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China muda discretamente a retórica na guerra comercial com EUA

China pode estar tentando ganhar tempo e problemas domésticos e internacionais podem convencer Xi Jinping a escolher uma estratégia de menor confronto

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e presidente da China, Xi Jinping, durante cerimônia em Pequim (Thomas Peter/Reuters)

João Pedro Caleiro

Publicado em 13 de julho de 2018 às 14h41.

Última atualização em 13 de julho de 2018 às 14h47.

Autoridades em Pequim parecem estar suavizando as respostas às ameaças de Donald Trump na forma de tarifas de importação. O país asiático enfrenta desaceleração da economia, queda das ações e depreciação cambial.

Nesta quinta-feira, surgiram mais evidências dessa mudança. O Ministério do Comércio preferiu não detalhar como planeja retaliar a última ameaça do presidente americano, de impor tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses.

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O porta-voz Gao Feng declarou que o governo tomará as medidas “necessárias” para revidar, mas quando pressionado, não chegou a repetir a promessa anterior de reagir com medidas “quantitativas” e “qualitativas”, nem especificou os passos que a China tomaria para retaliar.

A discreta mudança de tom sugere que a China pode estar tentando ganhar tempo, visando retomar negociações paralisadas e chegar a uma solução que limitaria a necessidade de impor medidas punitivas que poderiam lesar a própria economia local. Problemas domésticos e internacionais podem convencer o presidente Xi Jinping a escolher uma estratégia de menor confronto.

“A China pode estar migrando gradualmente do atual modo de retaliação recíproca na direção de uma retaliação controlada e seletiva”, disse Chang Jian, economista-chefe para o país no Barclays em Hong Kong.

Representantes da China e dos EUA abriram a possibilidade de retomar as conversas, mas não se tem notícia de decisões concretas neste sentido. Na quarta-feira, o vice-ministro do Comércio, Wang Shouwen, declarou que “quando temos um problema comercial, devemos conversar sobre isso”.

Embora o comentário tenha sido feito ao mesmo tempo em que Pequim fazia novas ameaças, a postura corresponde à inclinação da equipe de Trump de reabrir as negociações entre o alto escalão, de acordo com uma pessoa a par dos planos do governo americano.

Analistas também ressaltaram que o governo dos EUA cedeu ao permitir que a ZTE voltasse a fazer negócios com fornecedores americanos, suspendendo uma proibição de sete anos. A empresa chinesa foi acusada de violar sanções ao vender tecnologia americana para o Irã e a Coreia do Norte. A proibição forçou a ZTE a anunciar que fecharia as portas.

A Casa Branca também escolheu uma abordagem mais branda no tocante às restrições aos investimentos chineses nos EUA.

No entanto, não há sinais óbvios de um grande avanço. Tanto na China quanto nos EUA, há pressão política interna e nada indica que o governo americano dará menos atenção às ambições chinesas de criar uma economia de alta tecnologia com apoio estatal.

Ou seja, a situação é instável.

A China importou US$ 130 bilhões em produtos chineses no ano passado — menos de um terço do valor comprado da China pelos EUA. Isso complica a resposta de Pequim à última ameaça de Trump porque, em uma guerra comercial, a China não poderia impor tarifas proporcionais em dólares.

O impacto do conflito deve aparecer em indicadores da economia chinesa que saem nos próximos dias. Dados de comércio internacional em junho serão publicados nesta sexta-feira e o PIB do segundo trimestre será divulgado na segunda. A expectativa já era de desaceleração econômica neste ano, mesmo antes do agravamento da tensão comercial.

“Claramente não é do interesse da China entrar em um conflito econômico cada vez mais intenso com os EUA, que será prejudicial ao crescimento chinês”, disse Edward Alden, especialista em comércio no Conselho de Relações Internacionais em Washington. “Acho que os chineses deveriam buscar todos os caminhos possíveis para encontrar um meio-termo.”

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