Cisco diz que não há acusação formal contra executivos
Presidente, fundador e mais dois executivos da empresa foram presos pela PF por suposto esquema de sonegação
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h25.
A Cisco Systems, maior fabricante mundial de equipamentos para redes de internet e telecomunicações, informou que nenhuma acusação formal foi feita contra os executivos da empresa no Brasil que foram presos ontem pela Polícia Federal.
Pedro Ripper (presidente da Cisco no Brasil), Carlos Carnevali (fundador da unidade brasileira e ex-presidente na América Latina), Carlos Carnevali Jr. (gerente para desenvolvimento de negócios na América Latina) e Marco Sena (diretor de canais) foram detidos ontem por suposta participação em esquema fraudulento de importação de equipamentos montado para reduzir o pagamento de impostos.
Oficialmente a PF não confirma o nome dos funcionários presos durante a Operação Persona, que mobilizou ontem 650 agentes da PF, Receita Federal e Ministério Público Federal. No entanto, o Portal EXAME apurou que os quatro foram encaminhados ontem para a Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, onde devem prestar depoimento.
Também foram enviados para a sede da PF paulista toneladas de documentos e equipamentos apreendidos ontem, quando foram cumpridos 93 mandados de busca e 41 mandados de prisão. Uma sala de 60 metros quadrados foi reservada para abrigar esse material, que será analisado pela delegada Erika Nogueira. A PF não informou o conteúdo dos documentos nem dos depoimentos já realizados. No entanto, é com base nessas informações que a delegada poderá pedir a prorrogação da prisão temporária ou até mesmo requerer a prisão preventiva dos executivos da Cisco.
Em nota, a Cisco informa apenas que várias apreensões foram realizadas em seus escritórios no Rio de Janeiro e São Paulo - fechados temporariamente - e que "um pequeno número de funcionários foi detido". Procurada, a empresa se recusou a dar mais detalhes sobre a operação da PF.
A Cisco do Brasil faz parte da área de mercados emergentes, responsável por 10% de seu faturamento global. A empresa afirma que não possui operações de venda direta no Brasil e que seus produtos continuarão a ser comercializados por parceiros.
A companhia americana é uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. Com um faturamento de 35 bilhões de dólares estimado para este ano e um valor de mercado de 197 bilhões de dólares, a empresa, que tem sede em San Jose, no Vale do Silício, é uma das maiores histórias de sucesso da indústria tecnológica nos últimos dez anos. Seu crescimento acompanhou a explosão mundial da internet a partir de meados dos anos 90. A empresa fabrica roteadores, os equipamentos que fazem as conexões entre os computadores ligados à internet. Também é dona da marca Linksys, uma marca popular de roteadores sem fio usados em redes domésticas Wi-fi.
Prisões
Na operação de ontem, membros da diretoria da Mude, uma distribuidora de produtos da Cisco, também foram presos. Entre eles, estão Moacir Sampaio (sócio da Mude) e Fernando Grecco (diretor de marketing). Além disso, foram detidos seis auditores da Receita Federal suspeitos de facilitar a fraude. A PF pediu ainda ao governo dos Estados Unidos que prenda outras cinco pessoas em território americano.
Os envolvidos na fraude supostamente solicitavam produtos à Cisco por meio de empresas com sedes em paraísos fiscais (como Panamá, Bahamas e Ilhas Virgens Britânicas). O real importador do bem não aparecia. Com a utilização de notas fiscais falsas, os bens importados eram subfaturados, reduzindo o valor dos impostos recolhidos. No esquema de importação haveria dirigentes brasileiros da Cisco e de sua distribuidora em São Paulo, a Mude, que conseguiam abastecer o mercado nacional com seus produtos sem industrializá-los e sem participar formalmente de qualquer processo de importação. Segundo a PF, nos últimos cinco anos, o grupo teria importado de maneira fraudulenta produtos no valor de cerca de US$ 500 milhões, o que autuações fiscais de R$ 1, 5 bilhão.