China vê interdependência econômica com UE e mantém auxílio
"A China continuará fazendo sua parte para ajudar a resolver o problema da dívida europeia pelos canais adequados", enfatizou Wen Jiabao
Da Redação
Publicado em 20 de setembro de 2012 às 17h46.
Bruxelas - O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, tranquilizou nesta quinta-feira os parceiros da União Europeia ao afirmar que seu país continuará contribuindo para aliviar a crise da dívida da zona do euro, e reconheceu que as economias da China e da União Europeia (UE) são interdependentes.
"A China continuará fazendo sua parte para ajudar a resolver o problema da dívida europeia pelos canais adequados", enfatizou Wen diante de dirigentes de grandes empresas europeias e chinesas.
A 15ª reunião de cúpula entre a UE e China, realizada hoje em Bruxelas, foi a décima em que Wen participou e também a última antes da mudança de liderança em seu país, previsto para os próximos meses.
O primeiro-ministro chinês lembrou que, nos últimos meses, a China "continuou investindo nos bônus dos países da eurozona e do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), e discutindo ativamente formas de cooperação com o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE)", o futuro instrumento de resgate permanente.
Também lembrou que, prestes a solucionar o problema europeu da dívida, Pequim vem dando um "apoio firme e forte" à Europa desde fevereiro e que na cúpula do G20 em junho decidiu contribuir com US$ 43 bilhões para que o Fundo Monetário Internacional (FMI) aumentasse seus recursos a fim de "enfrentar a crise europeia".
Wen considerou que a UE "está indo por um bom caminho" e pediu para "ficarem unidos" enquanto os Estados-membros da UE aplicarem as medidas de consolidação fiscal e as reformas estruturais necessárias para devolver a estabilidade a suas economias.
"A China precisa da UE para seu desenvolvimento e a UE precisa da China para seu desenvolvimento", resumiu, acrescentando: "A crise não modificou a complementaridade (entre as duas partes), mas aprofundou nossa interdependência".
Tanto Van Rompuy quanto o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, enfatizaram que tanto a eurozona como o Banco Central Europeu (BCE) "estão dispostos a tomar as medidas necessárias" para solucionar a crise da dívida.
Apesar da importância da interdependência econômica entre ambas as partes, a relação entre a UE e China não está livre de tensões.
De fato, a cúpula aconteceu pouco depois que a UE decidiu abrir uma investigação das importações chinesas de painéis solares ao considerar que são subsidiadas ilegalmente, atitude que incomodou Pequim.
Finalmente, ambas as partes sublinharam a necessidade de evitar o protecionismo, mas os europeus insistiram na importância de um mercado chinês de compras públicas aberto e em igualdade de condições.
Tanto a UE como a China se comprometeram a trabalhar para iniciar a negociação de um tratado bilateral de proteção dos investimentos, o que hoje a patronal europeia voltou a reivindicar.
Por sua vez, Wen "lamentou profundamente" que a UE ainda não tenha reconhecido o status da China de economia de mercado, o que permitiria eliminar algumas das barreiras comerciais impostas contra a China por concorrência desleal ("dumping").
Também reprovou que a Europa ainda não tenha suspendido o embargo de armas que impôs ao gigante asiático, há mais de 20 anos, após o massacre de estudantes na praça de Praça da Paz Celestial pelo exército chinês - assunto que mencionou em seu primeiro discurso na cúpula, mas que não voltou a abordar na reunião, segundo fontes comunitárias.
Justamente, outro tema espinhoso na relação dos 27 Estados com a China são os direitos humanos.
Em comunicado conjunto após a cúpula, Van Rompuy e Barroso disseram que discutiram com a delegação chinesa a situação dos direitos humanos no país, e destacaram especialmente as restrições à liberdade de expressão e a situação do Tibete.
Também manifestaram preocupação com a "tragédia humanitária" na Síria e pediram à China, como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, que "dobre seus esforços" para permitir a aprovação de uma resolução que contribua para uma solução da crise síria.
A UE e a China ainda assinaram quatro acordos em relação a inovação, concorrência, espaço e economia sustentável.