Economia

Canadá mira uísque e papel higiênico em guerra tarifária com EUA

As tarifas são esmagadoramente populares no Canadá, segundo pesquisas, mas trazem inquietação porque os preços de centenas de produtos podem aumentar

As negociações para o NAFTA estagnaram (Jonathan Ernst/File Photo/Reuters)

As negociações para o NAFTA estagnaram (Jonathan Ernst/File Photo/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 29 de junho de 2018 às 15h54.

Última atualização em 29 de junho de 2018 às 15h58.

De papel higiênico a lanchas, o Canadá está revidando o ataque de Donald Trump em seu feriado nacional.

No feriado pelos 151 anos do Canadá, o primeiro-ministro Justin Trudeau aplicará tarifas a cerca de 16,6 bilhões de dólares canadenses (US$ 12,6 bilhões) em produtos importados dos EUA em resposta às tarifas americanas ao aço e ao alumínio do Canadá, que entraram em vigor há um mês.

As tarifas provavelmente não afetarão o crescimento do Canadá, nem aumentarão a inflação global, mas se somam à crescente tensão entre dois dos maiores parceiros comerciais do mundo.

As negociações para um novo Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês) estagnaram e Trump ameaçou impor tarifas adicionais aos automóveis. O Canadá, por sua vez, prepara novas tarifas já para a próxima semana para importações de aço que não sejam dos EUA para evitar dumping.

“É lamentável que tenhamos que participar desse tipo de guerra comercial retaliatória, mas o sr. Trump nos força a fazer isso”, disse o advogado especializado em comércio Lawrence Herman, de Toronto, em entrevista por telefone. “O Canadá não tem outra escolha a não ser responder segundo as regras do comércio internacional.”

Trudeau liderará as celebrações do Dia do Canadá visitando alguns campos de batalha comerciais no domingo: uma cidade do sul de Ontário perto da fronteira com os EUA antes famosa pelo ketchup Heinz e uma usina siderúrgica em Saskatchewan. Em ambos os casos, ele se reunirá com os trabalhadores.

As tarifas propostas pelo primeiro-ministro aos produtos americanos abrangem um grande leque de produtos, como aço, alumínio, uísque, mostarda, papel higiênico, máquinas de lavar, lanchas -- e até xarope de bordo (o maple syrup). As taxas serão de 25 por cento para o aço e de 10 por cento para todo o resto.

Inicialmente, o governo havia identificado possíveis tarifas de 19,4 bilhões de dólares canadenses em produtos, mas reduziu a lista após consultas. A lista final de tarifas foi revelada nesta sexta-feira, tendo sido eliminados itens como barris de cerveja e mostarda, juntamente com 2 bilhões de dólares canadenses em apoio às indústrias domésticas de aço e alumínio.

As tarifas são esmagadoramente populares no Canadá, segundo a maioria das pesquisas, mas trazem certa inquietação porque os preços de centenas de produtos podem aumentar.

Scott Brundle, chefe de vendas da Town & Country Marine em Lakefield, Ontário, disse que as tarifas aplicadas aos barcos assustarão os compradores.

“Isso afetará bastante os nossos negócios”, disse Brundle, acrescentando que o nível do estoque é menor do que o que ele gostaria e que está reduzindo os pedidos e trabalhando com os fornecedores para encontrar formas de viabilizar vendas. Entre as fabricantes norte-americanas que vendem no Canadá estão a Larson Boats, de Minnesota, e a Brunswick, de Lake Forest, Illinois.

Mesmo assim, o impacto econômico da última guerra de tarifas é mínimo em comparação com algumas outras questões comerciais iminentes entre o Canadá e os EUA: possíveis tarifas para automóveis e ameaças de cancelamento do Nafta. Trump e Trudeau entraram em confronto recentemente e o presidente americano alertou que o Canadá pagará por isso.

Acompanhe tudo sobre:CanadáDonald TrumpEstados Unidos (EUA)Guerras comerciaisJustin Trudeau

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor