Economia

Semana tem decisão sobre Selic; ciclo de queda divide grandes gestoras

Selic caiu para o patamar recorde de 6% em julho e o Banco Central preparou terreno para cortes adicionais; próxima reunião do Copom será na quarta-feira

Banco Central do Brasil (Gustavo Gomes/Bloomberg)

Banco Central do Brasil (Gustavo Gomes/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 16 de setembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 16 de setembro de 2019 às 06h00.

As maiores gestoras independentes de fundos multimercados do Brasil estão divididas sobre se a recente alta do dólar -- aliada a um cenário global mais hostil -- poderia limitar o atual ciclo de cortes na taxa básica de juros.

A Selic caiu para o patamar recorde de 6% em julho e o Banco Central preparou o terreno para cortes adicionais. Embora os economistas esperem, em sua maioria, uma redução de 1 ponto porcentual até o fim do ano, alguns gestores estão dispostos a apostar que a taxa pode cair abaixo de 5%.

A Kapitalo Investimentos, por exemplo, montou uma pequena posição aplicada em taxas nominais, dizendo que a queda nas expectativas de inflação oferece flexibilidade para corte adicional. A SPX, no entanto, disse que o enfraquecimento da moeda brasileira indica que há limites para até onde a Selic pode ir -- e zerou as apostas em juros.

A posição aplicada da Gauss Capital nos juros mais curtos “é uma posição que consome pouco risco, pelo tamanho, mas que tem um potencial de surpresa positiva bem interessante”, disse Carlos Menezes, sócio e gestor da Gauss.

Na mesma entrevista, Gustavo Pessoa, sócio-fundador e gestor da Legacy Capital, disse que a casa zerou sua posição dada em juros.

Em sua maioria, os principais gestores brasileiros apostam na alta da bolsa, mas a Adam Capital mantém sua visão neutra, pois avalia que o país não será capaz de se desvencilhar do cenário global.

Veja o que disseram os gestores em suas cartas de agosto:

SPX

  • Gestora zerou sua aposta em juros brasileiros, dizendo que “existem limites para onde a taxa Selic pode cair”
  • Revisões recentes no crescimento aumentaram pressão sobre componente fiscal; ciclo de flexibilização reduz apelo da moeda
  • Gestora espera uma discussão “longa, mas promissora” sobre propostas de reforma tributária, um dos próximos itens da agenda do presidente Jair Bolsonaro para reduzir o tamanho do estado e fortalecer as contas fiscais
  • Link para a carta

Verde Asset Management

  • Fundo aumentou sua posição em ações no Brasil e sua posição vendida em dólar contra o real usando opções
  • Vê mais oportunidades para aumentar risco do que reduzir, mas diz que “complexidade do ambiente nos mantém permanentemente de sobreaviso”
  • Verde vê “algum impacto potencial negativo” nas relações externas do país com recente nova rodada de declarações “inusitadas” por parte de Bolsonaro, especialmente no tema ambiental
  • Impactos econômicos da crise na Argentina para o Brasil são pequenos -- dado que país já perdeu muito peso após a recessão do ano passado --, mas não são irrelevantes
  • Link para a carta

Adam Capital

  • Brasil está em início do ciclo, mas não será capaz de se desvencilhar do cenário global
  • Acirramento da guerra comercial já causou danos irreparáveis às cadeias globais de produção e ativos brasileiros refletiram o cenário internacional
  • “Após anos de integração, a reversão desse processo gerará incertezas e custos para empresas e consumidores em todo o mundo nos próximos anos”
  • Adam mantém visão neutra em relação à bolsa local
  • Link para a carta

Kapitalo

  • Apesar da forte depreciação do real em agosto, as expectativas de inflação continuam sendo revisadas para baixo, dando flexibilidade ao BC para prosseguir com a flexibilização monetária
  • Kapitalo manteve uma pequena posição aplicada em juros reais e abriu uma pequena posição aplicada em juros nominais no Brasil em agosto
  • Recuperação da economia brasileira continua bastante lenta e os indicadores para o terceiro trimestre sugerem fraqueza
  • Há bastante espaço para venda líquida de dólar, em swaps ou reservas, por parte do BC
  • Link para a carta

Bahia Asset

  • Gestora reduziu posições com viés otimista e se concentrou em posições de valor relativo, dado o ambiente de atividade global altamente incerto
  • Incertezas comerciais aumentaram probabilidade de recessão global, mas este continua não sendo o cenário base da gestora
  • Bahia Asset reduziu exposição direcional comprada na bolsa brasileira e posição vendida em bolsa americana
  • Há sinais positivos para a agenda de reformas pós-Previdência
  • Link para a carta

Legacy Capital

  • Teto de gastos é maior desafio fiscal a partir de 2020
  • Otimista com cenário local, cauteloso com externo
  • Posição vendida no S&P 500, comprada em ações no Brasil
  • Link para a carta

Gauss Capital

  • Gestora segue confiante na aprovação da reforma da Previdência no Senado ainda neste ano
  • “Sendo assim, mantivemos nosso posicionamento otimista na bolsa, no real e nos juros locais, sobretudo na região curta da curva haja vista o início do ciclo de corte de juro”
  • Link para a carta
Acompanhe tudo sobre:Banco CentralBloombergCopomJurosPolítica monetáriaSelic

Mais de Economia

‘Se você pretende ser ‘miss simpatia’, seu lugar não é o Banco Central’, diz Galípolo

Rui Costa fala em dialogar com o mercado após dólar disparar: 'O que se cobrava foi 100% atendido'

Lula chama corte gastos de 'medida extraordinária': 'Temos que cumprir o arcabouço fiscal'