básicos, subiu 6,94%, superado apenas pela batata (8,68%).
No entanto, a dificuldade é que esse alimento é de largo consumo, sobretudo entre os mais pobres. De acordo com a consultoria, cada família consome cerca de 3 kg de feijão por mês.
No varejo, o quilo chega hoje a R$ 12, conta o presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda.
Além do feijão com arroz, a pesquisa da GFK aponta também altas expressivas no ano até maio de outros produtos básicos, como farinha de mandioca (34,5%), leite longa vida (19,3%), açúcar (18,2%), ovo (7,7%), óleo soja (7,6%) e até carne de segunda (3,12%).
"Está ocorrendo uma migração da carne de primeira para carne de segunda", observa Honda, que atribui parte do aumento de preço da carne ao avanço da exportação.
O impacto da alta dos itens básicos deve ter reflexos na inflação deste mês. Para junho, a LCA Consultores espera uma inflação de 0,35%, em boa parte por causa da elevação dos preços do grupo alimentos e bebidas, que, ao lado do grupo habitação, deve puxar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para cima. Em maio o IPCA ficou em 0,78%.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.