Economia

Candidatura de Ilan Goldfajn à presidência do BID volta a ganhar força às vésperas das eleições

Países escolherão presidente da entidade, que no ano passado emprestou US$ 23,4 bilhões em financiamentos, no domingo. Nunca nenhum brasileiro comandou a instituição em seus 60 anos

 (Germano Lüders/Exame)

(Germano Lüders/Exame)

AO

Agência O Globo

Publicado em 18 de novembro de 2022 às 16h04.

A candidatura de Ilan Goldfajn — ex-presidente do Banco Central (BC) e atual diretor licenciado do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI) — à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) voltou a ganhar força às vésperas das eleições, que ocorrerão no domingo. Os sinais da equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que não vão se opor ao seu nome fortaleceram a candidatura.

Ilan foi indicado para o cargo pelo atual governo, do presidente Jair Bolsonaro. As eleições para o BID ocorrem no próximo domingo. Ele concorre com outros quatro candidatos.

O novo posicionamento da equipe de transição gerou boa vontade dos demais países membros, que na semana passada receberam uma mensagem do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para tentar adiar a eleição, para que ela ocorresse já quando Lula estivesse no Planalto. O pedido foi negado pelo BID.

Depois desse episódio, Mantega deixou a equipe de transição. Antes disso, Celso Amorim, ex-chanceler que comanda a área de relações internacionais da equipe de Lula, deu entrevista afirmando que o presidente eleito “não se opõe” ao nome de Ilan.

Após a tentativa de Mantega de adiar as eleições, ganharam força os candidatos do Chile, Nicolás Eyzaguirre, ex-ministro da Fazenda dos governos de Ricardo Lagos e Michelle Bachelet; e do México, Gerardo Esquivel Hernández, vice-presidente do Banxico, o BC mexicano. Entretanto, o novo posicionamento da equipe de Lula voltou a dar força para a candidatura de Ilan.

A Argentina também nomeou Cecilia Todesca Bocco como candidata, assim com o Trinidad e Tobago colocou o nome de Gerard Johnson.

A eleição, no domingo, deve ter dois turnos, devido às regras do banco. Para vencer, o candidato precisa ter obter três quesitos: mais de 50% do poder de votos; 15 dos 28 votos de países da região; e 25 dos 48 votos totais. O BID tem 48 países membros, inclusive nações doadoras, como europeus e asiáticos.

Quando se considera o critério 50% do poder dos votos, a peso de cada país é o seguinte: os EUA têm 30% do poder de voto, seguido por Brasil e Argentina (10,75% cada um), México (6,91%), Venezuela (5,76%), Canadá (4%), Chile e Colômbia (2, 95% cada um).

Mas, mesmo considerando o peso de EUA, Brasil e Argentina, como é preciso cumprir os demais requisitos e as nações caribenhas votam em bloco, é quase impossível conquistar 15 dos 28 votos no primeiro turno das eleições, por mais que o candidato tenha apoio dos grandes países.

O Brasil nunca comandou a entidade, que tem mais de 60 anos. No ano passado, o BID desembolsou US$ 23,4 bilhões em financiamentos, um recorde em sua história. O BID já foi chefiado por um chileno, um mexicano, um uruguaio, um colombiano e, mais recentemente, um americano - Mauricio Claver-Carone, indicado no governo Donald Trump e que deixou a instituição em setembro por recomendação da diretoria executiva do banco após denúncias de relacionamento inapropriado com sua chefe de gabinete.

Nascido em Israel mas crescido no Rio, Ilan é formado pela UFRJ e tem doutorado pelo MIT (EUA). Ele disse ao GLOBO, em sua primeira entrevista desde que assumiu sua candidatura ao BID, que acredita que o cenário global turbulento, com alta de juros e desafios ambientais, reforça a importância do BID, ao mesmo tempo em que amplia as vantagens para a América Latina. Ele disse ainda que o Brasil poderia retomar seu papel de liderança.

- A região pode se posicionar como parte da solução dos atuais problemas globais - afirmou, citando a pandemia, a invasão russa à Ucrânia, os desafios energéticos e a busca de americanos e europeus de reduzirem a dependência chinesa.

- É uma região relativamente pacífica sob o ponto de vista dos grandes conflitos globais. Mas esta posição estratégica não está garantida, depende de investimentos, alívio de gargalos e reforço às instituições para estabelecimento de ambientes econômicos amigáveis - complementou na ocasião.

Na sabatina aos governadores do BID (os ministros da Fazenda dos países que fazem parte do banco), realizada no último domingo, defendeu temas como ação contra as mudanças climáticas e a redução da pobreza. Ele disse que é fundamental alcançar um crescimento equitativo, sustentável e inclusivo, considerando que a extrema desigualdade é um dos principais problemas da região, ao lado da baixa produtividade, da infraestrutura deficiente e da fraca capacidade de ação dos governos.

Ele também destacou o papel do BID para preservar "o espírito de cooperação" na América Latia e Caribe e da região com o resto do mundo. Ilan disse ainda que o BID ocupa uma posição estratégica para apoiar políticas públicas voltadas à igualdade e diversidade, particularmente em educação, saúde e acesso a empregos formais.

Acompanhe tudo sobre:Banco Interamericano de DesenvolvimentoIlan Goldfajn

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto